Soraya Misleh
No dia 9 de fevereiro, no auditório do SEESP, na Capital paulista, aconteceu o seminário “Mobilidade urbana no contexto do plano estratégico do SP 2040”. A atividade contou com aproximadamente 300 participantes, incluindo autoridades, técnicos e especialistas do setor. À abertura, o coordenador da iniciativa e diretor do sindicato, Edilson Reis, destacou que esse é o primeiro de uma série de eventos que serão desenvolvidos ao longo deste ano com o objetivo de debater o planejamento estratégico da cidade.
Presidente do SEESP, Murilo Celso de Campos Pinheiro salientou que, nesse contexto, o plano SP 2040 – apresentado em 2011 pela Prefeitura de São Paulo e em debate – é um caminho para se discutir mobilidade. Para o gerente técnico da Secretaria Nacional de Transporte e da Mobilidade Urbana, João Alencar Oliveira Junior, a própria lei da mobilidade urbana (nº 12.587/12) vincula as demais instâncias de governo – estaduais e municipais – a olharem para esse horizonte de longo prazo.
Segundo o secretário municipal de Desenvolvimento Urbano de São Paulo, Miguel Bucalem, o SP 2040 traz a visão da cidade que se quer e das grandes escolhas necessárias. Tem como um dos cinco eixos a mobilidade. Nesse sentido, Bucalem informou que a fluidez no deslocamento foi um dos itens apontados como prioritários pelos cidadãos que participaram recentemente de consulta pública sobre o plano. Na sua opinião, talvez o grande desafio para resolver o problema seja dar conta de soluções que transformem o cenário atual, em que ¾ dos empregos estão concentrados no centro expandido, portanto, em ¼ do território.
Outro desafio apontado por ele é ampliar o índice de cidadãos transportados por veículos sobre trilhos. Dialogando com planos do governo estadual – conforme enfatizado pelo secretário dos Transportes Metropolitanos, Jurandir Fernandes –, o SP 2040, que inclui um horizonte intermediário até 2025, traz como meta para daqui a 13 anos ter-se 220km de metrô, ante os cerca de 74km atuais. A importância de se incrementar inversões na implantação de veículos leves sobre trilhos, aí incluídos trens regionais e de alta velocidade, foi abordada por Vicente Abate, presidente da Abifer (Associação Brasileira da Indústria Ferroviária), e Peter Ludwig Alouche, consultor na área de transportes.De acordo com Bucalem, outros modais também estão contemplados no SP2040.
Para Laurindo Junqueira, da SPTrans, nessa discussão de planejamento estratégico, é fundamental levar em consideração a centralidade do município em relação ao País, cuja vocação não deve se alterar em 2040. “Fluxos diversos passam por São Paulo, que influencia diretamente 1.026 cidades brasileiras.” Assim, na sua visão, para solucionar o problema da mobilidade, é importante que as várias instâncias de governo promovam ações articuladas. Ele salientou ainda o desafio de se mudar o panorama em que a frota de automóveis é de 7,3 milhões, sendo que metade sai diariamente às ruas, priorizando-se o transporte coletivo. Na sua concepção, é preponderante pensar na escassez não apenas do ambiente, mas também de outros elementos, como espaço urbano. “Os planos têm que levar isso em conta e tornar acessível o território aos cidadãos, diminuindo distâncias.” Fernandes ponderou que a cidade policêntrica e compacta, como refletido no SP 2040, é tema essencial.
Política de estacionamento
Para Nazareno Affonso, ao lado da priorização ao transporte público, é preciso ter uma política de estacionamento para disciplinar o uso de automóveis. O que, indicou, está previsto na lei nacional de mobilidade urbana. Emiliano Stanislau Affonso, diretor do SEESP, observou que o sindicato inclui há muitos anos a temática entre suas preocupações. O assunto é abordado no projeto “Cresce Brasil + Engenharia + Desenvolvimento” – lançado pela FNE (Federação Nacional dos Engenheiros) em 2006, com a adesão das organizações a ela filiadas, como a entidade paulista, e atualizado em 2009.
Para ilustrar sua importância, Carlos Carvalho, técnico do Ipea (Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada), citou que o órgão em que trabalha foi procurado pelo CAD (Conselho Administrativo de Defesa Econômica), o qual investigava concentração de mercado nesse segmento. De olho em tal filão, um banco estava comprando estacionamentos em áreas centrais das principais cidades brasileiras. “O Estado tem que desenvolver política voltada para as pessoas, não para os veículos.” Na sua ótica, isso significaria definir a oferta desses serviços em determinadas áreas da cidade, limitando-os por exemplo nos grandes centros.
O seminário contou ainda com a presença do vereador paulistano Jamil Murad (PCdoB); de Eduardo Vasconcelos, da ANTP (Associação Nacional de Transportes Públicos); e de José Roberto Cardoso, diretor da Escola Politécnica da USP (Universidade de São Paulo) e coordenador do Conselho Tecnológico do SEESP.
Confira as as apresentações feitas no seminário: http://migre.me/7Vq4Q