As aulas da primeira turma de graduação do Instituto Superior de Inovação e Tecnologia (Isitec), que tem o SEESP como entidade mantenedora, tiveram início em 23 de fevereiro último e vêm sendo sucesso absoluto entre os estudantes e o corpo docente. “Eu estou muito apaixonado pelo processo, pela ideia de construir um engenheiro diferente, mais inovador”, sintetiza José Luís Marques López Landeira, professor de Linguagem no curso de Engenharia de Inovação, o primeiro do País.
A disciplina, que aponta a atenção às humanidades na grade curricular, também composta por História e Sociologia, é só um dos diferenciais da graduação. A carga horária obrigatória de 4.620 horas, superior ao exigido pelo Ministério da Educação e ao que é oferecido por vários outros cursos de engenharia, é outro destaque. Porém, a jornada prevista não assustou os 50 matriculados na instituição, que estão divididos em duas turmas. Pelo contrário. Ela não só deve ser cumprida nos cinco anos previstos em período integral, como também superada. Isso porque muitos estudantes têm ficado após o término das aulas para rever os conteúdos. Ou, ainda, chegam antes do início.
É o caso de Jéssica Isberner Garcia, 23 anos, que tem cumprido uma rotina de 12 horas por dia, em média. Desde que soube da graduação a partir de um anúncio numa rede social, sua vida vem mudando bastante. Natural de Curitiba, moradora de Bertioga, no litoral paulista, ela se inscreveu no vestibular em cima da hora e, para poder acompanhar o curso, mudou-se para a casa de uma tia em São Bernardo do Campo, no Grande ABC. “Valeu muito a pena toda essa mudança. Além de ter a matéria em sala de aula, somos incentivados a buscar o conhecimento fora dela. Então, tem muita coisa que a gente está aprendendo. Quando descubro que aprendi algo sozinha, fico muito feliz”, comemora a futura engenheira de inovação que não é “muito fã de matemática”, mas gosta de eletrônica, computação e química.
Essa busca do aprendizado constante e mais autônomo, conforme Landeira, é uma preocupação central do projeto do Isitec, que propõe um modelo educacional no qual o professor “é um mediador, um parceiro, ou mesmo um colaborador de pesquisa”. “Estamos mudando paradigmas, estabelecendo uma nova dinâmica aluno-professor, recuperando o papel do docente que deve ser de mediador. Pensando em ciclos, ainda não chegamos ao modelo de aluno desejado. Portanto, não dá para deixá-los tão sozinhos como até pensam que estão”, explica. Ele ressalta que essa visão do ensino não reduz o papel do professor, que continua central em todo o processo.
O modelo Isitec surpreendeu a jovem July Nicoli Barbosa Bitencourt, 17 anos, que teve dificuldade nas primeiras aulas. “Cheguei com aquela expectativa de encontrar um professor colocando toda a matéria na lousa. Mas aí, a gente entrou na sala e não viu isso”, recorda. No quadro, somente orientações de onde buscar as informações, como livros, estudos científicos e sites. “Você é que tem que ir atrás da matéria, das respostas. Por isso, no começo foi difícil, mas agora está fluindo. A gente está aprendendo a aprender. E esse tipo de desafio vamos encontrar no mercado de trabalho”, reflete.
Bitencourt, que pretendia estudar Direito, acabou decidindo pela Engenharia de Inovação após o namorado, que é metroviário, ter repassado a ela um e-mail sobre a novidade. “Eu não queria atuar como advogada, mas ter o conhecimento. Então, um dia antes do prazo de inscrição do vestibular terminar, recebi o e-mail e na mesma hora decidi que queria tentar”, recorda a jovem que mora na Baixada Santista e viaja diariamente à Capital, onde fica o Isitec, no tradicional bairro da Bela Vista. Mesmo estudando em período integral, ela conta que sempre tem algum conteúdo para reforçar e aproveita para fazê-lo no caminho: “E não está nada chato. Pelo contrário. Cada vez mais queremos nos aprofundar. O que tem ajudado muito é a gente ter criado as equipes de estudo.” Para manter essa rotina, Bitencourt – assim como os demais colegas – conta com uma bolsa-auxílio de R$ 500,00 para despesas gerais, como transporte e alimentação, além da bolsa integral concedida a todos os alunos.
Nada de fotocópias
Quem também se beneficia da bolsa para manter o apartamento, que divide com outros três colegas, próximo à instituição, é o goiano Luam Dutra e Silva, 18 anos, que trocou a Engenharia Florestal na Universidade Federal de Goiás, que cursou por um ano, pela de Inovação. “Aqui a gente tem que ser autodidata, mas sem sofrer. Eu sempre estudei só para tirar nota boa na prova, e não para aprender. Tenho feito o que sempre quis: estudar para aprender”, diz o jovem que também se assustou com a nova metodologia no início, mas logo se adaptou. “Estou revendo alguns conteúdos de uma forma muito interessante. Aqui, eles [professores] buscam passar o conhecimento como ele foi construído. Cálculo, por exemplo, é muito maçante estudar sozinho. Mas com o suporte do professor, várias opções de livro e apoio da equipe, fica muito melhor”, completa, lembrando ainda que não há necessidade de “viver para tirar xerox”, já que há amplo material à disposição na biblioteca da faculdade e conteúdo online disponibilizado pelos professores.
