Realizado em 28 de abril, o VIII Seminário das Campanhas Salariais do SEESP anunciou boas perspectivas para as negociações coletivas dos engenheiros neste ano, cujas datas-bases se concentram nos meses de maio e junho. A assessora técnica do Dieese (Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos), Eliana Dias, apresentou o balanço dos acordos firmados em todo o Brasil em 2007, que “tem o objetivo de captar as tendências das negociações salariais”.
O estudo, que havia sido lançado no SEESP em 17 de março, revelou que, das 715 negociações analisadas, 96% garantiram, no mínimo, reposição das perdas inflacionárias no período. Em 88% dos casos, as negociações culminaram com ganhos reais, aumentando efetivamente o poder de compra do trabalhador.
Tal conjuntura, afirmou o analista sindical João Guilherme Vargas Netto, é de grande pujança, tanto do ponto de vista do movimento sindical, quanto das empresas. “O povo brasileiro vive um momento espetacular. Há 25 trimestres, há crescimento no País, inicialmente com índices tímidos, depois atingindo os 5,4% do PIB (Produto Interno Bruto) em 2007, bastante próximos dos 6% previstos pelo projeto ‘Cresce Brasil + Engenharia + Desenvolvimento’ – lançado pela Federação Nacional dos Engenheiros em 2006.” Na sua avaliação, ainda mais benéficas são as características que marcam o reaquecimento da atividade econômica. “Isso se dá com democracia, distribuição de renda e qualificação, porque não nos interessa o modelo que só exporta commodities”, descreveu.
Outra face positiva da conjuntura, apontou Antônio Augusto de Queiroz, o Toninho, diretor de documentação do Diap (Departamento Intersindical de Assessoria Parlamentar), é a maior unidade de ação e maturidade dos sindicatos. “Graças a isso, houve uma série de ações positivas, como a conquista da recuperação do salário mínimo”, afirmou. Esse equilíbrio de forças, considerou ele, permite que todos os segmentos da sociedade conversem em igualdade de condições. “O SEESP contribui muito ao fazer esse debate de alto nível sobre as expectativas das campanhas salariais”, concluiu.
Diálogo aberto
Precisamente, relações de “forma harmoniosa” foi o que propôs o diretor Ivo Dall’ Acqua Júnior, presidente do Conselho de Relações do Trabalho da Fecomercio (Federação do Comércio do Estado de São Paulo). “Estamos a postos e à disposição para a negociação”, anunciou. Ele destacou a importância da aproximação com o SEESP, tendo em vista que a entidade patronal representa também o setor de serviços, “hoje muito ligado à engenharia, sobretudo na tecnologia da informação”. E aproveitou o momento para propor um “pacto para questão da terceirização” e quanto à carga tributária. “O Governo precisa ser menos guloso e distribuir as gorduras de forma mais justa”, reivindicou.
Gerente de Relações Trabalhistas da Cosipa (Companhia Siderúrgica Paulista), Niedja de Andrade e Silva Afonso, elogiou o esforço de diálogo mantido pelo SEESP, única categoria diferenciada reconhecida na siderúrgica. Segundo ela, isso tem trazido ganhos aos engenheiros, como o programa de qualificação profissional que já beneficiou 65% desse pessoal, um reajuste salarial maior em 2007 e a redução da jornada de trabalho, que já é de 40 horas semanais. Niedja Afonso fez uma avaliação positiva do panorama econômico atual, lembrando que os dados apontam para ganhos reais neste ano, apesar das incertezas quanto ao mercado externo e à crise dos Estados Unidos. “O desafio é atuar atendendo às necessidades da indústria, às expectativas dos trabalhadores e ao interesse do País para que o desenvolvimento se sustente.”
Otimista também se mostrou o assessor jurídico do Sinaenco (Sindicato Nacional das Empresas de Arquitetura e Engenharia Consultiva), Carlos de Freitas Nieuwenhoff. Na sua análise, equacionando-se a questão relativa à contratação do engenheiro recém-formado – cuja tendência é ganhar status de trainee e ter seis horas de jornada diária de trabalho mais duas de treinamento –, a convenção coletiva deve estar assinada no início de maio.
Com o acordo coletivo de 2008 firmado antecipadamente devido à intenção do Governo de privatizar a Cesp (Companhia Energética de São Paulo), a gerente de Recursos Humanos, Dubravka Sidonija Suto, lembrou que o diálogo com o SEESP não se restringe à data-base, mas acontece no cotidiano, “sempre buscando o melhor resultado para ambas as partes”. Representando também a Emae (Empresa Metropolitana de Águas e Energia), ela aposta em um resultado satisfatório para o acordo também nessa companhia. O grande avanço na Elektro, informou Carlos Alberto dos Santos, gerente executivo de Recursos Humanos, diz respeito às relações sindicais, antes estabelecidas por meio de uma consultoria terceirizada e hoje feitas diretamente entre a empresa e o SEESP.
Engenheiros em alta
Em fase de expansão do mercado, com um olho nos riscos de suprimento de gás e outro na revisão tarifária de 2009, a Comgás (Companhia de Gás de São Paulo) vem buscando engenheiros e desenvolvendo novas competências internas, informou a superintendente de Recursos Humanos, Celia Dutra. Nesse contexto, ela acredita que as negociações com o sindicato serão bem-sucedidas. A mesma expectativa tem o consultor de Recursos Humanos da Cteep (Companhia de Transmissão de Energia Elétrica Paulista), Orivaldo José Marcuzzo. Segundo ele, a companhia vem expandindo seu mercado e a tendência é que se admitam mais engenheiros. Assim, a conversa com os profissionais deve transcorrer tranqüilamente. “Esperamos ter um acordo até o final de maio ou início de junho.”
Novas contratações acontecerão ainda no Metrô. Conforme Fábio Nascimento, superintendente de Recursos Humanos, até julho serão recrutados 500 empregados, inclusive engenheiros em início de carreira. De acordo com ele, com a expansão do número de usuários e três linhas em construção, o setor de engenharia fatalmente será aquecido. Participou ainda do seminário Maurício Tomaz Tonin, consultor de Relações Sindicais da Telefônica.
Ao encerramento, o presidente do SEESP, Murilo Celso de Campos Pinheiro, comemorou a realização do seminário, destacando a disposição para o diálogo manifestada pelos empregadores e reafirmando a mesma postura por parte da entidade. “Desde as campanhas de 2007, realizamos um grande trabalho pela valorização dos engenheiros e também pelo fortalecimento das empresas”, assegurou.
Rita Casaro