Como faz tradicionalmente desde 1987, o SEESP entregou em 7 de dezembro último, em cerimônia na sua sede, na Capital, aos destaques do ano em suas áreas de atuação o prêmio Personalidade da Tecnologia. A homenagem é feita em comemoração ao Dia do Engenheiro – 11 do mesmo mês. Nesta edição foram agraciados Mauricio Pazini Brandão (categoria Aeroespacial), Vania Beatriz Rodrigues Castiglioni (Agricultura), Roberto Zilles (Energia), Ricardo Daruiz Borsari (Recursos hídricos), Jon “Maddog” Hall (Telecomunicações e TI) e Paula Carvalho Benevides (Valorização profissional).
Além disso, desta vez, foi feita homenagem póstuma especial ao engenheiro José Carlos de Figueiredo Ferraz (1918-1994). Entre outras realizações, ele foi responsável, juntamente com sua equipe, pelo projeto e soluções inovadoras que tornaram possível a construção do Museu de Arte de São Paulo (Masp) há 50 anos (leia no JE 522)(inserir link). A honraria foi entregue ao presidente da Figueiredo Ferraz Consultoria e Engenharia de Projeto, João Antônio del Nero.
A saudação inicial aos contemplados com o prêmio coube ao professor da Escola Politécnica da Universidade de São Paulo (Poli-USP) e coordenador do Conselho Tecnológico do SEESP, José Roberto Cardoso, que destacou o fato pioneiro de se agraciar uma personalidade do exterior – o americano Jon “Maddog” Hall, engenheiro de software que desenvolveu o sistema operacional Linux. Outra inovação em 2018, que também mereceu ênfase, foi a homenagem póstuma especial. “Figueiredo Ferraz foi professor da Poli, teve uma carreira acadêmica brilhante e profissional ainda mais. Em setembro último ele completaria 100 anos de idade”, pontuou Cardoso.
O coordenador explicou como é feita a indicação ao prêmio: “O Conselho Tecnológico conta cerca de 250 engenheiros, personalidades, a maioria formadora de opinião. De início identificamos as cinco áreas em que o prêmio será concedido. Recebemos uma quantidade razoável de indicações, através de currículos, e passamos três meses discutindo. Convergindo os nomes, esses são convidados a comparecer a essa cerimônia para ser contemplados.”
Cardoso também aproveitou o ensejo para falar sobre as mudanças nas diretrizes curriculares nacionais por que a engenharia vem passando neste momento. Segundo ele, a profissão se transformou muito e é importante a revisão em andamento. “Não podemos pensar o engenheiro que trabalha isolado, fazendo contas. Agora tem que atuar em equipe, saber se comunicar, ter conhecimento de economia, história, novas competências.” O coordenador do Conselho Tecnológico observou que o Brasil é o 13º país que mais produz artigos em revistas qualificadas, no entanto, ocupa a 69ª posição em inovação, que “é o que mais gera riqueza a uma nação”. E vaticinou: “Deveríamos ter mais para que o Brasil não passasse pelas dificuldades que enfrenta. As novas diretrizes visam mudar isso, formar o engenheiro que inova, cria, gera riqueza. Este dia é para reflexão a respeito.”
Diretor-presidente da Mútua – Caixa de Assistência dos Profissionais dos Creas, Paulo Guimarães informou os presentes que a solenidade em celebração ao Dia do Engenheiro ocorria na data em que a Mútua completava 41 anos de criação, reconhecida pela revista Exame como uma das 150 melhores empresas. “Temos grandes desafios junto ao SEESP, à Federação Nacional dos Engenheiros, ao Sistema Confea/Creas, às lideranças nacionais, na qualificação e assistência. Que possamos acolher cada vez mais e melhor o profissional da área tecnológica.”
A voz dos premiados
Ao receber a honraria na categoria “Aeroespacial”, Mauricio Pazini Brandão salientou a importância do setor: “É de alta intensidade tecnológica e leva à produção de alto valor agregado.” Criador do curso de Engenharia Aeroespacial no Instituto Tecnológico de Aeronáutica (ITA), ele destacou que está devolvendo à sociedade o que lhe foi dado em conhecimento, junto a instituições públicas. “É uma área que requer muito estudo, especialização e dedicação. Nasceu na prática com Santos Dumont, em 1906. É um produto brasileiro que temos que levar à frente.” E frisou: “Sou o terceiro contemplado com o prêmio no setor. Essa homenagem é pelo que fiz no passado, mas ainda farei muito. Vocês vão ouvir muito meu nome com respeito a inovação. Tudo pela engenharia do Brasil.”
Vania Castiglioni afirmou o orgulho de ser agraciada em “Agricultura” por uma entidade que tem uma história de mais de 80 anos em defesa da engenharia, da democracia e do desenvolvimento nacional. Com uma contribuição de 32 anos em ensino, pesquisa, desenvolvimento e inovação ao setor, como afirmou, seu “casamento com a Embrapa (Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária) nos últimos 20 anos é norteado pela responsabilidade com a gestão da coisa pública”. Ciente de sua missão, afirmou seguir “imbuída da dedicação ao crescimento e fortalecimento da agricultura sustentável e segurança alimentar”.
