Lucélia Barbosa
O Conselho Tecnológico do SEESP promoveu em 26 de outubro uma excursão ao CEA (Centro Experimental Aramar), localizado na cidade de Iperó, em São Paulo. A unidade é parte integrante do CTMSP (Centro Tecnológico da Marinha de São Paulo), responsável pelo PNM (Programa Nuclear da Marinha), cujo objetivo é capacitar o País à construção de submarinos nucleares, com fins pacíficos, envolvendo o domínio do ciclo do combustível e a confecção do reator nuclear para propulsão naval.
No início da visita, os engenheiros participaram de uma palestra ministrada pelo superintendente do PNM, Capitão de Mar e Guerra, Luciano Pagano Júnior, que explicou como acontece o ciclo do combustível nuclear, etapa já concluída no projeto naval. O urânio é extraído do minério, purificado e concentrado sob a forma de um sal de cor amarela, conhecido como yellowcake. Em seguida, esse é convertido para o estado gasoso tornando-se no UF6 (hexafluoreto de urânio). A próxima etapa é o enriquecimento isotópico, operação que aumenta a concentração do urânio 235 do UF6. Já enriquecido, esse elemento passará por outro processo químico, transformando-se em UO2 (dióxido de urânio), que, sob a forma de pó, deve ser transportado para outra etapa, na qual são produzidas pastilhas de urânio, combustível do reator nuclear.
Conforme o CTMSP, a capacidade energética de uma pastilha enriquecida a 3,5% e usada como combustível nos reatores nucleares de água leve equivale a uma tonelada de carvão, três barris de petróleo e 570 m³ de gás natural.
Com domínio total desse processo, o Brasil já é capaz de fabricar o próprio combustível nuclear, sem qualquer dependência externa. Atualmente, a tecnologia de enriquecimento de urânio é conhecida e aplicada comercialmente apenas por Estados Unidos, França, Rússia, Grã-Bretanha, Alemanha, Japão e Holanda.
O submarino
Ainda no CEA, está sendo construído o protótipo do submarino nuclear. O Labgene (Laboratório de Geração Núcleo Elétrica) testará os equipamentos que compõem toda a estrutura do submarino – reator, turbina a vapor, gerador elétrico e motor de propulsão, além de treinar as futuras tripulações. Essa instalação servirá também de base e de laboratório para qualquer outro projeto de reator nuclear no Brasil. “Para a Marinha, é interessante que haja um desenvolvimento na área nuclear brasileira para a geração de energia. Há uma cadeia de fornecedores a ser desenvolvida e podemos transferir muitas tecnologias para a indústria nacional”, disse.
Conforme Pagano Júnior, desenvolvidos e concluídos esses dois projetos com sucesso, estarão criadas as condições para que, no futuro, havendo uma decisão do Governo para tal, possa ser dado início à elaboração do projeto e a posterior construção de um submarino com propulsão nuclear, cuja função será a fiscalização das áreas marítimas nacionais.
Segundo o Centro Tecnológico, para a conclusão do programa, são necessários recursos da ordem de R$ 1 bilhão, com investimento médio anual de R$ 130 milhões. Se mantidos os recursos anunciados em 2007 pelo Governo, estará concluído até 2014.
Em campo
Ao longo da visita, os engenheiros do SEESP puderam ver de perto algumas instalações do CEA referentes ao ciclo do combustível e do futuro reator nuclear. A primeira unidade visitada foi a Ofmepre (Oficina Mecânica de Precisão), onde são realizadas as usinagens dos diversos componentes do reator. Na Usexa (Unidade Piloto para Produção de Hexafluoreto de Urânio), os membros do Conselho Tecnológico conheceram todo o processo de conversão do yellowcake em gás UF6. A unidade deve entrar em operação no início de 2011 e terá capacidade para fabricar 40 toneladas de urânio enriquecido por ano, demanda suficiente para o Programa Nuclear da Marinha. Além disso, o projeto piloto permitirá no futuro a certificação dos processos físico-químicos para a produção do elemento em escala industrial.
No Laptep (Laboratório de Teste e Propulsão), foi apresentada a infraestrutura em que são testados todos os equipamentos de propulsão, como turbinas e motores elétricos. Visitaram também as obras de montagem do Labgene (Laboratório de Geração Núcleo-Elétrica), que devem ser concluídas em 2014.
Para finalizar, o grupo teve acesso ao Labmat (Laboratório de Materiais Nucleares do Centro Tecnológico da Marinha em São Paulo), projetado e construído para desenvolver e fabricar combustíveis e materiais de aplicações nucleares e outros equipamentos de interesse da Marinha do Brasil. No ensejo, os engenheiros do SEESP puderam ver de perto alguns materiais como o yellowcake e pastilhas de urânio.