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“Aos 90 anos, nosso sindicato está jovem e pronto para os próximos desafios”

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Rita Casaro

 

001MuriloPinheiroMurilo Pinheiro: valorização da categoria e unidade na engenharia são cruciais na luta do SEESP; entidade segue firme na defesa dos profissionais. Foto: Beatriz ArrudaDinamismo, superação de desafios e luta incansável pelos engenheiros. Para Murilo Pinheiro, presidente do SEESP, essas são marcas essenciais da entidade que completa 90 anos em 21 de setembro. Representando cerca de 350 mil profissionais, com mais de 60 mil associados e responsável por mais de 30 negociações coletivas anuais que beneficiam cerca de 100 mil trabalhadores, o sindicato é um nonagenário jovem e cheio de energia, avalia o dirigente.

 

À frente da instituição desde 2001, o engenheiro eletricista que fez carreira na Companhia Energética de São Paulo (Cesp) e hoje está ligado à Isa Cteep destaca também a ativa participação no debate sobre o desenvolvimento nacional. Este se dá sobretudo por meio do engajamento ao projeto “Cresce Brasil + Engenharia + Desenvolvimento”, da Federação Nacional dos Engenheiros (FNE), entidade da qual Murilo também é presidente, e pelo Conselho Tecnológico do SEESP. Preocupações cruciais neste campo, aponta ele, são por exemplo as discussões sobre a implantação de indústrias de semicondutores no Brasil e a transição energética, incluindo a alternativa do hidrogênio verde.

 

Entre as bandeiras de luta históricas e que seguem atuais, Murilo destaca a reivindicação pela carreira pública de Estado. “A engenharia está presente em tudo e, ao não ter uma carreira, estamos relegando esse trabalho, deixando de oferecer a condição melhor a cada uma das pessoas que atuam nos governos municipal, estadual e federal”, afirma.

 

Pontos essenciais da agenda presente e futura, explica o engenheiro que também comanda a Confederação Nacional dos Trabalhadores Liberais Universitários Regulamentados (CNTU), são a aproximação com as novas gerações, por meio do Núcleo Jovem Engenheiro, e o esforço para garantir maior diversidade na profissão e na participação sindical.

 

Nesta entrevista ao Jornal do Engenheiro, edição especial 90 anos do SEESP, Murilo fala ainda sobre a necessidade de fortalecer o sindicalismo, que se viu na mira de ataques equivocados desde a reforma trabalhista de 2017, e conclama a categoria a se unir em torno da entidade que a representa. “Uma coisa que eu tenho certeza é que sou engenheiro e que tem o sindicato me defendendo” resume. Confira a seguir e no vídeo ao final. 

 

O que você destacaria nessa trajetória de 90 anos do SEESP? Quais têm sido os principais desafios e conquistas?

Os desafios foram muitos e as conquistas também. Eu destacaria o salário mínimo profissional, que a gente vem perseguindo e vem dando certo. Também a nossa discussão do “Cresce Brasil”, em que nós apresentamos propostas a todos os candidatos a presidente, governadores, depois prefeitos, propostas factíveis, dando a nossa contribuição da engenharia. Destacaria também a “Engenharia Unida”, o nosso Conselho Tecnológico, nosso movimento da engenharia brasileira e principalmente paulista, nossa participação em todas as questões que envolvem a tecnologia, [os interesses] do cidadão e a engenharia como um todo.

 

Você tem afirmado que o sindicato chega aos 90 anos muito jovem, com disposição para seguir trabalhando. Quais são as perspectivas futuras?

