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CRESCE BRASIL - Engenharia nacional pega carona na expansão da indústria automotiva

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Lucélia Barbosa


        O boom de investimentos anunciado recentemente por fabricantes de automóveis para a instalação de novas unidades e expansão das já existentes no País traz a perspectiva de ampliação de pesquisa e desenvolvimento brasileiros no setor. É o caso da francesa Renault, que ampliará a sua fábrica em São José dos Pinhais, no Paraná. Ao todo, serão destinados R$ 1,5 bilhão até 2015, e a produção anual de veículos passará de 224 mil para 383 mil unidades.

        O aporte prevê a criação de centros de engenharia para a busca de novas tecnologias e produtos e de treinamento, além de mais uma área para logística. Como resultado, serão criados 2 mil novos postos, dos quais 50% serão preenchidos ainda em 2011.

        A japonesa Nissan também anunciou a construção de uma unidade em Resende, no Rio de Janeiro. Com investimentos da ordem de R$ 2,6 bilhões e geração de 2 mil empregos, a nova planta terá capacidade para produzir até 200 mil unidades por ano e entrará em operação no primeiro semestre de 2014. Em negociação com o governo federal, a chinesa Jac Motors também pretende implantar sua fábrica na Bahia. Com investimento de R$ 900 milhões, a meta é que esteja pronta em 2014. A capacidade de produção será de 100 mil automóveis por ano e serão gerados 3,5 mil empregos diretos. O projeto inclui um centro de engenharia para criação de novas tecnologias, centro de estilo e design, laboratórios de controle de emissão de poluentes e pista de testes.

        Também investirá no Brasil a chinesa Chery. A filial será construída em Jacareí, São Paulo, e somará investimentos de US$ 400 milhões. A nova indústria tem início das operações previsto para setembro de 2013 e gerará 1.200 empregos diretos na primeira fase, com produção de 50 mil carros por ano. Na segunda etapa, programada para 2015, criará mais 4 mil postos fixos e atingirá a marca de 150 mil veículos por ano. O projeto prevê também a instalação de um centro de pesquisa e desenvolvimento no local.


Aumento do IPI
        Esse novo cenário coincide com a nova política automotiva imposta pelo governo federal através do Decreto nº 7.567, em vigor desde 16 de setembro último, que regulamenta o aumento das alíquotas do IPI (Imposto sobre Produtos Industrializados) para 30% para automóveis importados. A medida, que visa proteger a indústria nacional, atrair investimentos e estimular a geração de empregos no País, impõe ainda exigências aos fabricantes de veículos que quiserem se livrar da alta do tributo. Entre elas, utilização de no mínimo 65% de conteúdo nacional e regional, realização de pelo menos seis de 11 etapas produtivas no Brasil e investimento de 0,5% da receita bruta total de venda de bens e serviços em pesquisa e inovação tecnológica no País.

        Conforme Luiz Moan, vice-presidente da Anfavea (Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores), as inversões anunciadas pelas montadoras indicam que o decreto sobre o IPI foi uma medida acertada, já que gerou mais confiança de quem efetivamente quer produzir no Brasil. “É a primeira vez que o governo busca fortalecer a inteligência automotiva no País com exigência de investimento local em pesquisa”, destacou durante coletiva de imprensa realizada no dia 6 de outubro.

        Ainda segundo ele, apesar da crise internacional, a entidade mantém a previsão de crescimento de 5% do mercado interno de autoveículos e máquinas agrícolas para 2011.


Oportunidades
        Na opinião de Nilton Monteiro, diretor técnico e executivo da AEA (Associação Brasileira de Engenharia Automotiva), os investimentos trazem boas perspectivas de empregos para a categoria. Renato Romio, chefe da Divisão de Motores e Veículos do Instituto Mauá de Tecnologia, acredita que a demanda por engenheiros aumentará tanto pela expansão do parque industrial como pela tendência de se manter o atual ritmo de crescimento do País. Além disso, na sua opinião, a globalização dos processos produtivos favorece a participação dos brasileiros na inteligência automotiva das montadoras. “Os profissionais podem interagir em desenvolvimentos daqui ou mesmo participar lá fora dos processos tecnológicos”, diz Romio.

        Menos otimista, o professor-doutor Mauro Zilbovicius, do Departamento de Engenharia de Produção da USP (Universidade de São Paulo), lembra que, historicamente, a atividade tecnológica de ponta ocorre nas matrizes das empresas, restando apenas desdobramentos marginais de projetos para as subsidiárias. Na sua visão, a projeção de postos de trabalho para engenheiros dependerá da relevância que as empresas vierem a dar à atividade de projeto no Brasil. “Ao longo dos últimos dez ou 15 anos, houve aumento da produção no Brasil e crescimento da contratação de engenheiros para atividades que não estão relacionadas a projeto, desenvolvimento e inovação, mas à supervisão das linhas de produção ou para gerir esses processos”, pondera.




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