Aplaudido de pé no início da noite de quarta-feira (10/9) por uma plateia repleta de jovens, na abertura da quinta edição do Seminário Internacional Universidade, Sociedade e Estado, na Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), o presidente uruguaio, José “Pepe” Mujica, abordou o paradoxo do momento vivido pela humanidade: por um lado, acumulando conhecimento, riqueza e avanços científicos e, por outro, vivendo uma crise política. Para o governante, o homem precisa pensar como espécie, não como bloco, país ou continente. Em dado momento, Mujica se dirigiu diretamente aos estudantes presentes no evento e os chamou a cumprirem seu papel: “Não se pode ser acadêmico e não sentir a responsabilidade que se tem com o nosso povo quase analfabeto”, disse ele.
Para Mujica, dizer que não se tem recursos é uma vergonha. “Sabemos o que fazer e temos como fazer, mas seguimos olhando para outro lado”, afirmou. Ele citou o exemplo de políticos que, voltados para uma agenda própria – como a busca por uma reeleição – deixam de atentar para o que deveriam. “Se o que vivemos não é uma crise política, eu não sei o que é”. disse.
Um dos problemas atuais, na opinião do presidente uruguaio, é o acúmulo de capital. Segundo Mujica, as pessoas passam a vida consumindo e acumulando dívidas, além de sofrerem por aquilo que não podem adquirir. Ele disse consumir menos em prol da própria liberdade, de gastar seu tempo não acumulando ou cuidando daquilo que adquiriu, mas fazendo o que gosta. “Eu não sou pobre! Pobre é quem precisa de muito”, disse, sob aplausos. Esta não é a primeira vez que Mujica rejeita o título muitas vezes atribuído a ele pela imprensa internacional, de “presidente mais pobre do mundo”, em função de seu estilo de vida simples.
Para Mujica, cada um tem apenas uma oportunidade na Terra. “Não partilho da teoria de que tenhamos que sofrer nesta vida para ter outra melhor”, disse ele. O que, segundo explicou, “não quer dizer que, neste mundo, não tenhamos que trabalhar. Se não o fizer, estará vivendo às custas de outro”.
Como já havia feito em seu pronunciamento no Palácio Piratini, também nesta quarta (10), Mujica afirmou que a sofrida América Latina passou anos olhando para os Estados Unidos e a Europa, sem que os países vizinhos se olhassem uns aos outros: “Nossos poetas tinham que ser reconhecidos em Paris ou estavam fritos”, brincou.
O presidente uruguaio também defendeu o fim das fronteiras: “Até quando médicos brasileiros não vão poder trabalhar no Uruguai”, questionou como exemplo. Para Mujica, vivemos em uma época desafiadora, em que os países latino-americanos precisam se agrupar. “A América Latina precisa unir forças”, defendeu.
Citando exemplos da capacidade humana, Mujica afirmou que o homem deve defender o mundo no qual nasceu, aprendendo com os erros já cometidos, evitando as guerras, usando a inteligência para levar a vida de outro modo, que não como um mero “pagador de contas”. “Não faço apologia à miséria, é exatamente o contrário, defendo a vida. Primeiramente, a vida humana, que, para ser possível, precisa defender toda a vida que nos acompanha neste barco”, encerrou Mujica.
Fonte: Rede Brasil Atual