Inaugurada em 19 de agosto pelo MC&T (Ministério da Ciência e Tecnologia), a MetroSampa (Rede Metropolitana de São Paulo) propiciará troca de grande volume de dados entre instituições de ensino e pesquisa e aplicações avançadas, como telemedicina e ensino a distância. Com sua implantação, além de ampliação da capacidade de rede de Internet inicialmente da ordem de um gigabyte, não é mais necessária às integrantes a contratação de banda larga.
“Além de uma comunicação em velocidade muito mais alta, há economia substancial às instituições, que deixam de pagar por suas conexões às operadoras”, atesta Victor Francisco Mammana de Barros, presidente do Comitê Gestor da MetroSampa e diretor de Divisão na Coordenadoria de Tecnologia da Informação da USP (Universidade de São Paulo). No caso das escolas públicas, a rede é custeada pelo MC&T, que financia programa denominado Redecomep (Redes Comunitárias de Educação e Pesquisa), concebido visando cobertura nacional por esse tipo de infra-estrutura. Segundo o coordenador nacional dessa iniciativa, José Luiz Ribeiro Filho, os recursos são operados pela Finep (Financiadora de Estudos e Projetos) e repassados para execução através da RNP (Rede Nacional de Ensino e Pesquisa) – o backbone (espinha dorsal da comunicação entre redes) acadêmico de Internet, que interliga todos os estados do País através de PoPs (pontos de presença). A partir desses, cria-se o desenho de cada rede local. Em São Paulo, o ponto fica na USP.
Utilizando infra-estrutura arrendada da AES Eletropaulo, como descreve Ribeiro, a MetroSampa é a sétima no País instalada pelo programa, antecedida pelas de Belém, Manaus, Vitória, Brasília, Florianópolis e Natal. “É a maior de todas: uma rede de fibra óptica de 145km de extensão, interligando as instituições, o que faz com que estudantes, pesquisadores, funcionários possam utilizar Internet gratuitamente, com altíssima velocidade, para todas as aplicações possíveis”, destacou o ministro da Ciência e Tecnologia, Sergio Rezende, quando da inauguração. Fruto de investimento de R$ 3,2 milhões, a maior parte oriunda da Finep, tem como participantes, além da USP, o Cefet-SP (Centro Federal de Educação Tecnológica de São Paulo); Incor (Instituto do Coração), do Hospital das Clínicas; Unesp (Universidade Estadual Paulista “Júlio de Mesquita Filho”); Unifesp (Universidade Federal de São Paulo); UFABC – Santo André (Universidade Federal do ABC); e Nic.br (Núcleo de Informação e Coordenação do Ponto br) – o qual custeou 49km de rede. Além dessas, divulga Barros, devem se agregar Mackenzie e PUC-SP (Pontifícia Universidade Católica), essa última já em vias de assinar o contrato. Ele salienta que, como são escolas particulares, terão que pagar a própria fibra até chegar a um ponto da rede.
Aplicações
O coordenador nacional da Redecomep garante que “várias aplicações que hoje demandam qualidade e capacidade de infra-estrutura de rede para uso de pesquisa e ensino na comunidade acadêmica vão se beneficiar”, inicialmente via interligação dentro da própria região metropolitana. “E a partir da conexão com o ponto de presença da RNP, essas instituições vão poder usar o backbone que, por exemplo entre Rio de Janeiro, São Paulo, Belo Horizonte e Brasília, já opera com dez gigabytes.” Na sua concepção, isso vai permitir projetos de cooperação de ensino a distância, telemedicina e uma série de outras aplicações. Além da interconexão em âmbito nacional, outra possibilidade é interiorizar o modelo, a exemplo do que vem ocorrendo no Pará. Lá, conta Ribeiro, mediante parceria com a distribuidora de energia Eletronorte, o Governo do Estado está expandindo a rede da região de Belém para outros 13 municípios do Interior.
Entre as soluções viabilizadas, a chamada computação em grade, em que, explicita ele, “tem-se um conjunto grande de computadores distribuídos através das instituições que participam e processando paralelamente uma única aplicação de previsão climática, por exemplo”. Para se ter uma idéia da importância de redes com maior capacidade, Ribeiro destaca que experimentos de física de alta energia e aceleradores de partículas feitos na Europa não seriam possíveis de outra forma. “Infelizmente, ainda estamos fora desse clube restrito de pesquisas do gênero e tudo isso visa inserir as instituições de cada cidade e o País, de forma geral, na comunidade científica internacional, numa posição de maior destaque, principalmente em relação à América Latina.”
Christiane Marie Schweitzer, integrante do Comitê Gestor da MetroSampa representando a UFABC – na qual é professora adjunta do Centro de Matemática, Computação e Cognição e coordenadora geral do Núcleo de Tecnologia da Informação –, ressalta que o potencial de pesquisa aumenta. Os projetos de cada universidade participante devem ser beneficiados. No caso dessa instituição, diz ela, englobam áreas como física e físico-química, redes de alta velocidade, bioinformática e saúde. Ribeiro cita ainda entre os segmentos os de bioenergia e petróleo. “Esses subgrupos já estão identificados, já conhecemos a necessidade da maioria, e estamos formulando junto ao MC&T a integração e a melhoria da infra-estrutura, a exemplo do que está sendo feito em telemedicina.”
Nessa área, também no dia 19 foram inaugurados quatro núcleos de sua própria rede, em que foram investidos cerca de R$ 1 milhão. “O objetivo é dotar os hospitais universitários de infra-estrutura de telecomunicações que permita a realização de videoconferências, diagnóstico remoto. Uma série de atividades importantes na área médica vai poder contar com a comunicação de dados para se tornar mais efetiva e aumentar a integração em escala nacional”, diz o coordenador da Redecomep. Segundo ele, mediante parceria com o Ministério da Saúde, “o Programa de Saúde da Família está desenvolvendo um piloto junto conosco em que os hospitais universitários vão se interligar aos diversos postos de saúde e atuar como centros de referência de uma segunda opinião”. Isso, como continua Ribeiro, deverá evitar o deslocamento desnecessário de pacientes das cidades do Interior ou da periferia metropolitana para hospitais universitários. Como demonstração dessa interconexão, na instalação da MetroSampa, contou Rezende, “estávamos na reitoria da USP em videoconferência com o Incor, Hospital Universitário e Unifesp”. Ribeiro vaticinou: “É o início de um processo novo de atendimento à população que vai ser fortemente baseado em tecnologias como essas que estamos começando a implantar.” Segundo o ministro, até junho de 2009, essa rede estará instalada em 20 cidades.
Além disso e do reflexo a longo prazo de pesquisas que antes não podiam ser feitas por requerer rede de alta velocidade, o coordenador da Redecomep observa que o cidadão comum deve se beneficiar com a evolução tecnológica para implantá-la e utilizá-la. “Isso deve capacitar o País e as operadoras de telecomunicações a que, no momento seguinte, possam oferecer esse tipo de infra-estrutura também para as empresas e a população em geral.”
Soraya Misleh