Com um documento coletivo protocolado no Gabinete regional da Presidência da República em São Paulo, atos por todo país no sábado e no domingo, e uma petição online em solidariedade ao povo palestino, organizações e movimentos sociais aumentam a pressão para que o governo brasileiro rompa contratos com Israel, como forma de pressionar o país a interromper o massacre mundialmente testemunhado na Faixa de Gaza.
Um protesto em São Paulo, na manhã chuvosa de domingo, teve caminhada a partir da Praça Oswaldo Cruz, seguindo pela Avenida Paulista e Avenida Brigadeiro Luís Antônio, até o Parque do Ibirapuera, e unificou diferentes movimentos, partidos de esquerda e várias centrais sindicais em torno da proposta de endurecimento da posição pelo fim dos ataques à Palestina. CUT, CTB, e CSP- Conlutas manifestaram a convicção comum de que o Brasil pode ajudar a barrar os ataques de Israel ao povo palestino. Militantes e ativistas marcharam ao lado da comunidade árabe no Brasil, que recebe as notícias da Palestina horrorizada com o aumento do número de vítimas civis, principalmente crianças. Em duas semanas de ataques já são mais de mil mortos e de cinco mil feridos em Gaza, sem remédios, hospitais, alimentados ou água suficiente para atender a população e a enorme quantidade de vítimas.
De acordo com Ahmad Jaradat, palestino que vive na Cisjordânia e enviou mensagens de representantes do Comitê Palestino do Fórum Social Mundial, às organizações brasileiras, vários suprimentos proibidos por Israel chegam à Palestina através dos túneis abertos pela população e que agora estão sendo obstruídos.
O "Manifesto ao Governo Brasileiro", documento que deu entrada na sexta-feira no gabinete da Presidência indica os caminhos que o governo brasileiro pode seguir, depois de já ter chamado seu embaixador em Tel Aviv (Israel) de volta para casa. Na visão do movimento social, trata-se de romper contratos e relações existentes com Israel no campo comercial, militar e diplomático.
Uma das medidas cobradas é a de denunciar e por fim ao Tratado de Livre Comércio do Mercosul com Israel, e o próprio governo brasileiro ajudou a concretizar. Dentro de casa, há acordos com as empresas Elbit Systems, fabricante de armamentos, a Mekorot, de água, que devem ser sustados. Assim como qualquer empresa ligada às violações da lei internacional perpetradas por Israel, deve ser excluída dos negócios brasileiros. Na prática, isto significaria a adesão do Brasil à campanha internacional BDS (Boicote, Desinvestimento e Sanções), que está ganhando força no mundo todo como um meio eficaz para fazer Israel parar com os ataques.
Pela proposta BDS, não apenas as relações entre governos são cortadas, mas a própria população pode atuar, mesmo nos países que não tomam posições oficiais. Trata-se de evitar a compra de produtos fabricados em Israel ou com aditivos ou matéria-prima vinda dos territórios ocupados, onde os recursos são explorados ilegalmente. Os produtos são identificados pelo código de barras, que no caso de mercadorias made in Israel começam com os números 729. O BDS recomenda ainda que as universidades recusem intercâmbios com as instituições israelenses, assim como os artistas devem recusar agendamento de shows.
Outra atitude esperada do governo brasileiro pelos manifestantes é a condenação pública das prisões políticas, do tratamento desumano aos prisioneiros, e da tortura praticada nas prisões, centros de detenção e colônias israelenses. Os ativistas querem que o governo brasileiro, e a comunidade internacional, exijam a libertação imediata de todos os presos políticos palestinos.
Após protocolar o Manifesto ao Governo Brasileiro na Avenida Paulista, as organizações conseguiram agendar a visita de uma delegação ao escritório da Presidência, nesta segunda-feira, para apresentar o documento pessoalmente. Depois que o governo de Israel se manifestou de forma ofensiva em relação ao Brasil, em protesto contra a retirada do embaixador brasileiro do país, as organizações da sociedade civil, centrais sindicais e partidos políticos solidários à causa palestina esperam uma reação mais enérgica do governo de Dilma Rousseff.
Imprensa SEESP
Por Rita Freire, portal da CNTU