No dia 2 de abril último, tanques de álcool anidro e gasolina começaram a pegar fogo em terminal de combustível da empresa Ultracargo, instalado em área do Porto de Santos, na cidade do litoral sul paulista. Nesta sexta-feira (10/4), no nono dia do sinistro, já se computavam mais de 200 horas de trabalho ininterrupto de combate às chamas, segundo o coordenador de Defesa Civil e secretário da Casa Civil Militar do Estado de São Paulo, coronel José Roberto Rodrigues de Oliveira, num desastre que ele definiu como “tecnológico”. “Desde que começou a ocorrência estamos na melhor situação”, informou. Acompanhe, a seguir, a entrevista que o coronel deu ao Jornal do Engenheiro.
Como está a situação do local nesta sexta-feira?
Cel José Roberto Rodrigues de Oliveira – Desde que começou o incêndio estamos na melhor situação. Não temos mais fogo nos tanques de combustível. Temos apenas uma flange – um tipo de respiro do reservatório – que ainda tem um pouco de combustível, que exala gás e acaba inflamando, e alguns vazamentos que passam embaixo dos tanques, que estão sendo fechados.
Não tem mais fogo?
Cel Oliveira – Ainda temos focos de labaredas nesses vazamentos. Como temos diques de contenção com água, esse trabalho é feito com muito cuidado, atenção e devagar.
Quantos tanques e qual o volume de combustível foram queimados até agora?
Cel Oliveira – Definir o volume de combustível queimado, neste momento, não é muito fácil, não passaria apenas de palpite. Foram seis tanques atingidos.
A partir desse acidente, qual o debate que se faz necessários?
Cel Oliveira – É o maior do Brasil e um dos maiores do mundo, que virou um case mundial. À frente do combate, trabalham profissionais do Corpo de Bombeiros, do Plano de Auxílio Mútuo (PAM), que congrega todas as empresas da região [da Baixada Santista], da Petrobras, a empresa [Ultracargo] contratou alguns consultores que têm experiência internacional. Essa situação deve ser bem estudada. Avaliar o que aconteceu. Saber o que deu origem a isso. E tentar criar legislação e normas para dar mais segurança nos polos petroquímicos. Esse acidente serviu de ensinamento para muita gente.
A Ultracargo vai ser acionada pelos órgãos públicos?
Cel Oliveira – O Ministério Público do Meio Ambiente estadual já está à frente disso para verificar o que aconteceu e os impactos ambientais causados. A Prefeitura de Santos já embargou a empresa. Todas as ações possíveis de ofício serão tomadas.
Até agora o senhor poderia computar as horas de combate ao fogo?
Cel Oliveira – Estamos no nono dia com mais de 190 horas de trabalho. Já foram mais de um bilhão de litros da água do mar que foram usados para o resfriamento e para fazer espuma. Tivemos mais de 500 mil litros de gerador de espuma. Mais de 14 quilômetros de mangueira. Tivemos caminhões da Petrobras que vieram de Santa Catarina, Rio de Janeiro, Paraná e São José dos Campos.
Qual a capacidade de armazenagem dos reservatórios da Ultracargo?
Cel Oliveira – O local tem vários tamanhos, os que pegaram fogo tinham capacidade para cinco milhões de litros.
Quais os outros produtos armazenados próximos aos tanques que pegaram fogo?
Cel Oliveira – Óleo vegetal, dicloroetano, que retiramos logo no início para um lugar afastado para evitar problemas maiores, assim como acrilato de butila, que inertizamos para que não ocorresse explosão e ácido acético. Basicamente era isso.
Poderia ter uma tragédia ainda maior?
Cel Oliveira – Quando você coloca fogo e combustível inflamável tudo pode acontecer. Evidentemente que a rapidez com que chegaram as equipes para o combate foi fundamental para que isso não evoluísse.
A Defesa Civil está em contato com a Ultracargo para obter mais informação sobre o projeto de construção e segurança do terminal?
Cel Oliveira – Viemos aqui para essa tragédia no sentido inicial de olhar todos os aspectos que envolviam o meio ambiente e a população. A nossa primeira preocupação é com as pessoas que estão próximas ao local da ocorrência, levantando todos os riscos que pudessem impactá-las. Foi criado um plano de contingência para as famílias. Com relação aos produtos químicos tomamos todas as providências, retirando-os da zona quente. Chamamos a Cetesb [Companhia de Tecnologia de Saneamento Ambiental] e uma equipe do Exército para fazer uma avaliação do ar na região e o Ibama [Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis] para diminuir os impactos ambientais. Definimos que não deveria descer caminhão [ao Porto de Santos] para não impactar ainda mais a cidade. Precisamos circunscrever a região, mas, de todo modo, também não dava para desabastecer o País ou São Paulo. Tínhamos que encontrar um meio termo em toda essa situação. Essa foi a função da Defesa Civil de coordenar todos os órgãos que participaram dessa frente e fazer com que a cidade continuasse funcionando, com o menor impacto possível à vida da população.
Aqui entrou em prática o Sistema Nacional de Proteção de Defesa Civil, instituído pela Lei 12.608/2012, porque tivemos órgãos de todos os níveis de governo [Federal, estadual e municipal] envolvidos. Houve um trabalho muito cooperado. Tivemos o transporte de alguns produtos feito pela Aeronáutica com muita propriedade.
Também tinha armazenagem de Gás Liquefeito de Petróleo (GLP), mais conhecido como gás de cozinha?
Cel Oliveira – Sim. São tanques da Ultragás, que foram esvaziados. Aqui foi um desastre tecnológico e não natural, sendo outra característica de atuação da Defesa Civil.
Rosângela Ribeiro Gil
Imprensa SEESP
Fotos: Sergio Furtado/Estúdio 58