Deborah Moreira
O Núcleo Jovem Engenheiro do SEESP lançou em 6 de agosto a publicação “Cresce Brasil + Engenharia + Desenvolvimento – Itaim Paulista”. A atividade ocorreu no salão da Paróquia São José Operário, no bairro no extremo leste da Capital. Reunindo as conclusões do trabalho realizado pelos 47 voluntários que integram o órgão do sindicato, a iniciativa aponta propostas para melhorar a qualidade de vida da população do Itaim Paulista, que sofre há décadas com enchentes durante as chuvas de verão.
É um desdobramento do projeto “Cresce Brasil + Engenharia + Desenvolvimento”, da Federação Nacional dos Engenheiros (FNE). Com tiragem de mil exemplares, a publicação foi distribuída aos presentes e membros de associações locais.
“Estudamos o bairro sob a perspectiva da engenharia, mas ao chegar aqui encontramos outra realidade. Identificamos os projetos de engenharia que estão sendo realizados por órgãos públicos (do Estado e da Prefeitura). Foi aí que percebemos que a necessidade dos moradores não era essa, mas sim de apoio para amenizar o impacto dos alagamentos e reduzir perdas materiais”, explicou no ensejo a coordenadora do Núcleo Jovem, Marcellie Dessimoni, que em seguida discorreu sobre as contribuições dos jovens.
Para sanar a falta de informação, principalmente no momento das chuvas, a proposta é o desenvolvimento de um aplicativo de fácil uso, em smartphones, para acionar diretamente órgãos competentes como a Defesa Civil. Além da produção de cartilha de educação ambiental e destinada a crianças e adolescentes e a organização de uma feira educativa com atividades de cultura e lazer. Também está prevista a criação de mais ecopontos na região.
Murilo Pinheiro, presidente do SEESP, enfatizou o engajamento do grupo na “busca por soluções factíveis”, ao encontro das demandas locais. Esforço que se combina com a ação da entidade em prol da sociedade como um todo. “Nosso sindicato discute questões da comunidade, da engenharia, da tecnologia, contribuindo para uma cidade melhor”, completou.
A ideia de contribuir com o bairro começou com uma doação de mantimentos e alimentos para as vítimas das enchentes, feita pelo Núcleo. Sensibilizados, engenheiros experientes, recém-formados e estudantes iniciaram um estudo de campo, em 7 de maio último. No dia 21 do mesmo mês, foi realizada a primeira reunião para análise dos dados coletados. Em 4 de junho, uma mesa-redonda reuniu especialistas para discutir problemas relacionados às inundações. Duas semanas depois, uma nova reunião consolidou o projeto, definindo ações e propostas que podem ser conferidas no link http://goo.gl/Mp4CPj.
Histórico
De acordo com os moradores do Itaim Paulista, o drama das inundações e alagamentos se repete ano a ano, desde a década de 1980. Consta no livro “O Itaim Paulista”, do historiador e professor Jesus Matias de Melo, uma ata de reunião ocorrida no dia 15 de abril de 1963, entre população e políticos locais. Já à época, indicava-se a seguinte reivindicação: “Dar vazão às águas que empoçam na Rua Barena, próxima à Rua México (133) e idem Rua Hurtado, esquina com Rua Itaim.”
Ainda conforme os relatos, uma mineradora explorava uma lagoa no bairro, com a escavação contínua de areia, nas décadas de 1960 e 1970. Depois, com o fim da atividade, instalou-se um lixão, que foi fechado a partir dos protestos dos moradores. No entanto, não há registros de compensação ambiental pela exploração da mineradora.
A região compreende uma área de 21,7 quilômetros quadrados e está situada em colinas que ladeiam as várzeas dos córregos Três Pontes, Tijuco Preto, Itaim, Lajeado e Água Vermelha, todos afluentes do Rio Tietê em sua margem esquerda. No centro do bairro, está o córrego Itaim. Com a urbanização, nos últimos quase 70 anos (até a década de 1960 era considerado área rural), expandiu-se de modo radial, ao longo dos seus principais eixos viários: Estrada São Paulo-Rio, atual Avenida Marechal Tito, Estrada Dom João Nery, Estrada Tibúrcio de Souza e a linha ferroviária.
Em 1980 a região foi elevada à condição de distrito autônomo, desmembrando-se de São Miguel Paulista. A melhoria da infraestrutura, no entanto, não acompanhou o crescimento demográfico – dados do Censo 2000, do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), apontam uma população de 359.215 habitantes, incluindo o distrito de Vila Curuçá.
Presente ao lançamento, a dona de casa Marcia de Fátima Pereira, moradora há 25 anos do Jardim Romano, localizado na mesma região, contou: “Em 1988, quando comprei o terreno para construir, foi um dos momentos mais difíceis, quando descobrimos que o lugar inundava e vimos nossa casa com um metro de água.” Ela integra o Conselho Participativo e o Conselho Gestor da Área de Proteção Ambiental (APA) Várzea do Tietê, além de ter fundado, juntamente com vizinhos, a Associação dos Moradores do Jardim Romano (Ajamar). Atualmente, as principais reivindicações nesse bairro – onde foi construído um dique de contenção em 2011, que solucionou, ao menos nessa área, o problema dos alagamentos – são a regularização fundiária e a permanência das famílias em suas casas – para evitar mais desapropriações.