Numa época de descalabro nas contas públicas provocado por uma política econômica irresponsável que se baseou em farta distribuição de benesses sociais com objetivos eleitoreiros, na disparada do consumo e no desestímulo ao investimento, não deixa de ser alvissareiro o novo recorde operacional de movimentação de cargas batido pelo porto de Santos. Segundo relatório da Companhia Docas do Estado de São Paulo (Codesp), houve em maio de 2015 um crescimento de 13,7% sobre o mesmo mês de 2014, com mais de 10 milhões de toneladas movimentadas.
É de assinalar, porém, que os produtos responsáveis pelo aumento foram o açúcar e a soja, commodities exportadas que registraram um crescimento de 34,8% e 36,3%, respectivamente. Isso mostra também que Santos deixou ser um porto especializado na exportação de produtos com valor agregado para se tornar um complexo voltado para a exportação de produtos agrícolas, especialmente das regiões Sudeste e Centro-Oeste.
Essa tendência, com certeza, haverá de se reforçar ainda mais com a licitação prevista para o primeiro semestre de 2016 de dois terminais na Margem Esquerda: em Conceiçãozinha, em Guarujá, destinado à movimentação de grãos; e na Ilha Barnabé, em Santos, voltado à movimentação de granéis líquidos.
Ainda que essa tendência não se afigure comprometedora para o futuro do porto santista, é preocupante na medida em que o escoamento natural da produção agrícola do Centro-Oeste haverá de ser, um dia, pelos portos do Pará, de Barcarena a Santarém, que vêm recebendo investimentos cada vez maiores de empresas privadas, mesmo com a lentidão que tem marcado o asfaltamento da BR-163 em território paraense. Se essa tendência vier a se reforçar nos próximos anos, o porto de Santos, fatalmente, irá se tornar um hub port especializado na movimentação de contêineres.
Afinal, ainda que os contêineres hoje transportem também produtos agrícolas, como açúcar e milho, sua vocação parece ser a de transportar produtos de valor agregado. Por isso, é de assinalar também o aumento de 13% em tonelagem em contêineres registrado em maio passado, o que representou uma evolução de 8,8% em unidades e 7,5% em TEUs (unidade equivalente a um contêiner de 20 pés). E também um novo recorde para o mês, ainda que tivesse sido inferior à média dos cinco primeiros meses de 2015: 16% em tonelagem e 8,7% em TEUs.
Esses números mostram ainda que o porto de Santos, responsável por 27% do comércio exterior brasileiro, continua a desempenhar um papel-chave na economia do País, o que justifica os esforços da Secretaria de Portos (SEP) para agilizar a licitação das obras de ampliação da profundidade de seu canal de navegação, depois do atraso provocado por questiúnculas judiciais.
* por Milton Lourenço, presidente da Fiorde Logística Internacional e diretor do Sindicato dos Comissários de Despachos, Agentes de Cargas e Logística do Estado de São Paulo (Sindicomis) e da Associação Nacional dos Comissários de Despachos, Agentes de Cargas e Logística (ACTC)