"O grande mal do século é a terceirização da responsabilidade e da culpa. Consequentemente, a solução é colocada nos outros, não em nós. Não lutamos por melhoria da escola pública, pagamos planos privados de saúde, compramos grades, pagamos milícias, bloqueamos entradas. Que cada um busque o seu papel, acompanhe e fiscalize os serviços públicos.” Estas foram as palavras dirigidas aos profissionais da Confederação Nacional dos Trabalhadores Liberais Universitários Regulamentados (CNTU) pelo médico pediatra e especialista em saúde pública, Gilson Carvalho, ao receber, em 2011, o Prêmio Personalidade Profissional, outorgado pela confederação em reconhecimento às suas grandes contribuições à saúde pública brasileira.
Carvalho defendia a participação popular sempre para garantir serviços públicos,
como o da Saúde, de qualidade
A comoção pela perda de Carvalho ocorreu em todos os setores do País, ligados à saúde pública, principalmente pela luta incansável por recursos para o Sistema Único de Saúde (SUS), sistema que ajudou a idealizar e continuou a vigiar. Em sua coluna semanal, chamada Domingueira, publicada no site Idisa, o último artigo publicado em junho foi uma reprodução de outro que havia escrito em 1996 e que, segundo ele, continua atual em 2014. Nele, o médico se dedicou a apontar os ralos por onde escoam recursos do SUS, entre eles, perdas que "passam pelo Executivo, pelo Legislativo, pelo judiciário, pelo comércio e pela indústria (que sonegam ou que são cúmplices da corrupção). Passam, também, por alguns prestadores (instituições e/ou pessoas físicas) que praticam corrupção dobrando o número de atendimentos não feitos; “safenando” ou “protetisando” quem não necessita; cobrando por fora do mais rico sob vários pretextos e do mais fraco porque este quer pelo menos ser atendido, tem medo de retaliações ou por ambos desconhecerem a lei que declara ser gratuito o serviço do SUS e ser crime cobrar a mais e por fora!…". Em sua opinião, antes e hoje, o SUS precisa apenas que se cumpram as leis existentes para que seja um sistema de saúde justo e equitativo que atenda a toda a população.
Ele foi integrante do Conselho Nacional de Saúde, que comunicou a morte de uma "referência na saúde e respeitado em âmbito nacional e um dos idealizadores do Sistema Único de Saúde (SUS)". Para a presidenta do CNS, Maria do Socorro de Souza, fica para sempre a lembrança de um líder combativo do SUS, e uma referência para os conselheiros de Saúde do País. Outro colega, representante da Confederação Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), André Luiz Oliveira, destacou o seu papel no debate do financiamento da saúde. Quando conselheiro, Carvalho integrou a Comissão de Financiamento do CNS, como um dos grandes formuladores de políticas para o setor. "O Controle Social e Gilson Carvalho se confundem numa mesma ideia. Enquanto tiver SUS, participação social e luta por um sistema que permita que as pessoas vivam mais e melhor, Gilson estará vivo", disse o Conselheiro do CNS e presidente da Federação Nacional dos Farmacêuticos (Fenafar), Ronald Ferreira dos Santos.
Nascido em 1946 em Aracaju (SE), Gilson de Cássia Marques de Carvalho cresceu em Campanha (MG). Era formado pela Escola Federal de Medicina e Cirurgia do Rio de Janeiro e doutor em Saúde Pública pela USP. Foi especialista ainda em Pediatria e Administração Hospitalar. Exerceu medicina em Alfenas (MG), Jacareí e São José dos Campos.
Ao ser homenageado pela CNTU, premiado por sua "Excelência em Gestão Pública", Carvalho disse: “Neste momento de enlevo, quero entregar este título a vocês, críticos dos serviços públicos, e homenagear os cidadãos usuários", e alertou: "Nós, da saúde, precisamos de vocês.” Ao final, citou uma frase de Gandhi: “Nós temos que ser a mudança que nós queremos para o mundo.”
Imprensa SEESP
Fonte: Portal da CNTU