Tenho escrito que a ditadura militar, tendo sido ferozmente antissindical, não conseguiu desestruturar o sindicalismo.
Mas os efeitos funestos de suas políticas econômicas fizeram-se sentir contra os trabalhadores (mesmo nos períodos em que houve crescimento econômico e emprego), principalmente pelo arrocho salarial e pela quebra da estabilidade no emprego.
Estas duas perversões pesam na história dos trabalhadores como duas heranças malditas cujas consequências se fazem sentir até hoje.
O arrocho salarial pode ser sintetizado no vale da morte do gráfico do salário mínimo; as perdas materializadas nele somente agora estão sendo repostas com a política de valorização do salário mínimo (e ainda falta muito a ser feito).
A quebra da estabilidade e a consequente opção pelo Fundo de Garantia do Tempo de Serviço (FGTS) estruturaram um mercado de trabalho aviltado e rotativo em que, todo ano, pelo menos metade da mão de obra troca de emprego, com graves consequências para a sindicalização e para a produtividade.
Parodiando Mario de Andrade: os baixos salários e a alta rotatividade, os males do trabalho no Brasil, são.
Exatamente por isso saúdo a iniciativa do Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicas (Dieese) e do Ministério do Trabalho e Emprego de realizarem, em Brasília, o primeiro seminário “Rotatividade no mercado de trabalho”, nos dias 11 e 12 de março, que produzirá diagnósticos e propostas de enfrentamentos. No primeiro dia, especialistas farão palestras sobre o tema; no segundo dia serão apresentadas as propostas para o enfrentamento da rotatividade da mão de obra pelas centrais sindicais e confederações patronais.
Este é o link para a programação.
* por João Guilherme Vargas Netto, consultor sindical