Rita Casaro
O XII Congresso Nacional dos Engenheiros (Conse), realizado na sede do SEESP, em São Paulo, colocou em pauta na programação do dia 18 de setembro último a inteligência artificial e seus impactos sobre o mercado de trabalho da categoria.
O tema foi abordado por Marcelo Zuffo, presidente do Centro de Inovação da Universidade de São Paulo (InovaUSP), que foi categórico em defender a utilização da inteligência artificial pelos profissionais que são, conforme afirmou, os seus criadores, não devendo temê-la, portanto. “Não há risco de desemprego para engenheiros causado por ela.”
“Os grandes dilemas brasileiros podem ser resolvidos pela engenharia com auxílio da IA. A espécie humana poderia durar mais alguns milhares de anos, com a inteligência artificial podemos jogar isso para o infinito”, apostou.
Na sua avaliação, trata-se de apenas mais uma ferramenta, que segue a evolução iniciada com a régua de cálculo, sucedida pela calculadora, pelo computador e agora pela IA. “A inteligência artificial gabaritou uma prova do ITA (Instituto Tecnológico de Aeronáutica) e bateu o QI de 120. Olho isso como um grande feito da engenharia”, destacou.
Professor da Escola Politécnica da USP, Zuffo afirmou incentivar os alunos a utilizarem recursos de IA para realizar tarefas e provas, desde que o declarem. “Tenho que saber quem está usando para ampliar as fronteiras da engenharia, não para mascarar falta de aprendizagem”, pontuou.
Tal aspecto, salientou, é o grande desafio: que a tecnologia seja operada de modo apropriado. “As ferramentas são usadas para o bem ou para o mal. A questão é usar de forma ética, essa é mais do que nunca uma disciplina essencial na engenharia”, asseverou.
Benefício deve ser para todos
Antonio José Corrêa do Prado, integrante do Conselho Regional de Economia de São Paulo (Corecon-SP) e do Instituto Fome Zero, corroborou ideia segundo a qual não se deve temer a tecnologia. A questão em pauta, explanou, é verificar como a sociedade como um todo se apropria da riqueza gerada pelos avanços. “(Thomas) Malthus previa que o destino da humanidade era passar fome devido ao crescimento populacional. Hoje temos 750 milhões de pessoas com fome no mundo por questão distributiva, não por falta de alimentos”, ilustrou.
Nesse contexto, apontou, os efeitos das novas tecnologias nos indicadores socioeconômicos podem ser positivos ou negativos. “Como sei se há geração ou destruição de emprego? Se o aumento da produtividade for maior que a demanda, vai reduzir postos. Só se conseguir ampliar mercado vai manter ou aumentar. O mesmo vale para a macroeconomia. Excedentes de produção precisam encontrar mercados externos”, explicou.
Ele alertou não haver estatísticas que indiquem objetivamente ganhos de produtividade devido às ferramentas de inteligência artificial, mas citou dados que apontam para o crescimento de sua utilização. “IA será tão onipresente quanto energia elétrica, e será difundida ainda mais rapidamente”, afirmou.
confira aqui a apresentação), 72% das empresas declaram adotar IA e existem 14.800 ferramentas do gênero no mercado. Ainda, prevê-se que, até 2030, 30% dos trabalhos sejam automatizados, com a criação de 133 milhões de empregos e a eliminação de 81 milhões. A expectativa é que o mercado de IA crescerá 37% no mesmo período.
O economista lembrou também que inteligência artificial é um dos pontos da transformação digital em curso e objeto de políticas industriais em várias partes do mundo, inclusive internamente com o Nova Indústria Brasil (NIB), lançado pelo governo federal.
O painel foi coordenado pelos dirigentes Sebastião Fonseca (AC), Marcos Camoeiras (RR) e Eugênia Von Paumgartten (PA). O evento reuniu representantes dos 18 sindicatos filiados à FNE e contou com patrocínio da Mútua – Caixa de Assistência dos Profissionais do Crea e das empresas Embraer, BYD, EcoRodovias e Qualicorp.
Consultada sobre o tema, uma das ferramentas de inteligência artificial generativa que mais se popularizou recentemente, o ChatGPT, da Open IA, afirma que o futuro dos profissionais da engenharia está garantido nas tarefas complexas. Já as repetitivas e mais facilmente automatizadas tendem a ficar por conta de máquinas, softwares, bancos de dados e algoritmos.
“A IA pode atuar como uma ferramenta poderosa para melhorar a eficiência, a precisão e a produtividade, mas o trabalho de engenheiros envolve uma combinação de habilidades técnicas, criativas e de tomada de decisão que são difíceis de automatizar inteiramente”, pondera. Tais habilidades, destaca, “permanecem competências humanas insubstituíveis”.
E conclui: “Em vez de substituição, o futuro da engenharia provavelmente envolverá uma colaboração cada vez mais estreita entre humanos e IA, onde os engenheiros usam a IA para melhorar sua produtividade e foco em tarefas mais criativas e críticas.”
Confira aqui a análise completa do ChatGPT sobre engenharia e inteligência artificial
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Assista à íntegra do painel “Mercado de trabalho e inteligência artificial: oportunidades e desafios”