Deborah Moreira
Pesquisadores do Instituto de Química da Universidade de São Paulo (IQ-USP) desenvolveram um equipamento eletrônico que imita o nariz humano e é capaz de identificar e classificar diferentes tipos de substâncias pelo odor. O chamado nariz eletrônico já possui algumas aplicações e há inventos semelhantes no mercado. O diferencial do protótipo da USP – que funciona com duas pilhas pequenas – é o baixo custo. O valor ficou em torno de R$ 200,00. Mas pode ser reduzido muito se o material for adquirido em grande escala.
O nariz eletrônico, que já recebeu prêmios como o Petrobras de Tecnologia de 2006, surgiu a partir de um estudo de síntese de polímeros (plásticos). O professor do IQ-USP Jonas Gruber, coordenador do projeto, conta que há cerca de 15 anos um aluno foi enviado para a Bélgica, onde aprendeu a montar o equipamento. As pesquisas tiveram financiamento do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq) e da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp).
O sistema é formado por um conjunto de sensores de gases – de quatro a sete, do tamanho de um chip de celular cada, revestidos de uma película de filme de polímeros condutores depositados sobre pares de eletrodos metálicos interdigitados – que armazenam um padrão de resposta para cada tipo de odor exposto. A partir de um sistema pneumático, o ar é liberado por uma tubulação que leva até a amostra de gás e, depois, segue para o conjunto de sensores. Essa informação é convertida em sinal digital, cujo software de reconhecimento de padrões identifica o tipo de substância volátil em contato com o dispositivo. “Trata-se de um equipamento portátil, barato e com um alto índice de acerto”, explica Gruber. Além do baixo custo de produção, segundo ele, outra vantagem é a economia no consumo de energia. O docente lembra que foram usadas peças retiradas de um aparelho de medir pressão. “Atualmente, há bafômetros sendo comprados por R$ 4 mil. Imagine desenvolver um com essa tecnologia barata. A fiscalização da lei de trânsito seria muito mais eficiente”, diz.
Outro diferencial é que a tecnologia desenvolvida pode servir a diversas funções. Algumas aplicações já foram desenvolvidas, como distinguir tipos de madeiras, o que contribuiria na fiscalização e redução do desmatamento na Região Amazônica. Há aproximadamente três anos foi iniciado um estudo para diferenciar o mogno do cedro. Na ocasião, o primeiro já estava em extinção e para passar na fiscalização, as madeireiras colocavam na documentação da carga que se tratava de cedro, na época liberado para comercialização e, atualmente, no rol de espécies ameaçadas. “Quando viram toras, fica impossível distinguir uma da outra a olho nu”, conta o professor que vem orientando estudantes do IQ-USP no desenvolvimento de novas aplicações para o equipamento. Ele continua: “Entre o mogno e o cedro há um índice de acerto de 100%, porque são de espécimes e gêneros diferentes. Já quando analisamos imbuia e canela, que são de espécimes diferentes, mas do mesmo gênero, o percentual cai para 95%, que já é muito bom.”
Também há um estudo que conseguiu detectar precocemente a contaminação de laranjas (após a colheita) pelo fungo Penicillium digitatum. “Ainda não está no mercado. Para o País, maior exportador mundial desse produto e que perde boa parte de sua produção por conta da contaminação por fungos, seria uma excelente aplicação. O estudo foi publicado sem patente. Portanto, está disponível para quem quiser fabricar”, informa Gruber.
Fora do mercado
Apesar de muitas opções de nariz eletrônico terem sido desenvolvidas, não há nenhuma ainda no mercado. Sobre o equipamento voltado a madeiras, de acordo com Gruber, o Instituto Brasileiro de Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama) chegou a mandar uma carta de intenções para os pesquisadores.
A essa aplicação, havia um grupo tentando iniciar uma empresa incubada na universidade. Depois de pronto, o estudo vai para a Agência USP de Inovação, que centraliza as incubadoras da universidade. Segundo sua informação, não há nenhuma iniciativa semelhante em andamento. Cabe à agência desenvolver os Estudos de Viabilidade Técnica e Econômica (EVTE) para transferência de tecnologia. Se não há patente, a empresa oferece remuneração em troca do conhecimento. Se não precisar da assessoria dos pesquisadores, não é obrigatório. Para os casos de exploração comercial de pesquisas patenteadas, a assinatura de um acordo se faz necessária. Nesse caso, a empresa também oferece remuneração em troca do direito de explorar a tecnologia patenteada.
Saiba mais:
Sistema Tycho, em que são publicados os grupos de pesquisa da USP:
https://uspdigital.usp.br/tycho/index.jsp
Anuário de patentes:
http://inovacao.usp.br/transferencia-de-tecnologia/anuario-de-patentes/
Cartilha sobre transferência de tecnologia:
http://www.inovacao.usp.br/downloads/cartilha_TT.pdf
Mais informações em http://inovacao.usp.br
Poderia me mandar valor e informações
Obrigada