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TECNOLOGIA - Ensino de engenharia requer envolvimento prático e criatividade

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Lucélia Barbosa

         Formar profissionais capacitados a enfrentar os desa­fios do século XXI e as demandas do desenvolvimento das nações exigirá lançar mão de métodos avançados e cativantes de ensino, além de garantir envol­vimento prático dos alunos. A receita foi dada por Lueny Morell, gerente do Programa de Inovação e Pesquisa da HP (Hewlett Packard), numa palestra entusiasmada, realizada em 3 dezembro, no auditório do SEESP. 
         Iniciativa do Isitec (Instituto Superior de Inovação e Tecnologia), em fase de implantação pelo sindicato, o evento inaugurou a série “Encontros de Tecnologia de Educa­ção em Engenharia”, que pretende, ao lon­go de 2011, discutir as mudanças necessárias no ensino da profissão, assegu­rando nível de excelência aos egressos.
         Também membro da Fundação Nacional de Ciências dos Estados Unidos e do Comi­tê Consultivo Internacional de Ciência e En­genharia, Morell ressaltou a necessidade de cooperação para se chegar a tal meta: “Te­mos que reformular o ensino para que sirva melhor à sociedade. Os problemas enfren­tados hoje só poderão ser resolvidos com cooperação e investimento intensivo em educação e inovação. Nenhum governo, universidade ou empresa poderão solucio­nar sozinhos esses desafios. A colaboração tem que ser parte do nosso DNA”, enfatizou.
         Conforme a conferencista, o engenheiro do século XXI precisa ter um conjunto de competências e habilidades profissionais que en­volvem características distintas co­mo capaci­dade de trabalhar em grandes grupos, de se comunicar com várias pes­soas ao mesmo tempo ao redor do mundo, de ser persuasivo, inovador e preparado para lidar com projetos complexos e conse­guir resultados surpreenden­tes. “É uma mistura de inventor, empresário e engenhei­ro”, descreveu. Segundo ela, hoje a princi­pal dificuldade do mundo é encontrar esse novo profissional. Isso porque há um descompasso muito grande entre o que as uni­versidades estão produzindo e as reais necessidades dos países. “Precisamos refor­mular o currículo dos cursos de acordo com as realidades”, sugeriu. 
         Na visão da especialista, países como Cin­gapura e Coréia do Sul estão crescendo rapidamente porque perceberam a neces­sidade de investir em ciência, tecnologia e inovação. “Essas nações notaram a impor­tância de de­senvolver suas economias baseadas no conhe­cimento. Os coreanos, por exemplo, au­menta­ram drasticamente o número de enge­nheiros formados, dividiram as escolas em três cate­gorias – geral, mercado vertical e gran­des com­panhias – e estão trabalhando de forma efetiva na qualidade dos estudantes”, informou.

Propostas para mudar
         Morell apresentou cinco ações que po­dem melhorar o ensino de engenharia. A primeira é inovar e reformar o currículo e a experiência de aprendizagem. Conforme ela, embora as escolas tenham como obje­tivo preparar os alunos para a profissão, elas são fortemente influenciadas pelas tra­dições acadêmicas que na maioria das ve­zes estão obsoletas. 
         Foco na aprendizagem é o segundo desa­fio. Para a conferencista, o educador deve ser mentor dos alunos e preencher a lacuna entre a maneira de ensinar e a prática dos engenheiros. “Nos Estados Unidos, 87% dos professores utilizam a palestra como princi­pal método de ensino. Isso é tão ineficiente que uma pesquisa constatou que 70% dos estudantes prestam atenção ape­nas aos dez primeiros minutos da aula e somente 20% acompanham a explanação por 50 minutos”, relatou. Para tornar o pro­cesso mais estimu­lante, Morell sugere a criação de ambientes de prática para que alunos e professores trabalhem em projetos reais. “O ideal é atuar em equipe, visitar empresas, fazer exercícios frequentes em sala de aula, laboratórios, entre outras ações”, recomendou. 
         Outra mudança é fomentar a criatividade. “Essa ação tem que ser uma cultura. Porque inovação é o instrumento específico do em­preen­dedorismo e da empregabilidade. É a capacidade de criar riqueza e um mundo me­lhor”, destacou. 
         Implantar um processo de avaliação contínua e garantia de qualida­de é a quarta proposta su­geri­da por Morell. Conforme explicou, a esco­la de engenharia é a empresa mais importante da humani­dade, porque cria talentos que transfor­mam a vida das pessoas e, por isso, deve garantir excelên­cia no ensino. “A meta é definir ações, executá-las e procurar sempre me­lhorá-las.” A quinta missão é educar o pro­fessor, muitas vezes uma mescla preo­cupante de engenheiro que não pratica a pro­fissão e educa­dor que não é da área. “Essa é a tarefa mais difícil. O perfil dese­jado é uma mistura equilibra­da do acadêmico com o profissional que atue em projetos reais. Um mentor comunicativo que consiga atrair os alunos, além de ser comprome­tido com a cidadania global”, apontou. 
         O debate contou com a participação de João Sérgio Cordeiro, professor da UFSCar (Univer­sidade Federal de São Carlos) e presidente da Abenge (Associação Brasileira de Ensino de Engenharia); Paulo Afonso Ferreira, 1º secre­tário da CNI (Confederação Nacional da In­dústria) e diretor-geral do IEL (Instituto Eu­valdo Lodi); e Roberto Lobo, presidente do Instituto Lobo para o Desenvolvimento da Edu­cação, da Ciência e da Tecnologia.

 

 

 

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