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MERCADO - Importação de profissionais deve ser descartada

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Soraya Misleh

        Face ao aquecimento econômico vivenciado pelo Brasil nos últimos anos, uma questão tem estado bastante presente na mídia: a ausência de engenheiros para desenvolver o País. A demanda por formar mais e melhores profissionais vem sendo apontada pela FNE (Federação Nacional dos Engenheiros) desde 2006, quando elaborou o projeto “Cresce Brasil + Engenharia + Desenvolvimento” – que propugna por uma plataforma nacional sob o viés da sustentabilidade e conta com a adesão dos sindicatos filiados à entidade promotora do documento, entre eles o SEESP. Quando foi lançado o manifesto, a proposta era de que se duplicasse o número de graduados em engenharia, então limitados a 30 mil ao ano. Em 2009 esse contingente se elevou a 55 mil, mas mantém-se a preocupação com a escassez de mão de obra.

        Diante desse cenário, tem se questionado, entre as providências, a necessidade ou não de importação desse efetivo. O que, para Murilo Celso de Campos Pinheiro, presidente da FNE e do sindicato paulista, é a pior solução entre as aventadas e deve ser descartada. “Tal medida em nada serve aos interesses do Brasil e do seu povo e representa mais saída pontual ao desemprego enfrentado na Europa, sobretudo pelos trabalhadores qualificados”, afirmou.

        Dados gerais do Ministério do Trabalho e Emprego de 31 de dezembro último revelam o crescimento no número de autorizações concedidas a estrangeiros provenientes de países daquele continente nos últimos cinco anos e mesmo dos Estados Unidos. Entre os profissionais com superior completo, os números surpreendem: em 2006, foram 11.976 e, numa progressão acelerada sobretudo a partir de 2008, chegou-se em 2010 a 31.662, quase o triplo.

        Para representantes de setores como consultoria, construção civil e indústria, contudo, a alternativa não é a ideal. Vice-presidente de relações capital-trabalho do Sinduscon-SP (Sindicato da Indústria da Construção Civil), Haruo Ishikawa indica outro caminho, além de formar mais e com mais qualidade os profissionais: valorizá-los. Segundo ele, enquanto isso, a construção civil tem contornado a situação trazendo estudantes para estagiarem no segmento e se formarem internamente. Já a Usiminas optou por abrir oportunidades a recém-formados. Segundo Erica de Cassia Barbosa Marques, especialista em recursos humanos da companhia, o processo seletivo – que incluiu 8.500 candidatos para 80 vagas – realizou-se entre setembro e novembro de 2010 e revelou maior disputa em algumas modalidades – como química e mecânica – do que em outras. “O que fez uma grande diferença nesse processo foi a empresa não ter solicitado experiência profissional.” De fato, aos novos, as chances são grandes. Conforme Bruno de Oliveira Monteiro, professor e coordenador do Núcleo de Estágios do Inatel (Instituto Nacional de Telecomunicações), em média 90% dos alunos dessa escola já saem empregados “no dia da colação de grau”.

 

Investir na formação
        Para além disso, José Ricardo Roriz Coelho, diretor titular do Decomtec (Departamento de Competitividade e Tecnologia) da Fiesp (Federação das Indústrias do Estado de São Paulo), destaca entre as ações necessárias atrair alunos para as escolas de engenharia e retê-los até o final do curso. “Hoje é grande a evasão no segundo e terceiro semestres, em que a carga curricular tem como foco cálculo e matemática e quase apavora. É fundamental promover visitas a fábricas, indústrias, para que o estudante conheça a área em que vai atuar.” Além disso, estudo feito pela CNI (Confederação Nacional da Indústria) elenca outras propostas, tais como: aperfeiçoar os ensinos básico e médio em matemática e física, de modo a estimular os alunos a optarem pela área de exatas; promover a valorização dos profissionais por meio do aumento dos salários nas áreas diretamente ligadas à engenharia; e identificar as especialidades que estão sendo demandadas pela indústria e, ao mesmo tempo, aproveitar a polivalência desse profissional. De acordo com Coelho, o déficit se concentra em projetos para as áreas de petróleo e gás, mineração, infraestrutura e na própria construção civil. Lineu Rodrigues Alonso, vice-presidente de ética e de proteção à consultoria do Sinaenco (Sindicato Nacional das Empresas de Arquitetura e Engenharia Consultiva), enfatizou que a carência de engenheiros na consultoria tem sido notada, dada a redução durante muitos anos nos investimentos em obras e projetos. Como consequência, muitos profissionais aposentados têm retornado ao mercado. Trazer aqueles que, sobretudo nos anos 1980 e 1990, migraram para os setores financeiro e administrativo são outras propostas, indicadas em estudo do Ipea (Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada), publicado em seu boletim Radar (nº 12), de fevereiro de 2011. Na ótica de Alonso, para fazer frente a essa realidade, é fundamental um amplo e vigoroso processo de capacitação de tal mão de obra, como um programa de Estado, não de governo.

 

 

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