Deborah Moreira
Em ato na Capital que reuniu milhares na Avenida Paulista, intitulado “Grito em defesa da indústria e do emprego”, no dia 13 de agosto, trabalhadores e representantes da indústria nacional unificaram esforços para chamar a atenção sobre a desindustrialização e a consequente perda de postos de trabalho no setor. Para economistas e dirigentes sindicais, a atual desaceleração é fruto da opção por juros altos, excessiva carga tributária, câmbio sobrevalorizado e baixo investimento público.
Entre as medidas para alavancar o setor propostas pela manifestação, está mudança na política macroeconômica, com redução da taxa Selic, e adoção de estratégia para se obter industrialização com autonomia tecnológica.
Marco Aurélio Cabral Pinto, professor da Universidade Federal Fluminense (UFF) e consultor do projeto “Cresce Brasil + Engenharia + Desenvolvimento” – iniciativa da Federação Nacional dos Engenheiros (FNE) –, lembra que a economia do Brasil vinha dando certo. Apesar da crise internacional, havia um crescimento duradouro na criação de empregos e combate à informalidade. Agora, para ele, nem mesmo a exportação deve servir como novo motor da industrialização. “O mundo caminha progressivamente para um cenário de instabilidade tanto econômica quanto política e, portanto, não se pode apoiar uma estratégia para o País em um aprofundamento da inserção internacional.” Junto a isso, o grande projeto de criar uma pátria educadora canalizando os recursos do petróleo, especialmente da camada pré-sal, “para a superação de umas das estacas do desenvolvimento brasileiro”, foi interrompido.
Diante desse quadro, na sua concepção, um dos pilares fundamentais para fortalecer a indústria é a adoção de uma estratégia nacionalista. Essa deve reconhecer, considera, em primeira linha, a fragilidade estrutural da balança de pagamentos, a qual se divide em dois: fluxo de capitais e estoques (recursos que entram no País de outras formas, como aquisição de empresas, compra de títulos públicos brasileiros, imóveis etc.), que tornam o Brasil dependente da entrada de capital estrangeiro.
Para tanto, Cabral Pinto defende que seja criada uma “burguesia tecnológica”. “Senão, não teremos empresa de capital nacional, competitiva em escala internacional. Necessitamos ser pioneiros em setores novos”, afirma, citando como exemplo serviços de reflorestamento que, na sua avaliação, serão um grande mercado em escala mundial daqui a 50 anos. Ademais, ele propugna que se eleve o investimento público, a partir de planejamento participativo das populações locais, levando em conta as variáveis mais estratégicas do País hoje, como água.
Cabral Pinto adverte, contudo: “A curto e médio prazo, vamos passar por um sacode financeiro.” Para ele, o principal componente desestabilizador, que obriga a elevação de juros neste momento, é a balança de pagamentos, e não a inflação. “Estamos numa situação de emergência. E chegamos até aqui porque houve um peso excessivo na balança, causado por forças políticas do País”, avalia Cabral Pinto, que condena a atual política de ajuste fiscal, a qual, em sua visão, vai gerar ainda mais desaceleração econômica e desemprego.
Mobilização
Os problemas foram apontados pela Associação Brasileira da Indústria de Máquinas e Equipamentos (Abimaq), que, juntamente com a Força Sindical, União Geral de Trabalhadores (UGT) e Central Geral dos Trabalhadores do Brasil (CGTB), promoveu o ato na principal via da Capital. De acordo com a entidade patronal, o ramo de bens de capital vem perdendo milhares de empregos nos últimos quatro anos – 55 mil demissões desde 2012, sendo 30 mil só entre janeiro e junho deste ano. Atualmente, conta com 7 mil companhias e 330 mil empregos diretos, com carteira assinada. “Há alguns anos estamos alertando as autoridades para o fenômeno da desindustrialização, que ocorre nas últimas duas décadas. No entanto, há uma desaceleração muito grande nos últimos três, quatro anos”, asseverou José Velloso, presidente executivo da Abimaq, presente à manifestação. Ele lembrou que a indústria de máquinas e equipamentos é um termômetro do setor. “Vivemos os últimos quatro anos com seguidas quedas de faturamento, o que denota que a indústria não está investindo. Agora, exaurimos todos os canais. Como última alternativa, nos aliamos aos trabalhadores, que estão sofrendo”, completou Velloso, que atribui a piora da situação a “uma das maiores crises econômicas da história do País”.
Para ele, o Brasil perdeu uma grande oportunidade de, nos anos em que as commodities estavam valorizadas, tornar sua indústria competitiva. Velloso concorda que a atual crise política pode ter alguma influência nos baixos resultados, mas ressalta: “Muito antes já estávamos perdendo. A indústria de transformação saiu de 27% para 9% do PIB.”
As centrais sindicais presentes também apostam na unidade dos trabalhadores e empresários para combater a atual política econômica. Para Miguel Torres, presidente da Força Sindical, somente a mobilização forçará o Congresso a votar projetos que visem a indústria nacional. “É preciso fazer pressão. Por isso, três setores da indústria se uniram neste momento – máquinas, autopeças e aço”, disse ele, durante o protesto.