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29/04/2013

Brasil tem tecnologia para promover revolução na citricultura

A citricultura brasileira poderá ser palco de uma importante transformação nos próximos anos, com a incorporação de conhecimentos avançados em melhoramento genético e genômica. As pesquisas estão bastante adiantadas, disponibilizando novas variedades, mais resistentes às doenças e à seca.

O sistema produtivo, no entanto, ainda reage com lentidão às novidades, de acordo com Marcos Antonio Machado, coordenador do Instituto Nacional de Ciência e Tecnologia de Genômica para o Melhoramento de Citros (INCT-Citros), apoiado pela Fapesp (Fundo de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo) e pelo CNPq (Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico).

“Nossos produtores atendem prioritariamente à indústria de sucos e a indústria está mais interessada em quantidade de fruta do que em qualidade”, disse o pesquisador do Centro de Citricultura Sylvio Moreira do Instituto Agronômico, ligado à Agência Paulista de Tecnologia dos Agronegócios da Secretaria de Agricultura e Abastecimento do Estado de São Paulo.

“O Consórcio Internacional do Genoma de Citros, do qual participamos, já obteve o genoma completo da clementina (Citros clementina), utilizado como genoma de referência para comparação com os genomas de outras espécies de citros, entre elas, a laranja-pera, a mais importante variedade de laranja brasileira, a tangerina ponkan e o limão-cravo, também utilizado como porta-enxerto. O INCT-Citros detém atualmente uma das mais importantes bases de dados sobre o genoma de citros”, disse.

No estudo dos patógenos das doenças que afetam os citros, os avanços não têm sido menores. Depois dos sequenciamentos históricos dos genomas das bactérias Xylella fastidiosa (responsável pela clorose variegada dos citros) e Xanthomonas citri subsp. citri (responsável pelo cancro cítrico), concluídos no início dos anos 2000 com apoio da Fapesp, outros patógenos de citros estão sendo sequenciados, como os fungos causadores da pinta preta, da mancha marrom de alternaria e da queda prematura dos frutos, além do oomiceto causador da gomose.

“Nesses casos, graças aos avanços ocorridos na genômica, estamos não somente montando esses genomas, mas também avaliando a função de genes envolvidos na interação com as plantas hospedeiras”, disse Machado, um dos pesquisadores do programa Genoma-Fapesp.

Segundo o pesquisador, essas e outras aquisições criaram uma massa crítica de conhecimentos capaz de favorecer tanto a cisgenia (transformação com genes de espécies próximas) como o melhoramento tradicional.

“A produção de citros transgênicos já é científica e tecnologicamente viável, mas depende de regulamentação. Ao mesmo tempo, os mapas genéticos que levantamos permitem identificar genes marcadores com os quais podemos calibrar a seleção genética tradicional, de forma que os genótipos selecionados correspondam precisamente aos fenótipos de interesse”, disse.

Nivelamento por baixo
Machado explica que novas potenciais variedades de copas e porta-enxertos com alta tolerância à seca e a doenças como clorose variegada dos citros, gomose, cancro cítrico e pinta preta já estão disponíveis. Mas, por uma característica do setor, o processo de incorporação tecnológica pelos produtores se dá muito lentamente. “Daqui a algum tempo, todos correrão atrás dessas variedades melhoradas, assim como hoje recorrem maciçamente a espécies selecionadas décadas atrás.”

Maior produtor de laranja e exportador de suco, responsável por atender 53% do consumo mundial, o Brasil ainda não possui, na opinião dos especialistas, uma citricultura satisfatória. O rendimento das plantações é considerado muito baixo, com produtividade média de apenas duas caixas de 40,8 kg por árvore ao ano.

Os grandes gargalos são, pela ordem, a alta incidência de pragas e doenças, a produção em áreas não irrigadas e a estreita base genética utilizada. “Estima-se que mais de 60% dos custos de produção sejam direcionados para o controle de pragas e doenças”, disse Machado.

Entre as principais doenças, destacam-se a clorose variegada dos citros, a leprose, a pinta preta, a mancha marrom de alternaria, a morte súbita, o cancro cítrico, a gomose, a tristeza e, mais recentemente, o huanglongbing, ou greening.

“A maior parte dos modelos de manejo desses patógenos e de alguns vetores, incluindo o controle químico por meio de defensivos, falhou, devido aos altos impactos econômicos e ambientais”, afirmou o pesquisador, enfatizando que isso faz aumentar ainda mais a importância de estudos sobre melhoramento genético tradicional e cisgenia, como estratégias poderosas e duradouras para o controle de doenças.

Por isso, o INCT-Citros se organizou em três plataformas diferentes, mas complementares: a plataforma voltada à geração de informações genômicas (genomas completos, transcriptomas e proteomas); a plataforma voltada à aplicação de parte dessas informações genômicas no melhor entendimento da relação entre os citros e seus patógenos; e a plataforma voltada à aplicação dessas informações genômicas no melhoramento tradicional.

Diferentemente da citricultura europeia, que se dedica à produção de frutos de alta qualidade para o consumo in natura, em um mercado exigente, a citricultura brasileira ocupa-se majoritariamente do fornecimento de matérias-primas para a indústria de sucos.

Essa destinação dos produtos, que, por si só, nivela a qualidade por baixo, associa-se à pulverização da produção – só no Estado de São Paulo, líder do setor, existem de 8 mil a 9 mil produtores. E esses dois fatores explicam a lentidão do processo de incorporação tecnológica.

“Não basta ter bons materiais. É preciso trabalhar também por sua difusão e adoção, o que pode ser favorecido por políticas governamentais de informação e convencimento”, disse Machado.

 

Imprensa – SEESP
Fonte: Agência Fapesp de Notícias




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