Rita Casaro
O empreendimento de alto padrão que será erguido num terreno de quase 4 mil metros quadrados está no segundo ano de obra e deve ficar pronto em outubro. À frente do canteiro que já chegou a ter quase 200 funcionários está Jéssica Novais, engenheira residente da obra que, aos 29 anos, comemora o sucesso nesta etapa da vida profissional. “É uma função bem desafiadora, mas é muito gratificante, especialmente ter o retorno que é o produto final, quando chega no término, e ver que tudo o que estava planejado deu certo.”
Interessada por construção desde a infância, quando observava o pai em ação, e com gosto por cálculo e projetos, a opção pelo curso de Engenharia Civil na Universidade Mogi das Cruzes (UMC), concluído em 2014, foi natural e certeira. “Quando comecei a faculdade e a conhecer as disciplinas, vi que tinha feito a escolha correta”, celebra.
Numa profissão ainda majoritariamente masculina, embora também tenha enfrentado resistências no início, a experiência de Jéssica, na faculdade ou na construtora Trisul onde entrou como estagiária em 2012 e foi galgando diversos postos até o atual, não é exatamente a de invadir o “clube do Bolinha”. “A minha turma na faculdade era a que tinha mais mulheres, cerca de 30% a 40% do total. Hoje, na equipe de engenharia, nós somos sete, sendo três mulheres.”
Para que essa presença feminina se amplie cada vez mais e de forma qualificada, a engenheira acha imprescindível haver incentivo por parte das universidades e das empresas, especialmente para iniciar na profissão. “A primeira oportunidade, como a que eu tive, é fundamental”, destaca.
Em entrevista ao Jornal do Engenheiro, ela fala dessa trajetória, dos desafios da profissão e dos planos futuros.
Qual a sua trajetória profissional até aqui?
Iniciei na Trisul como estagiária e neste ano estou completando nove anos na construtora. Ao longo do tempo, fui adquirindo mais experiência e obtendo promoções; fui analista e hoje exerço a função de engenheira de obra, tocando uma no Ipiranga (bairro paulistano), num terreno de quase 4 mil metros quadrados, onde chegamos a ter quase 200 funcionários. É um empreendimento de alto padrão que está no segundo ano de obra e previsto para entrega em outubro. Tem o meu gerente que dá apoio, mas eu, como engenheira residente, faço o gerenciamento de todos os serviços e da equipe do canteiro.
Como é ter toda essa responsabilidade, sendo mulher e jovem?
É uma função bem desafiadora. Hoje em dia o ramo feminino está mais presente, mas ainda é minoria. São situações dinâmicas a cada dia. Mas é muito gratificante, especialmente ter o retorno que é o produto final, quando chega no término da obra, e ver que tudo o que estava planejado deu certo.
Qual foi o impacto da pandemia do novo coronavírus nessa rotina?
Foi uma situação em que tínhamos que nos adaptar. Os canteiros tiveram instalados pontos de higienização, foi preciso aumentar os refeitórios para manter o afastamento, assim como as áreas de vivência, distribuímos máscaras. Estamos ainda mantendo todo esse protocolo, porque a pandemia não acabou. E houve também falta de matéria-prima, atrasos de materiais. Além dos desafios corriqueiros do canteiro, esses são os novos que estamos enfrentando da melhor maneira possível até que essa pandemia acabe.
Quais os planos para o futuro?
O canteiro de obras é o que me move. Eu pretendo fazer uma pós-graduação que foi adiada por causa da pandemia. E aceitar novos desafios, como foi essa obra. Quero cada vez mais me aperfeiçoar, mas por enquanto pretendo trabalhar em obra, que é o que eu gosto.
Você sempre quis ser engenheira?
Eu sempre gostei muito de obra. Meu pai era trabalhador autônomo, construía as casas dele, fazia as reformas e eu sempre queria estar no meio, saber como funcionava. E também sempre gostei de cálculo, de projetos, então foi o que me fez optar por esse ramo. Quando comecei a faculdade e a conhecer as disciplinas, vi que tinha feito a escolha correta.
No começo foi um pouco difícil, houve certa resistência, mas depois eu tive apoio. Hoje está mais fácil essa aceitação, na época que eu fiz ainda tinha preconceito.
Houve dificuldades em transitar por esse mundo majoritariamente masculino na faculdade ou no trabalho?
Na minha sala, eram 30% a 40% de mulheres. A minha turma era a que tinha mais mulheres. Hoje na Trisul a gente tem um efetivo bem considerável, como engenheiras, analistas ou estagiárias. Na minha obra, na equipe de engenharia, nós somos sete, sendo três mulheres, uma quantidade razoável por ser ainda uma profissão masculina. Vimos percebendo que mesmo o público está recebendo melhor as mulheres na engenharia; o respeito está vindo de uma forma bem positiva de clientes, operários e colegas. Aos poucos estamos conseguindo alcançar o nosso objetivo no canteiro de obra; tem dificuldades, mas nada fora do normal.
Avaliando a sua experiência, o que seria importante para atrair mais mulheres para a engenharia?
Esta reportagem, por exemplo, é um dos métodos para incentivar outras mulheres, não só na engenharia, mas em qualquer outra atividade em que ainda predomine o gênero masculino. As oportunidades que as empresas dão para as mulheres são de grande relevância, porque ajudam a servir de exemplo para outras e não permitir que deixem o sonho de lado. Claro que força de vontade e a garra de correr atrás servem para todos, mas o incentivo das empresas e universidades é importante. A primeira oportunidade, como a que eu tive, é fundamental para desenvolver a sua carreira, assim como os programas de incentivo e estágio. Tem dificuldades e desafios, mas nada é mais gratificante do que chegar onde a gente almeja. A quem estiver em dúvida ou insegura, eu digo para seguir em frente que dá tudo certo. Mantendo o profissionalismo e a seriedade a gente vai conquistando respeito e admiração.
Confira o vídeo da entrevista