Em homenagem a destaques em cada uma das categorias ligadas à Confederação Nacional dos Trabalhadores Liberais Universitários Regulamentados (CNTU), além de um em “Excelência na gestão pública”, a entidade entregou a sete personalidades, pelo quarto ano consecutivo, o prêmio Personalidade Profissional. O justo reconhecimento fechou com chave de ouro a 7ª Jornada Brasil Inteligente, no dia 12 de dezembro, no auditório do Sindicato dos Engenheiros no Estado de São Paulo (Seesp), na capital paulista. A premiação teve início após a apresentação do Coral Martin Luther King. Em 2014, foram agraciados Gilson de Lima Garófalo (na área de Economia), Marcus Alexandre Aguiar (Engenharia, na ocasião representado por sua esposa, Gicélia Viana da Silva Melo Aguiar), Waltovanio Cordeiro de Vasconcelos (Farmácia), Eleuses Paiva (Medicina), Albaneide Peixinho (Nutrição), José Tadeu de Siqueira (Odontologia) e João Guilherme Vargas Netto (Excelência na gestão pública).
Foto: Beatriz Arruda
João Guilherme Vargas Netto, consultor sindical, foi premiado na categoria Excelência na gestão pública
Ao receber o prêmio, Gilson Garófalo falou de sua emoção e contou um pouco de sua extensa trajetória de dedicação à profissão. Lembrou ainda o esforço para alcançar o título de economista e o estímulo da família para tanto. Vindo de São Manoel, interior de São Paulo, chegou à capital em 1962, quando iniciou os estudos na Faculdade de Economia da Universidade de São Paulo (USP). “Ao final do primeiro semestre, escrevi ao meu pai dizendo que ia desistir do curso. Professor de ensino básico, ele veio a mim e disse que não admitiria isso. Afirmou: ‘Não esmorecer para não desmerecer.” Dali em diante, deu sequência aos estudos na área e ascendeu na carreira, atuando tanto como docente como no mercado e aposentando-se como economista-chefe do então Banespa, após 32 anos de serviços prestados. Participando de diversas entidades, entre elas da diretoria do Sindicato dos Economistas de São Paulo (Sindecon-SP), Garófalo – que foi indicado por essa organização para como Personalidade Profissional 2014 na área – enfatizou ainda que essa “é a mais antiga entidade da categoria no Brasil, prestes a completar 80 anos, ao iniciar de 2015”.
Engenheira civil, Gicélia Aguiar recebeu a homenagem na categoria Engenharia em nome de seu cônjuge e colega de profissão. “Estou muito feliz e honrada pelo prêmio tão importante e de reconhecimento nacional. Em menos de 15 anos, Marcus Alexandre Aguiar deixou de ser um adolescente carente da periferia de Rio Branco e se tornou prefeito da cidade. Isso nos mostra o quão importante é a formação universitária.” No ensejo, ela leu mensagem do agraciado, que salientou a parceria com o Sindicato dos Engenheiros no Acre (Senge-AC) e a Federação Nacional dos Engenheiros (FNE) – que o indicaram como Personalidade Profissional 2014 na área – na busca do desenvolvimento sustentável do Acre e do Brasil.
A luta por assistência farmacêutica digna e eficaz foi destacada por Waltovânio Vasconcelos, ao ser homenageado como Personalidade Profissional 2014 na categoria em que atua. Indicado pela Federação Nacional dos Farmacêuticos (Fenafar), ele frisou: “Vejo a responsabilidade aumentar para continuar a luta por um sistema de saúde pública de qualidade, ao que o medicamento é insumo essencial para a garantia desse direito integral à população brasileira.” Entre as campanhas nesse sentido, nas quais foi atuante, ele citou a pela instalação dos genéricos na década de 1990, pelo uso racional dos medicamentos e pela aprovação da Lei 13.021, que define a farmácia como estabelecimento de saúde. “Faço dessa a homenagem aos colegas que fizeram da profissão de farmacêutico um sacerdócio para a melhoria de vida das pessoas.”
Vindo do Sertão da Bahia e caçula de sete filhos, Albaneide Peixinho foi outra premiada a lembrar sua trajetória de 32 anos de militância na área, assim como o apoio da família. Ao optar pela carreira em nutrição e na busca pela compreensão da necessidade alimentação saudável, ela lembrou que seus pais revolucionaram tais hábitos em sua casa. Sindicalista e ativista dos movimentos sociais dos trabalhadores sem-terra e da agricultura familiar, Peixinho alçou postos até chegar ao governo, em que implantou o programa de alimentação escolar. Esse inclui a obrigatoriedade da compra de 30% de produtos advindos de agricultura familiar, segundo salientou. Conhecida como “defensora dos frascos e comprimidos”, como brincou, observou que a profissão ainda é muito estigmatizada. “É preciso um conjunto de políticas públicas integradas e integradoras se queremos mudar o Brasil”, concluiu. A nutrição – área em que foi indicada como Personalidade Profissional 2014 pela Federação Interestadual de Nutricionistas (Febran) – é parte disso.
