Li diversos artigos do livro produzido pela Casa das Garças (ninho de tucanos cariocas) com debates sobre a desindustrialização. Alguns deles têm a fosforescência ilusória do rigor matemático, mas são inabordáveis e inúteis. Outros expõem o tema de modo a induzir duas conclusões: o futuro da indústria no Brasil (título do livro) é incerto, porque o fenômeno da desindustrialização é complexo e todos os problemas seriam sanados se houvesse uma derrubada dos salários.
Que a questão é complexa não precisamos dos estudos; basta olhar em volta. Que o ajuste tem que ser feito baixando salários (e se possível criando desemprego e recessão) estamos roucos de ouvir dos rentistas e seus divulgadores que se contrapõem em definitivo à política de crescimento, distribuição de renda e arbitragens sucessivas que enfraquecem a jurolândia. Não deixa também de haver, no receituário neoliberal enfraquecido, uma intenção oposicionista que mal se disfarça.
E, no entanto, é preciso agir para mudar o que anda acontecendo de errado na indústria.
Além dos temas do atacado como juros e câmbio, além das desonerações e incentivos no varejão, é preciso agir – e o movimento sindical tem demonstrado estar disposto a isso – para obter:
1) Um fundo especial de garantia de emprego nos moldes do existente na Alemanha;
2) Atenção emergencial às pequenas e médias empresas que têm sofrido as mais fortes pressões negativas e não têm as melhores condições efetivas de resistência (quaisquer oscilações negativas provocam imediatamente quebradeira e demissões);
3) Contrapartidas específicas que favoreçam os trabalhadores, controladas pelos Sindicatos e que, além de garantir o emprego, o aumento salarial e a diminuição da rotatividade, induzam à qualificação dos trabalhadores;
4) Rediscussão, principalmente no complexo automotivo, das cláusulas do conteúdo nacional, exigindo porcentagens que correspondam às realidades físicas e não apenas à contabilidade;
5) Diálogo tripartite constante entre empresários, trabalhadores e governo, mas principalmente sensibilidade presidencial para ouvir os dirigentes sindicais, como tem sido feito com representantes empresariais e economistas.
* por João Guilherme Vargas Netto, membro do corpo técnico do Diap e consultor sindical do SEESP
Imprensa – SEESP