O evento realizado pelo SEESP entre 7 e 9 de novembro na Capital colocou em pauta o grande desafio da atualidade: crescer de forma sustentável, ou seja, assegurando que as futuras gerações tenham à disposição os recursos naturais necessários à sua sobrevivência. Sucessor do EcoVale, que aconteceu por quatro anos consecutivos na cidade de Taubaté, o I EcoSP (Encontro de Meio Ambiente de São Paulo) incluiu em sua pauta o projeto “Cresce Brasil + Engenharia + Desenvolvimento”.
O primeiro tema a ser tratado, pelo professor da Unitau (Universidade de Taubaté), Márcio Joaquim Estefano de Oliveira, foi justamente “desenvolvimento sustentável”, que, segundo ele, implica “planejar e executar ações, levando em conta simultaneamente as dimensões econômica, ambiental e social”.
O superintendente de Planejamento Estratégico de Transporte da SPTrans (São Paulo Transporte), Laurindo Martins Junqueira Filho, recorreu ao mito de Prometeu, que roubou o fogo dos deuses e o franqueou aos humanos, para lembrar que a sociedade contemporânea debate-se com uma questão ancestral: a luta entre a natureza e o homem, sendo que esse hoje precisa ter em mente as conseqüências de suas ações. “Portanto, ao planejar o sistema de transporte, precisamos fazer opções sustentáveis”, ponderou. Nesse contexto, ele lembrou a importância de se buscar fontes alternativas de energia ao diesel, presente na maior parte da frota de ônibus da cidade de São Paulo.
Simão Saura Neto, da Superintendência de Serviços Veiculares da SPTrans, falou sobre a importância das condições de operação, conforme aponta pesquisa. “Na simulação do ciclo Expresso (no corredor exclusivo, com velocidade de 25km/h), há redução de 52% no consumo de diesel, 74% nas emissões de CO, 46% de HC e 57% de NOx e de material particulado”, relatou.
Jorge Moya Diez, engenheiro de controle ambiental da Cetesb (Companhia de Tecnologia de Saneamento Ambiental), conclamou os cidadãos a fazerem a sua parte, lembrando que “as entidades de fiscalização jamais conseguirão estar em todos os lugares. É preciso conscientização sobre, por exemplo, desperdício de água, que já é escassa em várias partes do mundo”.
Essa foi exatamente a questão abordada por Edmundo Garcia Agudo, que atua desde 1994 junto à ONU (Organização das Nações Unidas), para quem é preciso saber usar para não faltar. Como exemplo positivo nessa área, ele citou o que foi feito na cidade estadunidense de El Paso, no Texas, e em sua vizinha mexicana Ciudad Juaréz, essa última fadada a ficar sem o precioso líquido já em 2005, devido ao desperdício.
Segundo Agudo, na localidade texana, foi necessário um esforço de gestão para cortar pela metade o gasto médio diário por pessoa de 830 litros – quando o volume considerado adequado mundialmente é de 150 litros. Entre as medidas, instituiu-se a cobrança pelo uso do recurso hídrico, dias de semana alternados para irrigação, além de soluções como reciclagem de esgoto e dessalinização. O Brasil, apesar da condição privilegiada de detentor das maiores reservas de água doce do mundo, para ele, deveria começar a pensar em gestão sustentável desde já. Inclusive de seus aqüíferos, os quais “têm que ser considerados recursos estratégicos em épocas de crise”. O consultor da ONU alertou ainda que a elevação do nível do mar – conseqüência do aquecimento global – também afeta a disponibilidade de água doce no planeta.
Equacionar o problema, na concepção de Rubens Harry Born, diretor executivo do Vitae Civilis – Instituto para o Desenvolvimento, Meio Ambiente e Paz, passa por medidas tecnológicas, econômicas e sociais, entre elas contribuir para o reflorestamento, transformar sistemas produtivos, tecnológicos e hábitos de consumo. Entre as alternativas, Suani Teixeira Coelho, secretária executiva do Cenbio (Centro Nacional de Referência em Biomassa), discorreu sobre o uso de energias renováveis, com ênfase para o etanol.
Completaram a programação Ricardo Salgado, superintendente de Meio Ambiente da Cosipa (Companhia Siderúrgica Paulista), e Alexandre Breda, gerente de grande comércio da Comgás (Companhia de Gás de São Paulo), que falaram respectivamente sobre o programa ambiental na empresa e o cenário de gás natural no Estado.
Transgênicos
A grande polêmica do I EcoSP ficou reservada para o tema “Agricultura e meio ambiente”, tratado pelo professor e pró-reitor de Extensão e Assuntos Comunitários da Unicamp (Universidade Estadual de Campinas), Mohamed Habib. Na palestra, mereceu destaque a questão das plantas geneticamente modificadas: “Reconhece-se o valor da pesquisa, que é positiva, mas quanto à aplicação dessa tecnologia é preciso avaliar melhor.”
Segundo Habib, para ser sustentável, o transgênico deveria ser: tecnicamente aplicável, legalmente regulado, economicamente vantajoso, moral e eticamente aceitável, socialmente benéfico, ambiental e biologicamente seguro. “Apenas as duas primeiras exigências são atendidas”, observou ele. Além disso, afirmou o professor, a Lei de Biossegurança ainda deixa a desejar. “Deveria haver uma legislação para pesquisa e outra para a aplicação e serem separadas as regras para transgenia agronômica e médica”, apontou.
O princípio da precaução com relação aos transgênicos foi também defendido pela pesquisadora da Embrapa (Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária), Deise Maria Fontana Capalbo, e pelo professor da Unicamp, José Maria Gusman Ferraz. De acordo com esse último, os estudos feitos até agora não descartam a possibilidade de haver efeitos sobre a saúde humana e animal. Por isso e tendo em vista que 90% dos alimentos processados possuem ingredientes transgênicos, ele propôs a correta identificação e rotulagem desses produtos.
A defesa dos geneticamente modificados ficou a cargo de Eugênio Cesar Ulian, gerente de relacionamento com a comunidade científica da Monsanto: “Por serem tão estudadas e terem se mostrado tão seguras, essas culturas são um sucesso. Tem evoluído entre 10% e 15% ao ano para controle de ervas daninhas e insetos.” A mesma posição tomou o biólogo e professor da USP (Universidade de São Paulo), Crodowaldo Pavan, radicalmente favorável ao uso da tecnologia como forma de garantir a produção de alimentos necessários à humanidade. “Sabe-se mais o que acontece nesse processo que no melhoramento tradicional”, asseverou. Contudo, ele condenou o patenteamento de sementes por grandes empresas. “É um absurdo de lógica.”
Bom humor
Após a maratona de debates, o evento foi encerrado pelo comentarista da rádio CBN e do Fantástico, na TV Globo, Max Gehringer, que garantiu o toque bem-humorado, com sua palestra “A comédia corporativa”. Entre as observações que arrancaram risos da platéia, um alerta: é fundamental estar atento às mudanças.
Ainda conforme Gehringer, a grande transformação ocorrida no mercado de trabalho foi a ascensão feminina, cuja presença em cargos de chefia amplia-se um ponto percentual a cada ano. Nesse ritmo, apontam pesquisas, em 2027, as mulheres serão 52% do total nas gerências. Ele indicou ainda a receita para o sucesso profissional: “ter talento, criatividade e manter-se atualizado.” Nas empresas, é preciso ter visão de futuro e respeito pela experiência.
Rita Casaro
Colaborou Soraya Misleh