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Mercado - Prioridade é preservar emprego

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Rosângela Ribeiro Gil

As negociações salariais do primeiro semestre de 2015 foram difíceis porque se deram numa conjuntura totalmente diferente da dos anos anteriores: retração da atividade econômica, com reflexo direto no nível de emprego, e alta da inflação. Dados do Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (Dieese) indicam que os acordos firmados no primeiro trimestre deste ano alcançaram 0,91% acima do Índice Nacional de Preços ao Consumidor (INPC), ante 1,55% do mesmo período de 2014, um recuo de 0,64%.
Diante da realidade, o diretor técnico do Dieese, Clemente Ganz Lúcio, observa: “Cresce a consciência de que num momento de adversidade, que esperamos e lutamos seja transitório, é importante manter os empregos.”
Essa é a prioridade hoje à mesa de negociações, afirma ele. E argumenta: “Garantir o posto de trabalho e o máximo do poder de compra dos salários significa ter a capacidade de organizar um processo de transição econômica que permita que o Brasil volte a ter um crescimento sustentável.” Conforme matéria publicada na edição 479 do Jornal do Engenheiro, intitulada “Incentivar produção para evitar desemprego”, dados do Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged), do Ministério do Emprego e Trabalho, indicam que até junho de 2015, o número de demitidos superou o de admitidos no mercado de trabalho em 111.200; no semestre, foram menos 345.417 empregos; e em 12 meses, 601.924.

Por que a recessão
Para Ganz Lúcio, é importante que se entenda o processo recessivo por que passa o País. “Enfrentamos desde a alta de preços decorrente de enchentes ou falta de chuva ou de água em algumas regiões, o custo elevado de outros insumos, como a energia, até a operação Lava Jato, que atinge a área de investimento e da construção pesada, e a própria instabilidade política”, relaciona. Além desses fatores, complementa que ainda tem o Estado brasileiro reorganizando sua gestão fiscal. “Tal cenário se agrava com a crise internacional, que regula a demanda das economias, comprometendo, em parte, a nossa estratégia exportadora.”
O técnico observa que existem setores ainda fora da dinâmica recessiva, casos da agricultura e da indústria ligada à produção mineral. Ganz Lúcio explica que a retração no nível de atividade econômica brasileira vem sendo observada desde 2014, já atingindo a construção civil, as indústrias de transformação, têxtil e de alimentação e o setor automotivo, por conta da concorrência muito pesada com produtos importados, especialmente da China. A novidade, em 2015, segundo o especialista, é o fato de essas dificuldades atingirem comércio e serviços – responsáveis por mais de 70% das ocupações no território nacional.
Outros pontos podem ser contabilizados, informa Ganz Lúcio, como o término de grandes obras públicas associadas à Copa do Mundo 2014.

Ajuste fora de hora
As medidas de ajuste fiscal, implantadas pelo governo federal no final do ano passado, com o intuito de reduzir a dívida pública bruta federal, o déficit externo e frear a alta inflacionária, são criticadas pelo técnico do Dieese. “Elas visam reequilibrar o orçamento da União, entretanto, à medida que reduzem os gastos governamentais, impactam o nível de atividade, porque o governo compra e contrata menos.”
O técnico faz questão de esclarecer que a alta da inflação não tem a ver com demanda nem está associada ao desequilíbrio das contas externas do País. Para ele, se tivéssemos uma inflação decorrente de um excesso de consumo, frear a economia seria razoável. “Não é nosso caso”, realça.
Ganz Lúcio entende que o Estado brasileiro deveria considerar o cenário geral e reprogramar suas intervenções fiscais. “Não dá para fazer ajuste dessa magnitude num contexto de recessão econômica.” Na sua ótica, cada elemento desses isoladamente não é suficiente para gerar as dificuldades ora enfrentadas. “O problema é que todos estão ocorrendo ao mesmo tempo.” Além disso, lamenta que o Banco Central continue a aplicar uma política monetária perversa à economia do País, “com uma taxa de juros escandalosamente alta, que desestimula o capital produtivo”.
Para a recessão não ser longa e não comprometer o projeto de crescimento sustentável do País, ele defende uma mudança radical na política macroeconômica do governo. “Enfrentamos um processo recessivo por conta, também, de o Estado brasileiro não ter feito as reformas necessárias para sustentar outro nível de desenvolvimento, como a tributária, fiscal, política e, inclusive, da comunicação.” E alfineta: “Vivemos as consequências das decisões tomadas e daquelas que não foram encaminhadas.”

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