A baía do Araçá, entre as cidades de Ilhabela e São Sebastião, no litoral paulista, oferece ao homem serviços ambientais como provisão de alimentos (por meio da pesca), depuração de efluentes, ciclagem de nutrientes e área para ocupação urbana e turística. Oferece também benefícios menos tangíveis, relacionados, por exemplo, ao vínculo que a população estabelece com ela em termos de identidade e herança cultural.
Por outro lado, a baía é impactada por intervenções antrópicas na terra e no mar, como a construção do porto de São Sebastião e a poluição urbana, que podem comprometer serviços e benefícios ofertados pela natureza.
Com o objetivo de entender o complexo funcionamento desse sistema, propor caminhos para o uso integrado da região – levando em conta processos ambientais, físicos, biológicos e sociais – e depois aplicar a lógica de trabalho a outras regiões e escalas, um grupo de pesquisadores desenvolve, desde 2012, o Projeto Temático Biodiversidade e funcionamento de um ecossistema costeiro subtropical: subsídios para gestão integrada, sob a coordenação da professora Antonia Cecília Zacagnini Amaral, do Instituto de Biologia (IB) da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp).
“Estudar o mar é mais difícil e caro do que estudar áreas continentais, e ainda sabemos pouco sobre os processos que ocorrem na região costeira. Precisamos entender potencialidades, ameaças, oportunidades e fragilidades a fim de aprimorar estratégias de gerenciamento”, afirmou Alexander Turra, pesquisador do Instituto Oceanográfico (IO) da Universidade de São Paulo (USP) e coordenador do módulo Manejo Integrado do Temático, no primeiro encontro do Ciclo de Conferências 2014 do programa BIOTA-Fundação de Amparo à Pesquisa de São Paulo (Fapesp) Educação, em São Paulo.
Entre as ameaças já identificadas pelo grupo, Turra citou o projeto de expansão do porto de São Sebastião, que pode comprometer ou interromper o serviço de depuração de efluentes prestado pelo fitoplâncton.
“No canto direito da baía, há um córrego que leva esgoto praticamente in natura dos bairros ao mar. Analisando dados de nutrientes da água, constatamos uma depuração ativa, que pode ser prejudicada caso a laje para a extensão do porto seja instalada”, disse.
Nesse caso, o resultado seria um acúmulo de matéria orgânica não processada pelo fitoplâncton, com potencial de causar danos à extensa biodiversidade do local – já são mais de 730 espécies apenas de organismos bentônicos (associados ao fundo do mar, tanto em lama, areia ou pedra).
Para a continuidade das pesquisas, que vão se estender até 2016, o Projeto Temático do qual Turra faz parte conta com outros 11 módulos: Sistema Planctônico, Sistema Nectônico, Sistema Bentônico, Sistema Manguezal, Hidrodinâmica, Dinâmica Sedimentar, Interações Tróficas, Diagnóstico Pesqueiro, Identificação e Valoração dos Serviços Ecossistêmicos, Modelagem Ecológica e Gerenciamento e Organização de Dados e Metadados Espaciais.
* Com informação da Fapesp