Análise realizada nos 645 municípios do Estado de São Paulo revela que a existência de usinas de cana de açúcar nas cidades tem como efeito positivo o seu desenvolvimento socioeconômico, sendo maior nas cidades próximas ou vizinhas que na própria cidade onde está a usina. O resultado faz parte de pesquisa desenvolvida na Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz da Universidade de São Paulo (Esalq/USP), em Piracicaba. O economista e especialista em agronegócio Leandro Gilio avaliou em sua dissertação de mestrado, no Programa de Pós-Graduação (PPG) em Economia Aplicada da instituição, os impactos socioeconômicos causados pela expansão do setor no País.
O trabalho, desenvolvido durante o ano de 2014, foi organizado no formato de dois artigos científicos, que, segundo o autor, podem ser lidos e avaliados de forma independente. O texto “Avaliação de impacto socioeconômico da expansão do setor sucroenergético em municípios paulistas”, trata dos efeitos decorrentes da expansão canavieira recente e da presença de usinas sobre os municípios produtores e proximidades, no estado de São Paulo. Para tal proposta, foi construído um painel com dados de todos os 645 municípios do Estado para se avaliar o efeito da expansão da área cultivada e da presença de usinas.
O desenvolvimento socioeconômico dos municípios foi avaliado pelo Índice Firjan de Desenvolvimento Municipal (IFDM), divulgado pela Federação das Indústrias do Estado do Rio de Janeiro (Firjan). A área plantada de cana foi fornecida pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) e as informações sobre usinas, coletadas no Anuário da Cana. O modelo em painel considerou aspectos dinâmicos e espaciais (distâncias entre as cidades) e variáveis de controle. A estimativa foi feita a partir do Método de Momentos Genralizado (GMM), técnica econométrica genérica de estimação de parâmetros.
No estudo, Gilio conclui que o efeito positivo da existência de usinas de cana-de-açúcar nas cidades é o seu desenvolvimento socioeconômico, sendo maior nas cidades próximas ou vizinhas que na própria cidade onde está a usina. Isso se dá, segundo o autor, pela grande dependência do desenvolvimento regional para o local. “Os municípios vizinhos podem se beneficiar mais, por terem economia mais diversificada e não tão dependentes do setor sucroenergético”.
Desenvolvimento socioeconômico
Com relação apenas à expansão da área agrícola de cana-de-açúcar, foi identificado um pequeno efeito negativo para o desenvolvimento socioeconômico local, sem impacto significativo sobre as proximidades. “Este fato pode ser entendido como uma captação do efeito da mecanização neste setor, que tornou a cultura de menor trabalho intensivo”, acrescentou.
O artigo “O impacto socioeconômico da expansão canavieira: uma revisão sistemática da literatura”, mostra o atual estágio das pesquisas desenvolvidas na área, podendo subsidiar trabalhos futuros. Para essa pesquisa, foram levantados cerca de 1.300 trabalhos e artigos, nacionais e internacionais, em língua portuguesa ou inglesa. Após análise criteriosa, Gilio selecionou 46 estudos para leitura integral e analítica. A maioria dos trabalhos tinha origem brasileira (cerca de 40%).
De acordo com Gilio, a metodologia empregada nesta avaliação é pouco explorada na área de ciências econômicas. “Este trabalho é mais utilizado nas áreas de saúde e conhecido como ‘prática baseada em evidências’”. No caso das ciências humanas, o método torna-se importante para fornecer uma base sintética e atualizada para estudos futuros, mostrando uma espécie de ‘retrato’ do atual desenvolvimento científico da temática e evidenciando lacunas e novas possibilidades de estudo.
O artigo revela que existe uma predominância de estudos com enfoque regional e que as temáticas mais exploradas são aquelas relacionadas às dimensões de trabalho e uso da terra. “Para o caso nacional da expansão do setor sucroenergético, há ainda uma carência de estudos que avaliem os efeitos de acordo com recentes configurações do setor, como a proibição da queima de cana-de-açúcar, as mudanças no mercado de trabalho causadas pela mecanização e alterações institucionais ligadas à posse e arrendamento de terras, por exemplo”, acrescenta o economista.
Segundo o pesquisador, o melhor entendimento dos aspectos avaliados em sua tese contribui para o desenvolvimento do setor sucroenergético e para a promoção de políticas de incentivo. Para Gilio, novos trabalhos devem ser desenvolvidos na área, utilizando métodos quantitativos e qualitativos, de modo a se subsidiar políticas públicas e iniciativas de promoção no setor. A orientação do estudo foi da professora Márcia Azanha Ferraz Dias de Moraes, do Departamento de Economia, Administração e Sociologia da Esalq. A pesquisa foi financiada pelo Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq).
Fonte: Agência USP de Notícias