Silva também ressalta o relacionamento com os professores, com quem é possível conversar “da mesma forma como você conversa com o aluno”. Para ele, isso muda tudo: “É bem diferente de um curso tradicional de engenharia. As mesas-redondas, o apoio dos professores, a forma como as matérias são apresentadas e debatidas e o conhecimento de cada um enriquece muito o processo. Aqui, todo mundo tem alguma coisa para aprender e ensinar para o outro.”
O advogado Gabriel Bernal Verdelli, 24 anos, concorda com Silva: “Temos uma turma bem heterogênea e cada um tem algo para colaborar no aprendizado de forma geral.” Verdelli ainda advoga em algumas poucas causas, mas, desde que começou o curso, tem tido cada vez mais certeza de que a primeira formação não o realizaria. “Senti que não era isso que me faria feliz ao longo da vida. Sempre tive facilidade com exatas no ensino médio. Pensava em fazer Engenharia Elétrica para ir para Biomédica depois. Um amigo me indicou o curso e acabei me apaixonando pela grade e pelo ensino colaborativo”, explica.
Ensino colaborativo
Esse também foi um desafio para Bernal. Mas, ele conta que o método de ensino colaborativo do Isitec o ajudou a repassar o conteúdo que não via há sete anos, como os relacionados a cálculo. “Tudo o que aprendemos no ensino médio vimos em três semanas. Estamos assimilando conceitos e depois reproduzimos”, exclama Bernal, lembrando da presença do professor, “que senta com cada um dos grupos em sala”.
Landeira explica que boa parte do que os estudantes estão experimentando está prevista no planejamento do chamado “currículo oculto”. Conforme o professor, nesse, que não é ensinado institucionalmente, mas é assimilado, estão incluídos os pressupostos do discente que o Isitec pretende desenvolver. “É o que trabalha em equipe, sabe ler um enunciado, faz pesquisa”, descreve.
É o que está vivenciando o economista Fernando Couto Pereira, 35 anos. Formado pela Universidade Federal do Paraná, com especialização em contabilidade de finanças, MBA em Controler pelo Instituto de Pesquisas Contábeis, Atuariais e Financeiras (Fipecafe) da Universidade de São Paulo (USP), ele diz ter se dado conta de que não estava satisfeito profissionalmente, mesmo tendo alcançado estabilidade na área em que atuava. “Cansei do mundo corporativo. Apesar do retorno financeiro, não me traz felicidade. E aí, comecei a trabalhar como consultor em projetos acadêmicos de pesquisa. E a maioria deles é ligada à tecnologia e nanotecnologia”, conta.
Ao voltar para a sala de aula, Pereira também temia não acompanhar a turma, mas está dando conta do recado. “Eu nunca tive tanto tempo para estudar, refletir e assimilar os conteúdos como estou tendo agora. Sempre precisei trabalhar e estudar ao mesmo tempo. Hoje, com uma reserva financeira que acumulei e com as bolsas, estou tendo a oportunidade de me tornar especialista em diversas áreas.” A expectativa está no fato de que durante o curso serão abordadas diversas áreas da engenharia.
O professor José Marques Póvoa, diretor da graduação no Isitec, fala da preocupação da instituição com o aprender e em assegurar o interesse no aluno. Uma das estratégias é manter horários livres entre as aulas para estudos individuais ou atividades extracurriculares. Algumas dessas já ganharam horários semanais, ainda que ocupando parte das duas horas reservadas para almoço, como as que ocorrem na quadra de esporte, a aula de filosofia e a organização de uma exposição de fotografia, que acontecerá no final do ano.
O diretor comemora o resultado obtido em tão pouco tempo. “Estamos criando uma instituição de aprendizado. Não imaginei que teríamos esse envolvimento tão grande. Começamos algo do zero, com 50 alunos, e agora tem gente saindo do prédio às dez da noite porque está estudando.” Póvoa conta que ao mesmo tempo em que o Isitec se inspira em modelos internacionais como da Texas University, do Massachusetts Institute of Technology (MIT) e da Harvard University, também está criando seu próprio modelo. “Não estamos enganando ninguém. Fazer engenharia não é fácil. Mas tudo é possível quando há inovação na educação”, finaliza.
Por Deborah Moreira
chamam a atenção e estão provocando reações positivas nos estudantes. E várias são as razões, entre as quais, a atuação dos professores. Que estão atuando como mediadores e sobretudo, parceiros do alunado.É uma questão que motiva o debate, a avaliação e sobretudo, a comparação com os cursos comuns, como podem ser classificados os demais cursos. Afinal, a engenharia é uma atividade por demais importante e não pode ser considerada como mais uma profissão. É uma atividade que tem influência nos mais diferentes segmentos sociais e no meio ambiente. Que a repercussão das atividades da ISITEC motivem cursos diferentes em outras áreas.