Após passar um bom período imune à crise externa, o Brasil começa a sentir os seus efeitos com o aumento da inflação, ainda que essa continue dentro da meta anual estabelecida pelo BC (Banco Central), de 6,5%, e tenha até arrefecido em junho último, conforme aferição do IBGE (Instituto Brasileiro e Geografia e Estatística). Apesar disso, deixada à própria sorte, é bastante possível que a situação se agrave e os brasileiros tenham que conviver novamente com a falta de estabilidade monetária. Repudiado por toda a sociedade, tal cenário é ainda pior para os mais pobres.
Nesse período recente, esses já foram os mais atingidos, tendo em vista que sua renda é em boa parte comprometida pela compra de alimentos. Assim, é hora de agir com coragem e sabedoria para evitar a espiral inflacionária. Contudo, tal ação não deve comprometer a possibilidade de desenvolvimento, finalmente conquistada no Brasil com a volta dos investimentos privados e públicos, notadamente pelo PAC (Programa de Aceleração do Crescimento).
Conforme explica o professor Luiz Gonzaga Belluzzo em entrevista nesta edição, é preciso que o Governo lance mão, com competência, dos instrumentos de que dispõe para controlar tal situação. Nesse esforço, o investimento produtivo deve ser preservado para que não se retroceda o realizado até agora. Ainda que os índices de crescimento em 2009 não acompanhem os de 2007 e deste ano (que já está garantido na casa dos 5% ou 6%), não se deve travar o crescimento no longo prazo. Ao defender um crescimento de 6% ao ano, o projeto “Cresce Brasil + Engenharia + Desenvolvimento”, indicava alguns pressupostos fundamentais à administração da economia nacional, como a queda acentuada da taxa de juros. Tendo perdido esse timing, como coloca Belluzzo, nos períodos de calmaria internacional, o BC não pode agora voltar a elevar a taxa às alturas em que se encontrava quando era proibitiva ao crédito à produção. É preciso pensar que, se a inflação é de fato algo nefasto, também o são o desemprego e a falta de perspectivas que atingiu toda uma geração de brasileiros.
O Brasil encontra-se hoje numa situação certamente mais favorável que no passado recente para lidar com esse problema, mas o Governo não deve subestimá-lo nem tampouco agir desesperadamente. Um fino equilíbrio será necessário.
Também importante ao atravessar essa crise, é aprender a lição que ela traz ao mundo. Apesar das críticas pouco convincentes à produção de biocombustíveis, que teria tomado o lugar dos alimentos aumentando seus preços, o atual choque de commodities é fruto da especulação e da falta de regulação. Assim como o sistema financeiro precisa de controle, mercados de alimentos, metais e petróleo devem ser regrados para evitar flutuações que tragam esse tipo de insegurança generalizada, atingindo mais pesadamente países e cidadãos mais pobres. O momento é propício para se abandonar de uma vez por todas as gastas ilusões neoliberais.