A gente olha um sindicato com 90 anos [e o vê] cada vez produzindo mais. Neste ano, só no segundo semestre, fizemos dez grandes eventos que nós podemos destacar. Por que a gente entende que nós somos cada vez mais jovens? Porque [continua] com esse dinamismo com tudo o que houve depois de 2017, com o bombardeio contra os sindicatos brasileiros, e o nosso que também sofreu junto. Nós tivemos diminuição de 90% do nosso recurso e mesmo assim nós conseguimos avançar, discutir, participar e JE582 EntrevistaDestaques01estar presentes nas maiores discussões do Estado e do Brasil. Acho, por exemplo, também com o Núcleo Jovem Engenheiro, que o nosso grupo vem se inovando, pensando em como nós podemos crescer mais. Isso em conjunto com os jovens recém-formados, que nos ajudam a pensar de uma forma mais dinâmica, mais moderna. Então eu acho que o sindicato está jovem e está pronto para que a gente enfrente os próximos desafios de cabeça erguida. Nosso sindicato tem todos os seus diretores, inclusive o seu presidente, voluntários, isso para mim é fundamental. Eu olho e digo o seguinte: “puxa, os nossos poucos 90 anos, temos muito trabalho pela frente”. E o sindicato [chegar assim aos] 90 anos deve muito ao grupo de empregados, aos diretores; nós temos uma união que nos deixa cada vez mais jovens, com vontade de fazer, ansiosos pelo resultado e, sem dúvida nenhuma, cada vez mais motivados.

 

 

Como a aproximação com a juventude e a busca por diversidade na profissão e na representação sindical, com o incentivo à maior atuação de mulheres e pessoas negras, entra nessa agenda?

Nós achamos de fundamental importância essa amplitude, essa participação de todos. Temos de trazer mais mulheres, mais negros, mais diversidade. Temos que dar oportunidade para todos, temos que ser um sindicato com inclusão total. Nós temos que ter a amplitude de enxergar tudo isso [e promover] o respeito e a dignidade. E nós temos [atuado nesse sentido] junto às empresas. Temos aqui a área de Oportunidades, [que indica] profissionais mulheres, negras, PCD. Nós estamos buscando, abrindo as portas e dizendo “venham conosco, vamos aprender juntos, porque todos nós precisamos aprender a conviver, a trabalhar juntos, a [entender] a importância de cada um no cenário nacional, na engenharia brasileira”. E a gente tem exemplos de mulheres engenheiras que estão se destacando. Por exemplo, a nossa ex-coordenadora do Núcleo Jovem, [Marcellie Dessimoni], se destaca no País de uma forma muito forte. Nós temos diretoras também, mulheres negras, que estão fazendo um trabalho fantástico, assim como homens negros. Isso nos dá a certeza de que nós estamos no caminho certo. Nós temos muito ainda que fazer, muito que aprender, muito que nos abrir, mas o caminho está correto.

 

Do ponto de vista do debate sobre o desenvolvimento, quais são as prioridades na atualidade e no futuro próximo?

A gente podia começar pela carreira pública de Estado para os engenheiros, algo que nós estamos perseguindo. A engenharia está presente em tudo e, ao não ter uma carreira, estamos relegando esse trabalho, deixando de [oferecer] a condição melhor a cada uma das pessoas [que atuam] nos governos municipal, federal, estadual. Esse é um destaque fundamental. Realizamos um grande seminário visando contribuir para que haja indústrias de semicondutores no País. Nós não podemos ficar com essa dependência de fora. É uma coisa séria em que o governo tem que ficar atento, e a engenharia tem que permanecer firme. Eu acho que isso é fundamental para nós todos. Também [está em pauta] o hidrogênio verde, fizemos uma grande discussão sobre a matriz energética brasileira, e nós temos que pensar como o transporte será daqui a um tempo. Se não pensarmos rapidamente sobre o transporte público, de uma forma não poluente, de uma forma eficaz, teremos um colapso nas grandes cidades, sem dúvida nenhuma. Então há necessidade de o engenheiro e o nosso sindicato participarem efetivamente disso com proposições, como a gente tem feito no “Cresce Brasil”. Nós temos que qualificar as propostas, classificá-las e fazer a prioridade, vamos atrás de cada uma dessas questões.

 

Tem outra pauta que o SEESP e a FNE têm defendido de maneira muito forte que é a Engenharia de Manutenção. Qual a importância dessa proposta?

