Agora que as centrais sindicais começam a se interessar pela realização, com êxito, da Copa do Mundo e deveriam ser convidadas para verificar o bom andamento dos trabalhos, reproduzo trechos de um artigo meu de três anos atrás.
Com a interrupção causada pela II Guerra Mundial e a devastação na Europa, o Brasil ofereceu-se para sediar a primeira Copa pós-bélica. Confirmado o evento, tratou-se com urgência, já que estávamos a menos de três anos dos jogos, de realizar as obras de infraestrutura e preparar o país com a construção, na então capital do Brasil, de um estádio monumental.
Depois de muitas discussões sobre sua localização e projeto, escolheu-se o terreno “vazio” do antigo Derby Club (de propriedade da prefeitura do Rio de Janeiro) e aprovou-se a planta em falsa elipse, que ficou famosa. A construção em si, com o mutirão de trabalhadores migrantes, foi uma epopeia envolvendo arquitetos, engenheiros e grandes construtoras. Consumiram-se 500 mil sacos de cimento, 10 mil toneladas de ferro, utilizaram-se 40 mil caminhões, oito milhões de horas de trabalho e foram retirados 40 milhões de m³ de terra escavada.
Mais peso tiveram os embates políticos. A direita, comandada pela União Democrática Nacional (UDN) de Carlos Lacerda opõe-se ferozmente à construção com argumentos muito parecidos aos que se esgrimem atualmente: incapacidade de realização, ocorrência de corrupção, inutilidade das obras e da Copa para um povo que queria pão e não circo. Mas a vontade dos cariocas, do prefeito e dos vereadores e a capacidade dos engenheiros e dos trabalhadores foram vitoriosas. O Maracanã foi inaugurado em 16 de junho de 1950, oito dias antes da abertura do evento.
A favor da construção destacaram-se o jornalista Mário Filho, do Jornal dos Sports (que foi homenageado com o nome oficial do estádio) e o compositor Ary Barroso, flamenguista doente e também vereador da UDN.
Mas o papel principal desempenhado na luta para vencer as resistências, a desinformação e a histeria coube à forte bancada dos vereadores do Partido Comunista (entre eles, o já famoso humorista Aparício Torelly, o Barão de Itararé), que conseguiram a aprovação da Câmara Municipal e enfrentaram a radicalização anticomunista da direita no clima de Guerra Fria que começava. Aliás, esse vício anticomunista é o único que não tem aparecido entre os críticos atuais das obras para a Copa de 2014.
* por João Guilherme Vargas Netto, consultor sindical