José Tadeu de Siqueira também recordou sua história profissional e pessoal ao ser agraciado em Odontologia, por recomendação da Federação Interestadual de Odontologistas (FIO). “A homenagem forçou-me a virar para o passado.” Com atuação na área temporo-mandibular, relativa ao estudo de tratamento da dor, conforme ensinou, ele apontou os dados que mostram a importância desse segmento: “Nas unidades básicas de saúde, 30% procuram atendimento devido a dor crônica; cerca de 7% especificamente em função de dor facial. Quinze por centos dos brasileiros reclamam de dor de dente.” Ainda segundo Siqueira, 25% das crianças com menos de cinco anos são acometidas por esse problema. Enfatizando que houve grandes avanços no sistema bucal de saúde pública, ele contudo ponderou: “Apenas 10% das pessoas já receberam atendimento odontológico profissional no País que reúne o maior número de faculdades na área. Isso merece profunda reflexão. É nosso dever continuar mudando e melhorando.”
A voz dos médicos
Deputado federal pelo PSD, Eleuses Paiva é reconhecido como a voz dos médicos no Congresso Nacional, o que lhe valeu a indicação como Personalidade Profissional 2014 nessa categoria pela Federação Nacional dos Médicos (Fenam). Na luta por 10% do PIB à saúde, ele criticou: “Setenta por cento da população precisa do sistema público, e o Brasil investe ¼ do Uruguai, menos da metade da Argentina, 1/3 do Chile. Enquanto isso, o investimento per capita do setor privado beira o dos países europeus. Temos cidadãos de primeira e segunda categoria.” Lutar contra essa situação, que inclui a dificuldade em liberar verbas à saúde pública no Parlamento, foi o compromisso destacado pelo agraciado na ocasião.
Encerrando o rol dos homenageados do ano, o analista político e sindical João Guilherme Vargas Netto – escolhido pela CNTU como Excelência na gestão pública – emocionou a todos ao contar sua rica história de vida na luta por um País justo e democrático. “Nasci em 25 de dezembro de 1942, em Tombos, Minas Gerais. O mundo estava em greve e em Stalingrado se definia um dos futuros da humanidade, quando hordas nazistas foram cassadas. Cresci feliz em Minas Gerais. Em 1954, estava jogando bola num pátio de café quando um menino veio gritando: ‘Getúlio Vargas se matou.’ Paramos a ‘pelada’, tamanho o impacto da notícia. Em 1957, vim para o Rio de Janeiro estudar para ser engenheiro. Fui visitar minha irmã no interior e voltei de trem, o qual engavetou. Eu tinha 18 anos e comandei o salvamento. Foi quando me dei conta que era feliz, mas vivia numa redoma de vidro. Com o acidente de trem, que ocorreu por falta de conservação, descobri que existia injustiça. Entrei em crise e fiquei um ano no interior, igual a bicho do mato.” O acidente e mais os livros que foram doados à sua cidade – os quais leu todos – mudaram sua trajetória. Dali em diante, Vargas Netto iniciou sua militância por transformações sociais. “Voltei para o Rio, fui estudar matemática na Faculdade Nacional de Filosofia da Universidade do Brasil. Aluguei um apartamento ao lado da UNE (União Nacional dos Estudantes).
Derrubamos o diretor da faculdade e fomos expulsos sem processo. Recentemente, recebi um pedido formal de desculpas da UFRJ (Universidade Federal do Rio de Janeiro).” Tornando-se dirigente do Partido Comunista Brasileiro (PCB) e perseguido pela ditadura civil-militar, ficou anos no exílio. “Sou o único dirigente da Guanabara e em São Paulo que está vivo e não está louco.” Anistiado em 1979, voltou ao Brasil e pouco tempo depois saiu do partido. Decidiu ajudar o movimento sindical brasileiro dos trabalhadores. “Acho que só não trabalhei para a organização dos seringueiros. A maior homenagem que recebi foi da Rosa Cardoso (coordenadora do grupo dos trabalhadores na Comissão Nacional da Verdade), que disse: ‘Sou exigente, eficiente e técnica, mas quem me ensinou a amar vosso trabalho foi o João Guilherme.’” Ele finalizou: “A única verdade é que esse reconhecimento é justo, pois equilibra a relevância da CNTU com a irrelevância do premiado.” O público que o aplaudiu de pé desmente essa conclusão.
Soraya Misleh
Imprensa SEESP