A Engenharia de Manutenção integra o projeto “Cresce Brasil” [e foi pensada] quando nós vimos a barragem em Minas Gerais que estourou, os viadutos que caíram em Brasília e São Paulo e pontes que tiveram problemas. Houve casos em que não se sabia onde estava o projeto daquele local e aí, para que recuperasse um viaduto, por exemplo, ia gastar muito dinheiro. Então a proposta é que haja uma área específica que trate disso. O viaduto que estiver com manutenção, se ele tiver um probleminha, é mínimo para corrigir, custo baixíssimo e uma segurança muito alta. Naquele momento em que nós discutimos havia cidadão que tinha medo até de passar em viadutos. A Engenharia de Manutenção é uma proposta nossa para que cada município, estado e o governo federal criem essa área [que permitiria] puxar o arquivo e verificar que foi feita manutenção tal dia, o que precisa fazer, trocar um cabo, um suporte, deixar em ordem. Na cidade de São Paulo, o secretário municipal de Infraestrutura e Obras, [Marcos Monteiro], executou bastante isso, ele usou essa nossa colocação. Então eu acho que a gente pode contribuir muito. Se nós tivermos a engenharia unida, o reconhecimento, a carreira de Estado, não teremos tanto gasto ou a insegurança e com certeza a garantia de um bom trabalho, de uma ponte, um viaduto, uma obra de arte, um prédio da Prefeitura bem preservados. Se a gente olhar sempre e deixar em ordem, nós vamos ter segurança e custo baixo.

 

O que o SEESP oferece aos profissionais? Por que os engenheiros deveriam se associar à entidade e participar das suas iniciativas?

JE582 EntrevistaDestaques02Eu poderia começar pelos nossos seminários, congressos, discussões técnicas. Por exemplo, falamos de semicondutores, de hidrogênio verde, de manutenção, de oportunidades de trabalho. Temos uma bolsa de oportunidades ao profissional, orientação para montar o seu currículo, tudo isso gratuitamente ao associado. Nós podemos indicar oportunidades ao profissional liberal também, olhando do lado empreendedor. Temos plano de saúde, convênios com muitos lugares, plano previdenciário. Nós temos a defesa do salário mínimo profissional, da carreira de engenheiro no Estado. E, além de tudo, nós atuamos na área da engenharia no Brasil como um todo. [O profissional] tem um sindicato que o representa, que o defende. Eu acredito que nós não podemos viver isoladamente. Então eu quero pedir ao profissional que venha conosco, dê as mãos, vamos fazer isso juntos. Vamos discutir, se tiver ideias diferentes das nossas, apresente para que a gente possa ampliar e melhorar a nossa assistência ao engenheiro. Na verdade, acho que a única coisa que o engenheiro pode colocar nas costas dele é: tem um sindicato que me defende. Uma coisa que eu tenho certeza é que sou engenheiro e que tem o sindicato me defendendo. Obviamente, nós temos as nossas dificuldades, os nossos erros, mas estamos prontos para que [o profissional] aponte-os para que possamos corrigi-los.

 

Como você mencionou, desde 2017, quando foi aprovada a reforma trabalhista, não só o SEESP, mas o conjunto do movimento sindical têm enfrentado enormes dificuldades. Como superar esse obstáculo?

Nós temos que pensar no financiamento sindical. Nós temos que pensar como é que um sindicato pode viver, trabalhar, atuar como nós estamos atuando, fazer dez seminários num semestre só, participar de todas as questões da sociedade, apresentar um “Cresce Brasil”, o nosso livro dos 90 anos sem dinheiro? Como nós podemos fazer isso? A discussão sobre sindicatos entra na mídia como se fosse um patinho feio, colocada de uma forma errada. Convido todos os jornalistas, toda a imprensa que quiser conversar conosco, para falarmos sobre isso, destrincharmos o que faz um sindicato de forma correta. Claro que tem o sindicato que não é tão bom assim, mas vamos olhar de uma forma muito mais séria. Ao profissional, [convido] a prestar atenção no sindicato que o defende, nós temos que ter a engenharia unida. Se nós contribuirmos, teremos um Brasil melhor, mais justo, com mais oportunidades, que muitas e muitas vezes nós não temos. Nós temos que aprender, me chamem para conversar. Se nós estivermos errados, vamos corrigir. Se tivermos uma unidade na engenharia, vamos dar o exemplo para o Brasil. E a unidade faz com que as coisas aconteçam. Eu não estou dizendo unanimidade na conversa, mas unidade no conjunto.

 

Assista ao vídeo da entrevista

 

Foto no destaque: Murilo Pinheiro, presidente do SEESP. Crédito: Beatriz Arruda

 

 

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