Na área de “Energia”, Roberto Zilles elogiou o SEESP por sua busca pelo desenvolvimento nacional sustentável, que culminou na lembrança da área em que atua: sistemas fotovoltaicos. “Energia solar atende demanda social muito importante, de levar energia a áreas remotas. Começamos a eletrificação junto à população do Vale do Ribeira, proporcionando qualidade de vida a quem era refém da lamparina. Isso tem a ver com inovação.” O agraciado concluiu: “Há muito por ser feito, como propugna o projeto ‘Cresce Brasil’(inserir link) (iniciativa da Federação Nacional dos Engenheiros), e é preciso formar para tanto os engenheiros que a sociedade está demandando, com conhecimento de diversas áreas e interação para que tenhamos um mundo melhor.”
Ricardo Borsari salientou a honra de ser agraciado em “Recursos hídricos”. “É um trabalho de equipe. Focar o saneamento como prioridade nos deixa muito contentes.” Entre suas realizações, ele destacou avanços no Estado de São Paulo, em que o abastecimento de água alcança praticamente 100%. “Criamos o Programa Água Limpa(inserir link) com financiamento a fundo perdido para tratamento de esgoto nas municipalidades. Atingimos a universalização em mais de 150 delas.” Borsari salientou ainda o enfrentamento da crise hídrica a partir de 2014, um trabalho de grande porte, com investimentos de quase R$ 5 bilhões em três anos. “Em 2018 tivemos um período quase tão seco quanto aquele e nenhum solavanco”, comemorou. E encerrou: “Não é possível imaginar o crescimento nacional sem saneamento. Nada é mais eliminador das distâncias sociais. Fazer engenharia com esse objetivo é um compromisso de vida.”
Em Telecomunicações e TI, Jon “Maddog” Hall agradeceu a homenagem enfatizando alguns feitos que completam meio século em 2019. “O próximo ano é muito importante, porque fará 50 anos que escrevi meu primeiro programa de computador e do nascimento do Linux na Finlândia.” Além disso, recordou que há 25 anos surgiu a primeira versão desse sistema operacional e foi construído um supercomputador, o que permitiu a democratização da informática – ao encontro de seu projeto “Caninos Loucos” (inserir link), que visa geração de empregos para jovens no Brasil e oferecer novas tecnologias a baixo custo. Ao afirmar seu amor por este país, ele salientou as façanhas da engenharia da área, como o supercomputador feito na USP em 1996. “Aqui descobri coisas incríveis, como o fato de sediar uma das maiores conferências mundiais de software livre.” “Maddog” alertou: “Como sociedade, não podemos colocar tecnologia crítica nas mãos de outro país. Isso nos coloca numa situação muito perigosa. Convido todos os ‘cachorros loucos’ da plateia a ajudarem nesse projeto.”
“Valorização profissional, para mim, não é só reconhecer, transmitir e liderar. É olhar no olho, ouvir as pessoas, estar a serviço do propósito maior de construção de um país melhor e do desenvolvimento humano. Ter empatia e buscar soluções ao Brasil.” Assim Paula Benevides se pronunciou sobre a homenagem recebida. Ela expressou ainda o orgulho de ser “reconhecida por essa casa, cujo propósito é alavancar a engenharia à máxima potência e fazer a diferença em cada ato, que tem sido um aprendizado para mim.”.
Por fim, del Nero recebeu a homenagem póstuma a Figueiredo Ferraz. Além de enfatizar seus feitos, entre os quais o Masp – “uma obra de arte” –, ressaltou: “A engenharia é muito importante e passa por um momento muito difícil.
Todos nós, profissionais, temos que ajudar a erguê-la. Temos a missão de retomá-la.” Segundo a Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE), citou del Nero, na Rússia e na Coreia do Sul, a cada 10 mil habitantes, há 20 engenheiros; no Chile e Portugal, 16; e no Brasil, 5 ou 6. “Precisamos formar mais. Não podemos ser dependentes de tecnologia estrangeira.” Ele criticou ainda que não se busque – como é feito no exterior – manter empresas nacionais de engenharia, mediante acordos de leniência, em casos de corrupção por parte de seus quadros. Ou seja, julgar e, se for o caso, condenar o indivíduo que cometeu ato ilícito, não fechar a empresa. “A pessoa jurídica não pode parar. É importante ao desenvolvimento do País e à geração de empregos.”
Murilo Pinheiro, presidente do SEESP, encerrou agradecendo os premiados pelo trabalho e dedicação que “engrandecem o Estado e o País”. “É sem dúvida um grande dia. Passamos um ano extremamente difícil, mas talvez de muito aprendizado. Dois mil e dezenove será difícil, mas estamos otimistas. O engenheiro tem uma responsabilidade grande nas discussões, na participação. Vamos precisar lutar muito. Façamos, unidos, deste um país mais justo e com mais oportunidades a todos, o Brasil que todos queremos”, finalizou.
Confira o currículo dos premiados.
Cobertura na íntegra neste site.
Por Soraya Misleh