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08/01/2014

Artigo - Nossa América hoje

Neste começo do ano de 2014, diversos aniversários convergem. Os 55 anos da Revolução Cubana se sobressaem aos 20 anos da Rebelião Zapatista. A primeira aparece nas páginas mais gloriosas da história da luta continental (e mundial), inaugurando na região a transição para o socialismo e derrotando o imperialismo em sua tentativa de invasão militar e bloqueio econômico. A segunda, de menor profundidade política, porém não de menor importância simbólica e cultural, proporcionou uma bofetada no neoliberalismo apenas cinco anos depois da queda do muro de Berlim e quatro anos após a derrota sandinista.

Nenhuma destas duas rebeliões foi esmagada definitivamente pelos poderosos da Terra.

O imperialismo norte-americano, hoje mais agressivo que nunca, mais desesperado que nunca, de seu modo, mais enfraquecido que nunca, não conseguiu colocar fim ao exemplo cubano. Tampouco, conseguiu apagar a rebelião indígena de Chiapas. Mais uma vez, rumina sua impotência política.

Junto à Revolução Cubana e à Rebelião Zapatista, uma terceira estrela de rebeldia mantém seu brilho em meio à tormenta, a persistência histórica da insurgência colombiana. Este ano comemoram-se 50 anos da epopeia de Marquetalia. Meio século depois, esta rebeldia não foi derrotada. Apesar do Estado colombiano receber a maior “ajuda” (investimento) econômica militar do planeta, atrás apenas de Israel e Egito, um exército incrível de espiões, mercenários, empresários e assessores estadunidenses, não consegue desarticular a insurgência colombiana. 

Na Venezuela, morto (assassinado?) o comandante Hugo Chávez, as agências norte-americanas USAID, NED, Ford e outras similares, não conseguem desarmar o processo bolivariano que, mais uma vez, contra todo o prognóstico midiático, volta a vencer as eleições periódicas. Ainda que sem contar com o carisma de Chávez, a Revolução Bolivariana não foi detida nem interrompida.

Nos quatro países (Cuba, México, Colômbia e Venezuela) o Estado norte-americano e seus aparatos de contrainsurgência investem milhões e milhões de dólares para esmagar a rebeldia. Mas não conseguem. Por trás de suas bravatas de cowboys, seus filmes triunfalistas que nunca se concretizam na vida real e seus programas milionários de contrarrevolução, que apenas servem para continuar endividando até o infinito o povo estadunidense, os generais do Pentágono e seus financistas do complexo militar industrial continuam, como Penélope, tecendo e esperando em vão.

Fidel não morreu e o povo de Cuba permanece de pé (a cada primeiro de maio Havana se pinta de povo). Os indígenas zapatistas de Chiapas continuam intactos em seus gestos de rebeldia (suas juntas de bom governo se mantêm ali, teimosas e obstinadas). Os rebeldes bolivarianos da Colômbia não deixam de ganhar e aumentar o apoio popular (não tanto pela pólvora, mas principalmente pela mobilização maciça do povo humilde e trabalhador). O povo bolivariano da Venezuela reafirma nas urnas e na rua que a pobreza não é alternativa de nada (as últimas eleições voltaram a mostrar a superioridade do projeto de Chávez).

Apesar de suas “estratégias”, o imperialismo rumina e não tem mais remédio que tragar essa quádrupla derrota em silêncio.

Para tentar remediá-la e neutralizá-la, a geopolítica estadunidense idealizou a Aliança do Pacífico. Uma tentativa tardia de voltar a implantar a vassalagem econômica monroista já fracassada com a ALCA. Essa é hoje sua principal aposta em escala continental. Em paralelo, o Vaticano, eterno aliado fiel das administrações da Casa Branca, destaca um quadro político populista como Bergoglio para disputar os processos sociais da região, o consenso das massas populares e a hegemonia sobre a sociedade civil.

Os programas de contrainsurgência e “segurança democrática”, no plano político militar, as alianças comerciais no âmbito econômico e o conservadorismo populista da prédica papal no terreno ideológico, constituem uma tripla operação de pinças que ameaça o movimento popular de nossa América.

Nessa difícil conjuntura se abre o ano de 2014. Nosso tempo é um tempo de disputa, de pulso, de medição de forças entre um projeto bolivariano continental de unidade das forças populares e uma tentativa imperial e contrarrevolucionária de frear as transformações latino-americanas.

O futuro está aberto entre a revolução e a contrarrevolução. Ganhará quem conseguir articular maior hegemonia em escala continental. Estamos nessa batalha. Bolívar não semeou no mar.

 

* por Néstor Kohan, membro da presidência coletiva do Movimento Continental Bolivariano (MCB). Tradução: Partido Comunista Brasileiro (PCB)







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