Para desfazer os entraves do transporte público na cidade de São Paulo há que se pensar o sistema como indutor de um desenvolvimento urbano integrado, que seja capaz de promover a ordenação das atividades no espaço metropolitano. “Linhas de metrô em arco [linhas perimetrais], interligando diferentes pontos da região metropolitana podem ser uma solução viável, a médio e longo prazo, para a formação de um tecido urbano policêntrico e a redução do volume de viagens que se destinam ao centro expandido”, afirma a professora Andreina Nigriello, do Departamento de Projeto da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo (FAU) da USP.
Com experiências vividas em administrações públicas nas áreas de gestão de transportes e planejamento urbano, a docente acaba de publicar um artigo em que reúne estudos diversos, levantamentos e dados que indicam ser esta uma das melhores soluções para a expansão do atual sistema de transporte na cidade. O texto A rede de transporte e a ordenação do espaço urbano foi publicado na Revista dos Transportes Públicos, da Associação Nacional dos Transportes Públicos (ANTP). O artigo foi escrito em colaboração com o graduando em Arquitetura e Urbanismo da FAU, Rafael Henrique de Oliveira. Há anos pesquisando o tema, as questões referentes ao uso do solo e o transporte coletivo no espaço urbano são a base das disciplinas ministradas por Andreina na FAU.
Segundo a professora, uma das principais questões diz respeito a como usar o planejamento de transporte para ordenar as atividades no espaço urbano. “Estudos indicam que maior acessibilidade na periferia pode incrementar o crescimento da oferta de empregos fora do centro expandido , atraindo para a periferia as viagens que acontecem hoje nesta direção”, justifica. “É neste centro expandido, delimitado pelo mini anel viário, que atualmente estão concentrados os empregos e a população de maior renda”, aponta, ressaltando que “como consequência: altos índices de congestionamento viário”.
Fortalecer centralidades
A professora destaca, assim, a necessidade de planos de transporte público que sejam estruturados no território metropolitano paulista, indutores de um desenvolvimento urbano integrado. “Para uma ocupação espacial mais equilibrada é necessário que haja um fortalecimento das centralidades fora do centro expandido, em áreas periféricas com crescimento de população e ou de empregos”, recomenda. Ela cita como exemplo destas áreas Itaquaquecetuba, Jardim Helena, Vila Curuçá, Vila Jacuí, Lajeado, Itaquera, Cidade Líder, Iguatemi, São Bernardo, Diadema, Grajaú, Cidade Ademar, Capão Redondo, Taboão da Serra, Jandira, Barueri, Anhanguera, Guarulhos, Ponte Rasa, Artur Alvim, Vila Prudente, Ipiranga, Santo André, Socorro, Carapicuíba, Jaguara, Limão, Vila Maria, Vila Medeiros e outras áreas periféricas que compõem o espaço metropolitano.
Andreina diz que, atualmente, a única interligação em arco, de transporte estrutural, fica por conta do corredor ABD, que passa por São Mateus,Santo André, São Bernardo, Diadema e Jabaquara. “Além desta linha, que é um corredor de ônibus operando em via exclusiva, não há linhas de média ou alta capacidade para atender diretamente os deslocamentos perimetrais”, constata. “As viagens entre dois pontos periféricos são realizadas, em geral, utilizando linhas radiais que passam, ou se integram a outras, no centro expandido”.
Metrô em círculo ou em arco
Andreina é enfática em apontar que estas linhas perimetrais devem ser linhas de metrô.“Esta foi a solução que permitiu a cidades como Madrid, Londres, Moscou e Tókio, entre outras, minorar seus problemas de tráfego e transporte público”, lembra. Segundo dados levantados pela pesquisadora, no caso da região metropolitana de São Paulo as linhas de metrô em arco, externas ao centro expandido, atenderiam a uma população com renda familiar mensal entre R$ 760,00 e R$ 3.040,00 (veja abaixo o mapa elaborado com base na Pesquisa Origem-Destino de 2007).
Fonte: Agência USP de Notícias