Um tipo de concreto para pavimento rígido, mais resistente e que pode durar até 30 anos, está sendo testado por pesquisadores da Escola Politécnica da Universidade de São Paulo (Poli-USP). O que o diferencia daquele normalmente usado em corredores de ônibus nas grandes cidades do Brasil é o uso de uma estrutura de aço contínua, que dispensa a presença de juntas (cortes transversais presentes no pavimento de concreto comum, que evita que ele trinque em lugares indesejados). Para os testes, foi pavimentado com o novo concreto um trecho de 100 metros da Av. Professor Almeida Prado, próximo à Poli, no campus da USP.
Segundo o professor José Tadeu Balbo, coordenador do Laboratório de Mecânica de Pavimentos (LMP), de Departamento de Engenharia de Transportes (PTR) da Poli, responsável pelo projeto, o trecho tem uma espessura de 24 centímetros do concreto com estrutura contínua de aço, assentado sobre uma camada seis centímetros de concreto asfáltico. Abaixo disso, há uma base de macadame seco (brita em diversos tamanhos) de 20 centímetros (cm). “O objetivo dos testes é verificar a degradação que ocorre no concreto durante o tempo, em função da carga dos ônibus e caminhões e da temperatura”, explica Balbo.
De acordo com ele, este tipo de concreto já é usado nos Estados Unidos e em alguns países da Europa desde a década de 1950. Ele conta que teve a ideia de trazer a tecnologia para o Brasil em 1994, quando viu o estado em que estava o corredor de ônibus da Avenida 9 de Julho, em São Paulo, que havia sido construído em 1985, com concreto comum. “Depois de nove anos, ele estava com as juntas todas deterioradas, com degraus e uma série de outros problemas”, lembra. “Então pensei que poderíamos trazer o pavimento sem juntas, para usar principalmente nos corredores de ônibus.”
Desníveis
Balbo explica que as opções usadas hoje no País – asfalto ou concreto com juntas – não são as melhores. O asfalto, por exemplo, se deforma facilmente, principalmente em épocas de calor, forma buracos e ondulações e até invade as calçadas nos pontos de ônibus. O concreto comum, por sua vez, tem apresentado em inúmeras obras ou problemas de fissuras de retração ou degraus nas juntas. O problema principal desse tipo de pavimento, no entanto, é o surgimento de desníveis nas juntas, ou seja, a criação de pequenos degraus. Além de desconforto para os passageiros, esses problemas causam danos aos ônibus, principalmente nas rodas, pneus e eixos, aumentando o seu custo de manutenção.
De acordo com Balbo, as juntas – ou pequenos intervalos ou brechas de alguns centímetros entre um trecho e outro do pavimento – são necessárias no concreto comum, porque ao secar, depois de ser colocado no piso para formar a pista de rolamento de um corredor de ônibus, por exemplo, ele se retrai e trinca. As juntas são feitas para que ele trinque num lugar previamente determinado e calculado, evitando rachaduras em toda a sua extensão. O concreto com estrutura de aço contínuo também racha. “Em média a cada três ou quatro metros ocorre uma fissura, quando usado em comprimento curto, como em paradas de ônibus. Para grandes extensões, as fissuras ocorrem a cada um metro em média”, explica Balbo. “Mas como tem o aço e ele é muito resistente, as fissuras não se abrem com a contração do concreto. Por isso, esse tipo de pavimento pode durar de 30 a 40 anos, ante os 10 a 15 anos do concreto comum.”
Além dessa durabilidade maior, os testes realizados na Cidade Universitária revelaram ainda que o novo concreto tem uma capacidade de carga maior do que o comum. Em relação aos custos, Balbo revela que ele é cerca de 20% mais caro, o que seria compensado, no entanto, pela maior durabilidade e pela redução dos custos de manutenção dos veículos. De acordo com Balbo, a tecnologia já está pronta e poderia ser usada a qualquer momento se órgãos públicos se interessassem.
Imprensa SEESP
Fonte: Agência USP de Notícias