Esse foi o tema central da segunda edição do “Junho da Inovação”. Organizado pelo Instituto Superior de Inovação e Tecnologia (Isitec), contou com quatro palestras ministradas nos dias 20 e 27 desse mês. Educação, desenvolvimento sustentável e desafios e oportunidades para a inovação em energia, água e tecnologia de informação foram abordados durante as atividades. Os diretores geral e acadêmico do Isitec, Antônio Octaviano e José Marques Póvoa, destacaram a centralidade do homem nesses processos.
Na iniciativa inaugural, o professor Francisco Borba, da Pontifícia Universidade de São Paulo (PUC-SP), discorreu sobre a questão. Ele apresentou as várias vertentes do processo educativo para a inovação, cujas premissas envolvem a intuição, a curiosidade, a liberdade em relação a esquemas pré-concebidos e a capacidade de fazer novas associações de ideias para solucionar os problemas.
Já o engenheiro sênior do Departamento de Tecnologia e Gestão da Inovação da Siemens, Gustavo Zanini, deu um exemplo de estruturação da inovação na companhia em que trabalha, que conta com 400 mil funcionários no mundo, dos quais 17 mil engenheiros de software. Conforme ele afirmou, começa com a seleção e a admissão, que se dão na perspectiva da criatividade, da vontade e inovação demonstradas pelo profissional. Zanini disse que a Siemens – que mantém 10 mil empregados e 13 fábricas em território nacional e atua em automação industrial, energia, saúde e infraestrutura inteligente – está antenada com o que ocorre na sociedade e com as políticas públicas, para o desenvolvimento de produtos e processos. Nesse sentido, conta com o estudo “Rio 2030-40” dentro da lógica da cidade inteligente e ágil.
Saneamento e lixo eletrônico
Esses dois temas fundamentais vieram à tona no dia 27. O gerente do Departamento de Desenvolvimento Tecnológico e Inovação da Companhia de Saneamento Básico do Estado de São Paulo (Sabesp), Américo Oliveira Sampaio, apresentou a experiência da empresa em pesquisa, desenvolvimento e inovação, bem como a importância dessa ação no segmento de saneamento. Segundo ele, o setor é diferenciado de outros. “A maioria das empresas e instituições é pública, as privadas não são mais de 6% em água e esgoto. Além disso, tem economia de escala e investimento intensivo. Há ainda baixa colaboração da cadeia do setor no desenvolvimento tecnológico e inovação.” Outra característica é que grande parte dessa última, de acordo com o gerente da Sabesp, vem por meio de fornecedores. Sua superintendência, como afirmou ele, quer atrair jovens “para que tenham contato com as áreas operacionais, conheçam suas demandas e produzam tecnologias”. Atualmente, são 23 engenheiros em três departamentos voltados ao tema. Os recursos para P, D & I têm se ampliado significativamente nos últimos anos. “Em 2010, foram R$ 3,8 milhões; hoje são R$ 6,3 milhões.” Volume que deve ser incrementado substancialmente com a obtenção de recursos do programa “Inova Brasil”, da Agência Brasileira da Inovação (Finep). Entre as áreas prioritárias identificadas pela Sabesp, como ressaltou Sampaio, novas tecnologias para implantação, operação e melhorias de processos operacionais unitários; monitoramento da qualidade da água; eficiência energética; e economia do saneamento – as duas últimas integrantes do plano estratégico da companhia. Ao encontro desses eixos, o palestrante citou projetos inovativos propostos, como um sistema de coleta a vácuo e afastamento de esgotos, um secador de lodo de estações de tratamento de esgotos (ETEs) e um protótipo de biofiltro para controle de odores na ETE de São Miguel Paulista (em fase de patenteamento).
Outro tema crucial à sustentabilidade, a disposição, coleta e reciclagem de lixo eletrônico foi apresentada por Tereza Cristina Melo de Brito Carvalho, do Laboratório de Sustentabilidade da Universidade de São Paulo (USP). Ela enfatizou o modelo de tecnologia da informação (TI) verde, em que os equipamentos não conteriam metais pesados como chumbo e mercúrio. E se debruçou sobre o exemplo do Centro de Descarte e Reúso dos Resíduos de Informática (Cedir/USP). Concebido em 17 de dezembro de 2009 e aberto à pessoa física em 2010, hoje recebe mensalmente em média, segundo a professora, dez toneladas de equipamentos, sendo 34% monitores. A parte que pode ser reutilizável é destinada a projetos sociais e parte é desmontada e os componentes separados para envio a cooperativas de catadores – os quais recebem treinamento do Cedir – e reciclagem. A proposta do centro, enfatizou Carvalho, tem se expandido para diversos municípios e é ideia da reitoria da USP “criar pontos de coleta pelo menos nos locais em que a universidade está presente”. O que vai ao encontro da Política Nacional de Resíduos Sólidos, instituída pela Lei nº 12.305/2010.
Por Rosângela Ribeiro Gil e Soraya Misleh