Na quarta sessão plenária do sétimo Encontro Ambiental de São Paulo (VII EcoSP), na manhã desta sexta-feira (24/4), segundo e último dia da atividade que acontece no Novotel Center Norte, na Capital paulista, o professor da Faculdade de Engenharia Civil da Universidade Estadual de Campinas (FEC-Unicamp), Antonio Carlos Zuffo, explicou o ciclo hidrológico (da água) a partir da energia solar e a crise hídrica de São Paulo. Para ele, é fundamental entender essa dinâmica, ao longo dos tempos, para compreender o que já aconteceu no planeta e saber o que poderá acontecer nos próximos anos. A mesa foi coordenada pelo vice-presidente do SEESP, José Carlos Gonçalves Bibbo.
Foto: Beatriz Arruda
Professor Zuffo (à esquerda) deu uma "aula" sobre a influência da energia solar no ciclo hidrológico
Zuffo explicou, nesse sentido, que o êxodo rural ocorrido, no Brasil, a partir da década de 1960, principalmente, foi em decorrência dos efeitos climáticos dos anos 1930, 1940 e 1950. A população do campo, observou, fugiu da seca daquele período, “isso fez com que as cidades se inchassem”, como a de São Paulo. O governador à época, lembrou, foi convencido por engenheiros sobre a necessidade de investimentos em saneamento básico. Também, nesse tempo, foram realizados os primeiros estudos para a construção do sistema Cantareira. A primeira fase foi concluída, em 1967, com os projetos das represas de Águas Claras, Paiva Castro, Atibainha e Cachoeira, com capacidade de 11,0 m³/s; e a segunda, iniciada em 1977 e finalizada em 1982, incluiu as represas Jaguari e Jacareí, com capacidade de 22,0 m³/s. No total, o sistema tem a capacidade de reservatório de 33 m³/s.
Efeitos José e Noé
O professor apresentou pesquisas que mostram como a energia solar influencia fenômenos climáticos, de secas e enchentes, da Terra. Ele citou artigo de Benoit B. Mandelbrot e James R. Wallis, publicado em outubro de 1968, que mostram os dados fluviométricos históricos de alguns dos grandes rios do mundo, em particular do Nilo no Egito, identificando padrões recorrentes, batizando-os de "Efeito José" e “Efeito Noé” – analogias com comportamentos identificados em trechos das histórias bíblicas. O primeiro, ensinou Zuffo, descreve “persistência” dos fenômenos, no caso as chuvas, evento climático; o segundo, descreve “descontinuidade”.
De acordo com a sua exposição, nosso planeta recebe, em média, o equivalente a 1400 W por m²/s do Sol, o que equivale a 10 milhões de vezes a produção anual de petróleo da Terra ou à energia produzida por 10 bilhões de usinas hidrelétricas como a de Itaipu. “O sol mantém o ciclo hidrológico em funcionamento”, disse. E completou: “A Terra esfria e esquenta mais rápido, já a água demora mais.”
O sol tem quatro tipos de atividades que são mais ou menos importantes. Essas variações foram estudadas por meio da análise do carbono 14. São quatro os ciclos solares: de Schwabe (Heinrich Schwabe, 1789-1875) que observa a aparição das manchas solares, tal ciclo tem duração de 11 anos e a Terra recebe menos ultravioleta que leva a criar menos ozônio na estratosfera, enquanto que em seu máximo aumenta-se de 1 a 2% a concentração de ozônio; de Hallstattzeit com período de 2.300 anos e o máximo deveria ser alcançado no ano de 2.800 e seu próximo mínimo entorno do ano 3.950; de Suess com periodicidade de 150 a 200 anos; e de Gleissberg, com duração de 70 a 100 anos e foi descoberto em 1958.
Em 1998, por exemplo, mostrou Zuffo, foi registrada a maior temperatura média na Terra, já o ciclo atual mostra tendência de queda, mesmo com o aumento na emissão de carbono. Ele apresentou alguns dados sobre as variações da temperatura do nosso planeta: de 1920 a 1940, anos mais quentes; de 1960 a 1970, mais frio; de 1980 a 2010, mais quente; e de 2010 a 2020, deverá ser mais frio.
Zuffo também indicou a diferença de fenômenos climáticos em várias partes no mundo no mesmo ano de 1953. No Sudeste do País, enfrentava-se período de forte seca fazendo com que alguns anunciassem ameaças à produção nacional de café, já a região amazônica enfrentava inundações. Na Europa, vários países sofriam com enchentes e o estado da Califórnia, nos Estados Unidos, e a China, seca. Em 2014, após 61 anos, o Sudeste, Centro Oeste e Nordeste sofrem com a seca, e o Norte com as enchentes; na Europa há enchentes e nos Estados Unidos e China, de novo enfrentam a seca.
* Apresentação do professor Antonio Carlos Zuffo
Rosângela Ribeiro Gil
Imprensa SEESP
Colaboração Jéssica Silva