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11/05/2021

 

Os 50 anos do primeiro chip brasileiro e a necessidade de avanços

 

O feito admirável do professor João Antônio Zuffo cinco décadas atrás é motivo de orgulho para a engenharia nacional. O retrocesso vivido em C,T&I, com a falta de recursos para pesquisa e a desindustrialização, causa grande preocupação quanto ao futuro do País.

 

Em maio de 1971, o professor da Escola Politécnica da Universidade de São Paulo (Poli/USP) João Antônio Zuffo desenvolveu, no Laboratório de Microeletrônica (LME) que havia sido criado em 1968, o primeiro circuito integrado da América Latina. Conforme ele relata em publicação da universidade, “era um circuito de acoplamento de emissor; continha seis transistores, três entradas e duas saídas”. 

 

Pesquisador brilhante, Zuffo abriu o caminho, com o aperfeiçoamento da tecnologia, para o surgimento de processadores, máquinas de calcular, supercomputadores e a realidade virtual. O professor, que recebeu do SEESP o prêmio Personalidade da Tecnologia em 1991 na categoria “Informática”, construiu um legado fenomenal de conhecimento e possibilidades ao Brasil nessa área. Tem ainda como mérito o fato de seus passos serem seguidos pelo filho Marcello Knörich Zuffo, também professor da Poli, pesquisador de ponta nesse setor, e merecidamente agraciado com a mesma homenagem do sindicato no ano de 2006, em “Inovação Tecnológica”.

 

É certamente motivo de orgulho e comemoração a passagem dos 50 anos desse feito, que colocou o País no rumo do que viria a ser a tônica dominante no século seguinte.

 

Lamentavelmente, contudo, essa vereda não tem sido percorrida como deveria. Sofrendo um processo precoce de desindustrialização, o Brasil está longe de ter uma indústria robusta de semicondutores, apesar do mercado interno gigantesco. Conforme pesquisa divulgada no ano passado pelo Centro de Tecnologia de Informação Aplicada (FGVcia) da Fundação Getulio Vargas (FGV), existem em uso no País 424 milhões de dispositivos digitais – computador, notebook, tablet e smartphone. Neste último especificamente, a quantidade chega a 234 milhões, ou seja, mais de um por habitante.

 

Se for levada em consideração a enorme exclusão digital no Brasil e o crescimento dessa dinâmica com a pandemia de Covid-19, pode-se projetar um universo ainda maior de público consumidor desses equipamentos.

 

É de se perguntar então por que o Brasil não investe decisivamente nessa área cujos componentes são importados, em sua maioria, da Ásia. Para mudar esse quadro, é essencial que haja uma política industrial aliada aos objetivos de desenvolvimento tecnológico que retire o País da situação de dependência praticamente total num campo cada dia mais fundamental a qualquer outro setor. Na contramão dessa meta, infelizmente, uma fabricante nacional de microchips, a Ceitec S.A., ligada ao Ministério da Ciência, Tecnologia e​ Inovações (MCTI), foi incluída em 2020 no programa de privatização do governo federal e entrou em processo de liquidação, sendo hoje incerto seu destino e papel nessa demanda nacional.

 

É urgente mudar esse jogo e agir para que o Brasil tenha independência tecnológica e oportunidades de avanço.

 

 

Eng. Murilo Pinheiro – Presidente

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