Foi preciso que o caos se instalasse com vigor no sistema viário das cidades da Baixada Santista para que a Companhia Docas do Estado de São Paulo (Codesp) viesse a tentar estabelecer um ordenamento no tráfego de caminhões que entram e saem dos 42 terminais do Porto de Santos. Com isso, o que se espera é que os gigantescos congestionamentos que têm ocorrido na região não venham a se repetir, pelo menos em dimensões tão alarmantes.
De acordo com resolução da Codesp, os terminais portuários que não possuem um sistema de monitoramento de tráfego já conectado ao da empresa estatal terão de se adequar e informar, virtualmente e em tempo real, a movimentação prevista e executada. Se a medida será suficiente para evitar a repetição dos congestionamentos-monstros, não se sabe, mas já constitui um começo.
Além disso, os pátios reguladores Ecopátio e Rodopark estão obrigados a colocar painéis de sinalização nos caminhões-graneleiros para facilitar a atuação da Polícia Rodoviária que permitirá a passagem do veículo às vias de acesso ao Porto se este estiver devidamente identificado, com o anúncio de origem e destino. Com a aproximação do período de escoamento das safras de açúcar e milho, são ainda muitas as incertezas quanto às possibilidades desse monitoramento e controle virem a funcionar a contento.
É de lembrar que a regulamentação da Codesp prevê ainda que todos os caminhões que transportem produtos agrícolas passem pelos pátios reguladores. Isso significa que os donos das cargas estão obrigados a agendar todo caminhão nesses bolsões de ordenamento de tráfego, o que, em contrapartida, obriga o terminal a assumir o compromisso de reservar espaço para que o veículo possa descarregar com hora marcada.
Em tese, o novo sistema permitirá à Codesp gerenciar melhor o tráfego, mas, de antemão, já se sabe que, mesmo com o ordenamento das operações de carga e descarga, há um obstáculo de dimensões ciclópicas pela frente: a precariedade dos acessos viários ao porto. Abandonada há décadas pela União e pelo governo do Estado, a infraestrutura viária do Porto carece de obras urgentes que incluam a ampliação de rodovias, construção de pontes, túneis e viadutos, a conclusão das avenidas perimetrais e a remodelação da entrada da cidade de Santos.
Para se ter uma idéia da morosidade com que as obras públicas saem do papel – quando saem... –, notadamente no Porto de Santos, basta ver que só agora, passada uma década do primeiro projeto para a construção de uma passagem subterrânea em frente aos armazéns do Valongo, o chamado Mergulhão, terão início os estudos para a caracterização do solo da área. Esses estudos levarão mais 13 meses para serem concluídos, o que significa que as obras só terão início efetivamente no segundo semestre de 2014.
Mas é bem provável que, ao soar do trabalho da primeira escavadeira, sejam encontrados vestígios da povoação pioneira que se formou em torno do antigo Cais do Consulado. Nesse caso, o Conselho de Defesa do Patrimônio Histórico, Arqueológico, Artístico e Turístico (Condephaat) terá de se manifestar e as obras serão embargadas para que os arqueólogos venham a fazer um levantamento minucioso do local. Portanto, quando as obras serão concluídas só Deus o sabe.
* por Milton Lourenço é presidente da Fiorde Logística Internacional e diretor do Sindicato dos Comissários de Despachos, Agentes de Cargas e Logística do Estado de São Paulo (Sindicomis) e da Associação Nacional dos Comissários de Despachos, Agentes de Cargas e Logística (ACTC)
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