O Conselho Internacional do Fórum Social Mundial (FSM) aprovou uma missão à Gaza logo após a realização da edição 2015 do megaevento na Tunísia, país que fica a cerca de 3.100 quilômetros da fronteira do Egito com a Palestina, na cidade de Rafah. A notícia foi divulgada no segundo dia do Seminário FSM Rumo a Túnis, em Salvador (BA), na manhã de sexta-feira (23/1). O FSM da Tunísia ocorrerá entre 24 e 28 de março, na capital tunisiana.
Está marcada para segunda-feira (9/2), às 16h, a primeira reunião, na sede da CUT-SP, para discutir os detalhes da empreitada que, além de solidariedade, levará mantimentos para a população que sofre um bloqueio econômico desde 2007, quando o Hamas, partido vencedor das eleições parlamentares na Palestina, democraticamente, assumiu o poder na região. Israel e países aliados do ocidente querem fazer crer que o Hamas é responsável por atentados, classificando-o como grupo terrorista.
De acordo com militantes brasileiros, o melhor caminha até a Faixa de Gaza é pelo Egito, uma vez que o país já abriu suas fronteiras anteriormente para entidades que prestam ajuda humanitária. Aliás, esse é o único tipo de carregamento que é permitido passar pelas fronteiras, após uma vistoria minuciosa.
Por Israel é impossível, uma vez que há o confronto entre judeus sionistas e palestinos. Pelo mar o transporte também não é possível. Em 2010 e 2012, barcos que transportavam missões humanitárias ao território palestino foram atacados pela marinha israelense.
“Antes do bloqueio entravam 400 caminhões de alimentos em Gaza. Agora entram 64. Se não fossem os túneis, que Israel tanto condena, eles estariam em situação ainda pior”, denuncia a jornalista da Ciranda Internacional da Comunicação Compartilhada Soraya Misleh, integrante da Frente em Defesa do Povo Palestino.
A luta do povo daquela região por independência vem desde a década de 1940, quando os governos israelenses iniciaram desapropriações ilegais e um processo de limpeza étnica, expulsando dois terços das famílias palestinas de suas terras. Em julho e agosto de 2014 acabou ganhando uma repercussão maior graças a divulgação nas redes sociais de fotos de crianças mortas pelos bombardeios que mataram 2.200 pessoas, deixaram 11 mil feridos, 450 mil desabrigados, além de 26 escolas destruídas, hospitais e infra-estrutura danificada em diversas regiões de Gaza.
Inicialmente, integram a missão organizações brasileiras e membros do conselho internacional do FSM. Mas, Mohamad El Kadri, da Associação Islâmica de São Paulo, e também da Frente em Defesa do Povo Palestino, enfatiza a importância em convidar também políticos e representantes de governos para fortalecer a missão. “Algumas entidades já foram a Palestina mas os resultados não foram muito bons. Por isso queremos envolver militantes, políticos, representantes de governos para que possamos efetivar acordos com Gaza e obter resultados concretos, avanços políticos”, conta El Kadri.
De acordo com ele, atualmente as doações financeiras não chegam até lá. “Mas a ONU(Organização das Nações Unidas) já descontou a porcentagem que ela vai receber só para mobilizar esse dinheiro”, alertou.
Os militantes lembram que 80% da sobrevivência do povo palestino é garantida via ajuda internacional. Dados apontados por organizações internacionais, que atuam em defesa da causa, alertam que mais de 45% da população (de 1,7 milhão) estão desempregados, uma grande parte formada por jovens. Também há informações de que mulheres são impedidas de fazer pré-natal e terem seus filhos com dignidade e que metade das crianças sofrem de anemia e desnutrição.
“Além da cidade estar devastada após os bombardeios, muitos estão morrendo de frio. A população sofre neste momento um inverno rigoroso. Dos 450 mil desabrigados por conta do genocídio de 2014, 100 mil ainda não conseguiram retornar pra suas casas. Falta saneamento básico e chegam a ficar 18 horas sem energia”, diz Misleh. “Com a missão, temos a oportunidade de dar visibilidade a tudo isso”, completa.
Soraya Misleh e Mohamad El kadri participaram da mesa “O sentido do Fórum Social Mundial hoje”, do Seminário FSM Rumo a Túnis, em Salvador (BA), na manhã de sexta-feira (23/1). “O fórum teve um papel importante para unir as lutas anticapitalistas. No caso palestino, a idéia de que não estamos sós foi muito significativa. E o fórum contribuiu para dar visibilidade a luta do povo palestino. A aprovação dessa missão traz de volta esse sentido original do FSM”, declara ela.
Deborah Moreira
Imprensa SEESP