Soraya Misleh
Principal instância deliberativa da Federação Nacional dos Engenheiros (FNE), o XII Congresso Nacional dos Engenheiros (Conse) se encerrou com chave de ouro: a eleição da diretoria da entidade para o triênio 2025-2028 e a aprovação na plenária final de carta que elenca como ações prioritárias fortalecer o movimento sindical e valorizar os engenheiros brasileiros, em prol do desenvolvimento nacional sustentável com justiça social.
Realizado entre 17 e 19 de setembro último, na sede do SEESP, na Capital, o Conse reuniu delegados de Norte a Sul do País que reconduziram ao cargo de presidente da FNE Murilo Pinheiro, que também está à frente do sindicato paulista. A chapa 1, liderada por ele, obteve 72 votos favoráveis, ante dois brancos. O resultado foi anunciado pelo presidente da Comissão Eleitoral, Francisco Carlos Rodrigues Neto (Tuca), durante a plenária final, na qual foram apresentadas moções, debatidos desafios e propostas de ação, além de ter sido aprovada a Carta do XII Conse. O documento agrega contribuições advindas de especialistas em temas fundamentais aos engenheiros e à sociedade brasileira no decorrer dos três dias do evento.
Confira aqui cobertura da sessão de abertura da atividade
“Conseguimos realizar um congresso como este com discussões muito fortes, muito sérias. Estamos no caminho certo, vamos à luta! Temos que nos colocar como uma federação jovem, pronta para trabalhar, aos seus 60 anos. Contem com esse presidente e diretoria para tudo”, declarou Murilo.
No Programa de Trabalho da gestão 2025-2028, temas essenciais à categoria, como defesa dos direitos trabalhistas e do piso profissional, estipulado em nove salários mínimos para jornada de oito horas diárias (Lei 4.950-A/1966); atuação no Congresso Nacional em prol dos engenheiros; realização de campanhas de sindicalização e fortalecimento da FNE e suas ações, por meio dos sindicatos filiados, em todas as regiões do País; manifestações públicas sobre temas e projetos de interesse nacional, em especial quando repercutem fortemente na categoria; ampliação da assistência e serviços aos profissionais.
Plenária final
Sob coordenação de Carlos Bastos Abraham, tendo como relatores Elias Correa dos Santos e José Luiz Bortoli de Azambuja, diretores da FNE, a plenária contou com análises e contribuições dos consultores parlamentar Antônio Augusto de Queiroz, o Toninho, e sindical João Guilherme Vargas Netto. Abraham abriu a plenária observando que sua realização está prevista no artigo 13 do Regimento Interno da federação.
Vargas Netto enfatizou no ensejo a importância da plenária como parte dos ritos sindicais, para indicar ideias e propostas. Ele retomou, ainda, a função constitucional das entidades de representar a categoria e a premência de que conjuguem, para tanto, a luta por sua sobrevivência.
Assim, destacou a necessidade de ampliarem a sindicalização, oferecendo serviços e aproximando-se da base, “trazendo força nova, formando laços entre jovens estudantes e categoria, trabalhando a relação com escolas de engenharia, agronomia e de técnicos”. No mesmo sentido, frisou o investimento em formação sobre a importância do movimento sindical, “fator civilizatório da sociedade brasileira”.
Toninho, por sua vez, sugeriu aproveitar programas governamentais para realizar convênios à prestação de serviços que assegurem subsistência às entidades. Mencionou, nessa direção, a Resolução 1.008/2024 do Conselho Deliberativo do Fundo de Amparo ao Trabalhador, vinculado ao Ministério do Trabalho e Emprego (Codefat/MTE) que destina recursos deste à qualificação profissional. “Os sindicatos dos engenheiros podem propor formação”, vaticinou. O ambiente, salientou, “vai requerer muita criatividade do movimento sindical. Há muita desorientação que cria confusão”.
