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Gênero - Mais mulheres na engenharia, apesar das dificuldades

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Rosângela Ribeiro Gil

A participação feminina na engenharia vem aumentando ao longo das duas últimas décadas. A constatação está no estudo produzido pelo Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (Dieese) em 2014 para o SEESP. O trabalho indica que em 1995 as mulheres representavam 11% do total de profissionais do Estado; em 2005, já eram 15%; em 2008, 17%; e em 2013, alcançaram o patamar de 19%.

Apesar de ser uma categoria ainda majoritariamente masculina, em termos relativos, o aumento da ocupação feminina no período equivaleu a 128%, ante 72% da masculina. Para o presidente do SEESP, Murilo Celso de Campos Pinheiro, essa é uma notícia alvissareira, pois indica “maior igualdade de gênero na profissão”. Movimento também identificado pela diretora da Delegacia Sindical em Rio Claro, Lígia Marta Mackey: “Os empregos formais das mulheres na nossa área estão em crescimento. Estamos conquistando o espaço e o respeito que merecemos.”

A engenheira civil Renata David Scarabello também percebe esse incremento no País – para ela, um bom motivo para celebrar o Dia Internacional da Mulher, comemorado em 8 de março. “Provamos a cada momento que somos capazes e inteligentes”, constata. Na sua ótica, decididamente a engenharia não é uma profissão masculina. Mackey concorda. A estudante de Engenharia Elétrica Renata Ornelas Guenaga reforça a posição, dizendo que a atividade é para quem gosta de ciências exatas e de muitos desafios, e o gênero não define isso.

Apesar dos avanços, nem tudo são flores ainda. De acordo com relatório de Desigualdade de Gênero divulgado pelo Fórum Econômico Mundial em 2014, os indicadores brasileiros colocam o País entre os mais desiguais do mundo (acompanhado de Japão e Emirados Árabes), no grupo dos que fizeram investimentos importantes na educação das mulheres, mas não conseguiram remover as barreiras à participação delas no mercado. A professora Marta Bergamin, da Fundação Escola de Sociologia e Política de São Paulo (FespSP), especialista na área de trabalho e gênero, diz que os dados são inegáveis. “É pior para a mulher negra.”

Com 33 anos de experiência na área, a presidente da Delegacia Sindical do SEESP no Grande ABC e vice-prefeita de Diadema, Silvana Guarnieri, atesta que ainda existem problemas, principalmente com relação aos salários ofertados às mulheres. Ela acredita que a predominância do sexo masculino no setor se deve a uma condição cultural do País, mas que a situação está mudando. “A mulher tem um perfil dinâmico, sempre se posiciona com relação aos seus direitos e deveres, portanto pode atuar, com mérito, onde quiser”, ressalta.

Discriminação
A engenheira agrônoma e diretora da Delegacia Sindical do SEESP em Piracicaba, Fabiane Becari Ferraz, que atua em consultoria ambiental, nunca viu a profissão como eminentemente masculina e não teve qualquer problema durante os estudos. Ela sentiu o peso do preconceito na hora de entrar no mercado de trabalho. “Deixei de ser contratada por ser mulher”, conta. Na sua visão, muitas vezes a discriminação maior vem do colega de profissão. “Já participei de reunião com outros engenheiros em que parece que você fica invisível”, lamenta. Ferraz não consegue explicar a causa desses percalços e arrisca dizer que algumas pessoas teimam, ainda, em não reconhecer a competência do gênero feminino. O machismo é tão naturalizado que, como constata Bergamin, as próprias mulheres não conseguem identificar a discriminação que sofrem. “Sequer podem se afirmar como feministas, porque isso, na sociedade brasileira, parece radical demais”, salienta.

Suzie Helena Herrera, engenheira eletricista de planejamento da Companhia Piratininga de Força e Luz (CPFL) e diretora da Delegacia Sindical do SEESP em Campinas, relata que optou pela área em razão da liberdade financeira que proporciona. “Tenho condições de me manter sozinha com o meu trabalho, sem depender de ninguém”, explica. Há 27 anos na profissão, ela endossa que não é fácil para a mulher entrar nesse mercado e alcançar reconhecimento. “Infelizmente, só comecei a ser mais respeitada com o passar do tempo. Quando me formei, tinha 24 anos, e os homens não me respeitavam como profissional.” Ela critica o fato de ainda existirem poucas gerências e coordenações de engenharia ocupadas por mulheres.

Ciente dos desafios que enfrentará para entrar no mercado de trabalho, a estudante de Engenharia de Inovação do Instituto Superior de Inovação e Tecnologia (Isitec) Juliana Akai destaca: “Muitas engenheiras são consideradas incapazes de participar de projetos apenas por serem mulheres e tem até resistência na hora da contratação pelo fato de que, em caso de gravidez, a licença-maternidade é necessária.” Todavia, Akai prevê um mundo profissional melhor, deixando para trás qualquer resquício de “guerra dos sexos”. E convoca: “Imagino que um ‘toque’ mais humano na engenharia é essencial.”

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