Soraya Misleh
A conjuntura atual é favorável para que neste ano se alcancem resultados positivos à categoria nas negociações coletivas de trabalho, a exemplo do que tem ocorrido – em 2013, na maioria das empresas, os aumentos reais superaram o índice de 2,5%. O cenário propício foi apresentado por especialistas durante o 14º Seminário de Abertura das Campanhas Salariais, realizado pelo SEESP em sua sede, na Capital, no dia 26 de março. O evento já tradicional inaugura oficialmente o processo rumo a novas conquistas aos engenheiros – hoje, são 100 mil contemplados com os ganhos obtidos, metade do total de profissionais do Estado. Com o objetivo de pavimentar o caminho do diálogo entre capital e trabalho, como é de praxe, a atividade contou com a presença de representantes do patronato e de seus interlocutores no sindicato. Entre os que compuseram a plateia, dirigentes da Confederação Nacional dos Trabalhadores Liberais Universitários Regulamentados (CNTU) e das categorias por ela representadas – além dos engenheiros, farmacêuticos, odontologistas, médicos, nutricionistas e economistas.
À abertura, o presidente do SEESP, Murilo Celso de Campos Pinheiro, destacou essa trajetória e apontou: “Esse é um evento da maior importância para todos nós, profissionais. Ajuda-nos e nos dá o norte para trabalharmos de forma séria e sensata.” Ele lembrou ainda que o ano de 2014 será curto e difícil, diante da realização da Copa do Mundo no Brasil e das eleições nacionais, mas com “muito a realizar”. Também frisando a importância do seminário, como única experiência do gênero, realizado “em todos os anos deste século XXI”, o consultor sindical da entidade, João Guilherme Vargas Netto, enfatizou: “É o momento em que o SEESP ouve as representações das empresas, bem como emite ideias que orientam sua capacidade de negociação. O cruzamento das duas coisas cria o espaço para tanto.”
Na sua análise, constituído esse ambiente, o esforço do SEESP e do movimento sindical deve ser por manter a pauta de reivindicações em um ano cuja tensão pré-eleitoral já é visível. O que requer, como considerou Vargas Netto, capacidade de não se desviar do rumo sindical unitário e independente. Ele citou como ação nesse sentido a 8ª Marcha dos Trabalhadores, a ocorrer em 9 de abril, na Capital, que trará as bandeiras da classe. E foi categórico: “Dependendo das ações deste ano, estaremos pavimentando o caminho futuro, com propostas para 2014 e 2015, como a continuidade da valorização do salário mínimo e da luta por desenvolvimento com distribuição de renda.” Nesse sentido, indicou como exemplo espetacular o projeto “Cresce Brasil + Engenharia + Desenvolvimento” – iniciativa da Federação Nacional dos Engenheiros (FNE) que conta com a adesão do SEESP.
Conjuntura favorável e empenho
Airton Santos, coordenador de atendimento técnico-sindical do Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (Dieese), apresentou a conjuntura econômica frente às campanhas salariais que se iniciam. Na sua concepção, a situação é melhor do que pinta a mídia convencional, baseada no que dizem analistas do mercado – o que permite aos engenheiros lutarem por ganhos reais nessas negociações. Entre os dados que citou para avalizar tal afirmação, estão a geração de mais de 220 mil empregos com carteira assinada em fevereiro, o crescimento do salário real médio do trabalhador, se comparado com o mesmo período de 2013, e a elevação da produtividade em 2,5%. Diante desse quadro, Santos complementou: “O desafio do movimento sindical é cerrar fileiras à manutenção do crescimento com distribuição de renda.” Na mesma linha, Antonio Augusto de Queiroz, o Toninho, diretor de documentação do Departamento Intersindical de Assessoria Parlamentar (Diap), acredita que “não há maiores ameaças ao emprego e renda, aos direitos dos trabalhadores e à democracia”.
Entre o patronato, a afirmação de empenho por bons resultados diante da conjuntura apresentada. “Vamos fazer todo o esforço para que haja a melhor solução negocial”, atestou Dubravka Sidonija Suto, gerente do Departamento de Recursos Humanos da Companhia Energética de São Paulo (Cesp). Ela ressaltou estudo que está sendo realizado em parceria com o SEESP e a Universidade Estadual Paulista “Júlio de Mesquita Filho” (Unesp) sobre segurança no trabalho. “O foco é a saúde dos empregados.” Segundo Cláudia Cantieri Fernandes, gerente assistente de recursos humanos da Companhia de Gás de São Paulo (Comgás), algo determinante nas negociações deste ano será a revisão tarifária da empresa. Não obstante, asseverou: “Estamos abertos a aliar os interesses” do capital e trabalho. Também afirmaram a disposição para o diálogo Ana Cristina Russo Nascimento, analista de gestão da Companhia de Saneamento Básico do Estado de São Paulo (Sabesp); Raphael Lima, do Departamento de Recursos Humanos da AES Eletropaulo; José Roberto Rodrigues, gerente de recursos humanos da Desenvolvimento Rodoviário S.A. (Dersa); e Carlos de Freitas Nieuwenhoff, assessor jurídico do Sindicato das Empresas de Arquitetura e Engenharia Consultiva de São Paulo (Sinaenco-SP). Demonstração nesse sentido foi ainda a presença de Josenil Rodrigues Araújo, advogado da Empresa Metropolitana de Águas e Energia (Emae), no seminário. O evento também contou com a participação de Luiz Carlos Lumbreras, auditor-fiscal do Ministério do Trabalho e Emprego.