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04/09/2014

Opinião – Da valorização profissional

Vencemos o desafio da Copa do Mundo. Praticamente todos os usuários elogiaram desde as acomodações nos estádios, os transportes, a segurança até os acessos. A própria Fifa (Federação Internacional de Futebol Associado) se surpreendeu com os resultados. Tudo correu de forma ordeira e tranquila, o povo brasileiro deu um show de civilidade e versatilidade. Parabéns a todos nós!

Na esteira disso, temos uma série de problemas estruturais, que envolvem a engenharia nacional. Há, por exemplo, a alegação de que estão faltando profissionais. Seguindo o conceito utilizado pelo programa “Mais Médicos”, alguns dizem que precisamos do “Mais Engenheiros”. Ou que estamos com déficit em relação a outros países em desenvolvimento.

Na engenharia, existem dois problemas básicos: um relativo à formação do profissional e outro, à sua atividade. O primeiro subdivide-se em vários, como o fato de pouco mais de 50% dos alunos que iniciam os cursos chegarem a concluí-lo. Contudo, vamos nos ater aqui aos principais aspectos ligados à atividade no mercado.

O recém-formado normalmente se depara com os anúncios exigindo dois anos ou mais de experiência.

Raramente, as empresas solicitam aqueles que acabaram de deixar as escolas. Para iniciar sua vida profissional, o engenheiro acaba aceitando, após cinco anos de estudos, salários irrisórios; quando tem sorte, inicia como trainee numa empresa de grande porte.

Diante dessa situação, o profissional começa a pesquisar outras áreas e, em troca de um salário maior, acaba abandonando a carreira de engenheiro, para a qual foi preparado, e segue outro rumo.

Aqueles que heroicamente insistem na profissão acabam encontrando um problema nos patrões e empresários que, por ignorância ou teimosia, descumprem a Lei 4.950-A/66, que traz em seu bojo o piso salarial da categoria. Atualmente esse valor é de R$ 6.516,00 mensais para um turno diário de oito horas de trabalho. Diversas decisões e pareceres, inclusive do ex-ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Francisco Rezek, já reconheceram que, por se tratar de piso salarial, ou seja, valor inicial de carreira, a utilização do mínimo com referência não ofende ao art.7o, inciso IV, da Constituição de 1988, descartando assim o principal óbice à obediência à lei.

Os próprios governos federal, estaduais e municipais, em sua maioria, desprestigiam os engenheiros, oferecendo vencimentos bem abaixo do piso. Há locais pagando R$ 2.000,00 mensais, alegando que a Lei 4.950-A/66 refere-se exclusivamente aos celetistas, estando excluídos os estatutários. Também não é raro ver na construção civil empreendimentos de vários milhões de reais cujo responsável técnico, que administra a construção da obra, é um engenheiro recebendo pouco mais de R$ 3.000,00 por mês. É uma incoerência.

O que está faltando para que os engenheiros retornem a sua área é a valorização, é receber um salário digno de seus conhecimentos e atividades. Até porque em tudo que se vê à nossa volta tem obrigatoriamente a participação desse profissional.


* por Antonio Ciro Bovo – Presidente do Seageto. Artigo publicado, originalmente, no jornal Engenheiro, da FNE, edição 148, setembro/2014









 

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