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Editorial - Uma batalha que não terminou

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        O Brasil combate ainda os efeitos de um de seus mais tristes e vergonhosos episódios: a escravidão, que existiu oficialmente no País até 13 de maio de 1888, quando foi assinada a Lei Áurea. Divulgado por décadas como um ato de simples benemerência da filha do Imperador, o feito acabou por ser rejeitado pelo movimento negro e por aqueles que lutam ainda pela abolição plena, ou seja, pelo fim da discriminação racial e por iguais oportunidades para todos os brasileiros. A própria data comemorativa foi substituída pelo 20 de novembro, Dia da Consciência Negra, em homenagem a Zumbi dos Palmares.
        Apesar das equivocadas lições dos livros didáticos e da heróica atuação dos qui­lombolas, não parece razoável ignorar o papel dos abolicionistas no combate à es­cra­vidão. Entre esses, des­taca-se o en­genheiro André Rebouças, que, negro li­berto devido à ascendência portuguesa paterna, não só engajou-se corajosamen­te em uma das batalhas so­ciais mais im­portantes da nossa histó­ria, como alcan­çou grandes feitos na profissão que abra­çou, motivo pelo qual hoje empresta seu nome a inúme­ras avenidas, túneis e via­dutos Brasil afora.
         O papel da própria Princesa Isabel me­rece ser revisto à luz das correspon­dências mantidas entre ela e outros abo­licionistas, como demonstra carta que integra o arquivo particular do Me­mo­rial Visconde de Mauá e que foi di­vulga­da pela revista Nossa História em 2006. Em 11 de agosto de 1889, meses antes da proclamação da República e da fuga da família real, escrevia ela ao Viscon­de de Santa Vitória: “Com os fundos doados pelo senhor, teremos oportu­nidade de colocar estes ex-escravos, agora livres, em terras suas próprias trabalhando na agricultura e na pecuária e delas tirando seus próprios proven­tos.” De acordo com declaração do his­toriador Eduardo Silva, publicada na revista, o documento demonstra planos pró-reforma agrária, o que faria toda a diferença e propor­cionaria a emanci­pação concreta dos libertos. De quebra, o documento con­quista ainda para a Princesa a simpatia do movimento fe­minista. Prossegue ela na missiva: “Quero agora dedicar-me a libertar as mulheres dos grilhões do cati­veiro do­méstico, e isto será possível atra­vés do sufrágio feminino. Se a mulher pode reinar, também pode votar.”
        Como se sabe, os planos de distribuir terras aos novos cidadãos jamais se con­cre­tizaram e a questão fundiária segue sendo um dos grandes nós a serem desa­tados no Brasil, herança de um processo deliberado de concentração de riqueza e exclusão. Claro está que a luta não ter­minou, nem por isso merecem qual­quer desprestígio aqueles que a iniciaram.


Eng. Murilo Celso de Campos Pinheiro
Presidente

 

 

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