Sérgio Scuotto
Essas palavrinhas fazem parte de um ideário mundial: Forschung und Entwicklung, Recherche et Développement, Research and Development. Em todos os países, existe a ideia de que essas áreas são intimamente vinculadas, e todos unem as duas expressões, o que leva a crer que estão sempre juntas. Discordamos com certa veemência desse conceito.
Desenvolvimento é uma área que procura otimizar o que já é sabido, o famoso know-how. É aí que se procura melhorar a qualidade dos produtos e reduzir seus custos. Todas essas ações, no entanto, ocorrem com o que já se conhece. Na pesquisa, porém, a tratativa é completamente diferente. Busca-se o desconhecido, ampliar as fronteiras do saber, lançar luz na escuridão.
O Brasil tem grande experiência em desenvolvimento. Sabemos fazer automóveis, trens, aviões, televisões e pizza napolitana. Quanto à pesquisa, o desempenho é pífio. Visto que é necessário investir sem a certeza de retorno, esse esforço fica limitado às ações do Governo e a algumas universidades, o que é insuficiente. Para que se avance, é necessária a participação do capital privado, o que só acontecerá se as empresas tiverem estímulo que faça valer a pena essa aposta.
O Governo tem que rever uma série de atitudes arcaicas, lentas, ineficazes e ineptas. O Poder Executivo deve expandir seus escritórios que tratam da propriedade intelectual para todas as unidades da Federação. A pesquisa tem que ser feita nas diversas áreas do saber, o que inclui a indústria, mas também a saúde, o meio ambiente, a agricultura, a pesca e todo o resto. É tão importante descobrir um novo tipo de plástico industrial quanto novas sementes ou fármacos. Portanto, não há porque manter escritórios somente em Brasília, em São Paulo ou no Rio de Janeiro. Além disso, esses centros devem ser alavancadores de novas ideias. É preciso ir atrás delas e não esperar que cheguem por meio de burocratas a conta-gotas. Portanto, a infraestrutura tem que ser modernizada.
Claro, o Governo de São Paulo tem sua Fundação de Amparo à Pesquisa, mas o resultado ainda é insignificante. A Fapesp não pode dar conta do recado sozinha, pois há muito a descobrir. A velocidade brasileira na pesquisa é quase zero em relação a outros países.
Por isso, voltamos a insistir: a iniciativa privada tem que participar significativamente desse novo rumo. Para isso, o Poder Legislativo precisa editar leis que tragam benefícios a isso. De preferência, deve se tornar mais vantajoso colocar dinheiro nessa área que não o fazer.
Finalmente, há um trabalho de marketing a ser feito fora do País porque nenhum pensador brasileiro tem oportunidade de ter seu trabalho mostrado à sociedade científica mundial através de publicações nacionais. Ou sai no primeiro mundo ou não será valorizado. Mais uma vez, o Governo brasileiro, em conjunto com as associações de cada setor, tem que se mexer para mudar essa situação. As revistas científicas brasileiras precisam ser mais bem aceitas no exterior.
Requer-se, portanto, uma profunda mudança. Isso somente será possível com vontade política e pressão social sobre o poder público. O SEESP tem agido nesse sentido. Esperemos que outras entidades também o façam.
Sérgio Scuotto é diretor da Delegacia Sindical do SEESP no Grande ABC