O livro organizado pela professora Marta Arretche, da USP, “Trajetórias das Desigualdades – como o Brasil Mudou nos últimos 50 anos” merece ser lido e estudado.
A professora diz que dois alicerces da ciência social comparada foram abalados com a trajetória da desigualdade nos últimos 50 anos. O primeiro sustentava que a democracia levaria à redução das desigualdades sociais nas economias avançadas e o segundo sustentava que esse caminho virtuoso estava interditado no Brasil. A democracia produziria, portanto, duas rotas distintas: estabilidade da baixa desigualdade nas economias avançadas e estabilidade da elevada desigualdade no Brasil.
Todos os estudos disponíveis têm revelado que, em se tratando das economias avançadas, houve forte concentração de renda a partir dos anos 70 do século passado com democracia e eleições.
Os estudos publicados pela professora e os dela própria, demonstram que aqui no Brasil, com a democracia, acelerou-se a queda das desigualdades, embora persistam problemas estruturais.
Os dois alicerces foram abalados e até derruídos.
Quanto ao aumento das desigualdades nos países mais ricos temos o depoimento de duas economistas do FMI, Florence Jaumotte e Carolina Osório-Buitron, que metade do fosso dessas desigualdades decorreu do declínio das organizações sindicais. Também o prêmio Nobel de economia, Joseph Stiglitz, condena a concentração de renda, denuncia que os ricos estão ficando ainda mais ricos e indica o enfraquecimento dos sindicatos como uma das causas desses fenômenos.
Ou seja, para eles, nos países ricos, sindicatos enfraquecidos facilitaram o aumento da concentração de renda e das desigualdades.
Resta afirmar (por simetria) que aqui no Brasil, ao contrário do acontecido “ao norte do Trópico de Câncer”, o forte movimento sindical, durante o período de seu protagonismo e da unidade de ação das centrais, foi uma componente nada desprezível no avanço da equalização social.
Infelizmente, em nenhum dos trabalhos publicados no livro, essa hipótese é valorizada; no entanto, basta lembrarmos o papel positivo na redução das desigualdades da recuperação do valor real do salário mínimo, a maior conquista social brasileira, obra efetiva do movimento sindical unido.
* João Guilherme Vargas Netto, consultor sindical