Além da Carta do XII Conse, entre as moções apresentadas e aprovadas pelos delegados do Conse na plenária estão: oposição ao desmonte da Eletrobras e demissões na empresa; apoio à continuidade do projeto “Cresce Brasil + Engenharia + Desenvolvimento”, inclusive com versões regionais; e ao engajamento dos sindicatos na prestação de assistência técnica pública e gratuita à população de baixa renda (Lei 1.888/2008); bem como à realização de cursos de reciclagem e formação sindical. Ainda, a defesa de uma grande campanha nacional, nos estados e municípios, de sindicalização. Além disso, estimular os Senges a defenderem profissionais que atuem em consultorias como PJs.
Carta do XII Conse
O documento final do congresso busca responder a esses e outros desafios. Assim, destaca a urgência do fortalecimento do movimento sindical, “essencial ao equilíbrio da relação capital-trabalho e parte integrante das sociedades democráticas. É preciso assegurar condições à atuação adequada das entidades, que devem ter fonte de custeio, representatividade garantida e possibilidade de interlocução junto às categorias representadas, aos poderes constituídos e à sociedade em geral”.
O movimento sindical como um todo foi duramente golpeado pela reforma trabalhista (Lei 13.467/2017). A premência em se reverter o tema foi objeto do painel de abertura do XII Conse. No ensejo, Murilo asseverou: “Só com sindicato bom, forte, participativo, conseguimos contribuir para uma sociedade melhor e mais justa.”
projeto ‘Cresce Brasil + Engenharia + Desenvolvimento’: expansão econômica com distribuição de renda, preservação ambiental e inclusão social”.
A Carta do XII Conse destaca também que, no empenho em “sanar graves problemas que afligem a população brasileira, há que se dar protagonismo à engenharia e seus profissionais, implementando soluções que promovam os princípios presentes no
O documento aborda, assim, uma das propostas defendidas no âmbito desse projeto: a premência de se assegurar Engenharia de Manutenção, via instituição de órgãos com orçamento e quadro técnico próprios nas três instâncias administrativas (municípios, estados e União), “voltados à manutenção preditiva, preventiva e corretiva de estruturas, edificações, vias, frotas, redes, instalações e demais bens físicos estatais, mantendo inventário atualizado e acessível de todo esse universo”.
Esse esforço, ainda segundo consta da Carta do XII Conse, “cujo objetivo duplo é poupar recursos públicos e garantir a segurança dos cidadãos, deve ser feito levando em consideração o atual quadro de emergência climática e a necessidade de adaptação das cidades aos eventos extremos que serão cada vez mais frequentes e intensos, conforme alertam os especialistas”.
Como ressalta o documento, o desafio impõe como mandatórias medidas de mitigação da emissão de poluentes e da degradação, “contexto em que se insere o papel da pesquisa e da tecnologia na promoção da sustentabilidade e geração de riqueza no campo”. Sobre este último aspecto, constata a importância fundamental da agropecuária, em seus diversos modos de produção, à economia nacional e garantia de segurança alimentar. E demanda o compromisso efetivo com a pauta ESG (ambiental, social e de governança), bem como a “apuração e punição dos responsáveis por queimadas criminosas lamentavelmente observadas em várias partes do País, assim como aprimoramento do sistema de fiscalização que atue para coibir tais atentados que têm como vítimas o meio ambiente, a saúde pública, a segurança e a qualidade de vida das pessoas”.
Empenho à implementação de produção sustentável e atenção às novas tecnologias, em especial a chamada inteligência artificial (IA) também são objeto da carta, que não poderia deixar de fora a essencialidade da valorização dos engenheiros. “Para dar a sua melhor contribuição, esses profissionais precisam de remuneração justa, condições adequadas de atuação e autonomia técnica. Ressalta-se, portanto, a importância das bandeiras de luta em defesa do salário mínimo profissional e pela criação da carreira pública de Estado para a categoria”. O documento conclui com um chamado: “Lutemos juntos pelo País que almejamos e que os brasileiros merecem.”
Acesse aqui a Carta do XII Conse
Capa: Fotos - Beatriz Arruda | Arte - Eliel Almeida