Se tudo correr dentro da normalidade, a economia norte-americana, a mais poderosa do planeta, deverá ser a primeira a sair da crise financeira global iniciada em 2008. Para este ano, a previsão é que cresça 1,7%, mas, para 2014, já é esperado um crescimento de 2,7%. Essa seria uma notícia alvissareira para a economia brasileira, se há dez anos o governo não tivesse tido a estapafúrdia ideia de diminuir uma pretensa dependência do comércio brasileiro com os norte-americanos, a pretexto de ampliar o leque de parceiros comerciais do País.
Ainda bem que o atual governo já “descobriu” que, se a economia dos EUA vai bem, o mundo todo tem motivos de sobra para comemorar. É que os EUA são os maiores compradores do planeta. Tanto que gastaram US$ 2,2 trilhões em 2011, exatamente o equivalente ao Produto Interno Bruto brasileiro em 2012. Portanto, se o consumo dos norte-americanos diminui, a indústria global imediatamente se ressente do golpe, como bem sabem os chineses.
Em razão da estratégia equivocada do governo anterior, a participação dos EUA no total das exportações brasileiras caiu de 25,7%, em 2002, para 9,6% em 2010. É verdade que, desde então, houve uma leve recuperação e, em 2012, chegou a 11,3%, passando de US$ 53,1 bilhões para US$ 59,1 bilhões. Mas, se essa participação estivesse ainda ao redor de 25%, com certeza, hoje seria mais fácil ao Brasil sair da crise também.
Seja como for, pode-se argumentar que, em contrapartida, a China, o maior parceiro comercial do Brasil atualmente, compra 17,4% de tudo o que o País vende ao mercado externo. Só que há uma diferença significativa: enquanto os EUA compram produtos industrializados, de elevado conteúdo tecnológico, como aviões, além de pastas químicas, ferro-liga, petróleo em bruto e café em grão, entre outros, os chineses adquirem produtos primários, como minério de ferro, soja, grãos e couro.
Reduzir a suposta dependência do comércio brasileiro com os EUA custou caro, já que o Brasil não obteve em troca um relacionamento mais aprofundado com outros grandes parceiros comerciais. E também não assinou acordos de livre comércio nem soube convencer seus sócios do Mercosul das vantagens de um tratado com a União Europeia ou com outro bloco econômico. Desde 1991, quando foi criado o Mercosul, limitou-se a acordos comerciais de reduzido alcance com Israel, Egito e Palestina. E, desses, só o primeiro está em vigor.
O resultado de estratégia tão desastrada, segundo números do governo, é que o País tem um peso insignificante nas compras dos EUA (1,5%). Para piorar, o Brasil, como se estivesse vivendo num mar de tranqüilidade, ainda se dá ao luxo de ser um dos poucos países com os quais os EUA têm superávit comercial.
E tudo isso ainda se deu porque os governos dos democratas Bill Clinton e Barack Obama foram generosos com o Brasil, ao derrubar vários subsídios agrícolas, favorecendo exportadores brasileiros. Se tivessem sido mais protecionistas, como se esperava, a situação para o lado brasileiro teria ficado ainda mais desfavorável.
(*) Milton Lourenço é presidente da Fiorde Logística Internacional e diretor do Sindicato dos Comissários de Despachos, Agentes de Cargas e Logística do Estado de São Paulo (Sindicomis) e da Associação Nacional dos Comissários de Despachos, Agentes de Cargas e Logística (ACTC).
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