Soraya Misleh
Seminário reúne especialistas e representantes do patronato. No púlpito, Murilo Pinheiro. Fotos: Rita CasaroUm ambiente nacional de prosperidade e relativa estabilidade, favorável a bons resultados nas negociações coletivas dos engenheiros deste ano. A análise da conjuntura foi feita pelo consultor parlamentar Antônio Augusto de Queiroz (Toninho) durante o XXIV Seminário sobre Campanhas Salariais. Realizado pelo sindicato, em sua sede, com o apoio do Sistema Confea/Crea e Mútua – Caixa de Assistência dos Profissionais, o evento ocorreu no dia 24 de abril último.
A atividade tradicionalmente se dá ao início das campanhas salariais da categoria. Assim, ao longo de 24 anos, tem pavimentado o caminho do diálogo rumo ao que Murilo Pinheiro, presidente do SEESP, destacou como objetivo: “ganha-ganha” nas negociações coletivas. Ele saudou à abertura a presença dos representantes do patronato nessa busca por aproximação. O entendimento, frisou, é de que “a saúde do engenheiro é a saúde da empresa”, e vice-versa.
Para Toninho, o intercâmbio entre os interlocutores propiciado pelo SEESP com o evento que marca as negociações coletivas, ao longo desse quase um quarto de século, revela “gesto de civilidade entre as duas partes”. Ele complementou: “O objetivo é sensibilizar as empresas a que levem em consideração as reivindicações da categoria com essas características que têm mostrado o equilíbrio nas relações capital-trabalho.”
Conjuntura favorável
A despeito das dificuldades enfrentadas pelo movimento sindical desde a reforma trabalhista (Lei 13.467/2017) e do “cenário global de incertezas e polarização”, Toninho enfatizou que o Brasil se mostra uma espécie de ponto fora da curva em relação ao quadro geral externo, com a governabilidade preservada diante da promoção de reformas tributária e da renda, além de políticas sociais fundamentais para “manter a paz social” e melhores condições de enfrentar os obstáculos globais.
Da esq. para a dir., Toninho, Murilo e Vargas Netto: boas perspectivas e busca por "ganha-ganha".Entre as iniciativas com impactos socioeconômicos positivos, mencionou o programa “Pé-de-Meia”, de incentivo a estudantes matriculados no ensino médio público inscritos na Cadastro Único (CadÚnico); a permissão de acesso a crédito consignado para o setor privado; a liberação do Fundo de Garantia do Tempo de Serviço (FGTS) para quem aderiu ao saque-aniversário; a extensão do Minha Casa Minha Vida para a classe média; o Programa de Regularização de Dívidas e Facilitação de Acesso ao Crédito Rural da Agricultura Familiar (Desenrola Rural) para pequenos produtores; e o Projeto de Lei do Executivo que dispõe sobre isenção de Imposto de Renda a partir do próximo ano para quem ganha mensalmente até R$ 5 mil.
No âmbito do trabalho, elencou a tramitação de duas matérias no Legislativo que devem ser aprovadas: as regulamentações da Convenção 151 da Organização Internacional do Trabalho (OIT) que assegura o direito de negociações coletivas no serviço público e da Contribuição Assistencial para garantir o custeio das entidades sindicais.
Assim, vaticinou: “Não haverá no Brasil recessão, e o mercado de trabalho continuará aquecido. Para a engenharia, as oportunidades de investimentos são enormes, é um país a ser construído, em infraestrutura, logística. Vai atrair cadeias produtivas. As empresas podem ficar confortáveis para promover boas negociações, não há riscos de grandes desorganizações.”
Na mesma linha, o consultor sindical e analista político João Guilherme Vargas Netto saudou a perenidade do evento, frisando que enquanto a realidade global é de graves incertezas, o Brasil enfrenta a imensa contradição entre a conjuntura positiva e a percepção da opinião pública, “em função de confusões deliberadas”.
Nesse sentido, lembrou as grandes dificuldades enfrentadas pelo movimento sindical, em meio ao que classificou de “20 anos de trabalho ideológico que desqualifica seu papel”, cujo apogeu se deu com a reforma trabalhista de 2017. “O acordo da sociedade com o movimento sindical foi rompido com essa ‘deforma’”,salientou.
Vargas Netto foi categórico ao afirmar que o SEESP “tem condições de enfrentar criativamente isso, se soubermos agir com representatividade, democracia, competência e compartilhamento. Vamos nos ajudar mutuamente”, sublinhou. Murilo atestou: “A participação da entidade sindical pode contribuir para um país melhor, com mais oportunidades e mais justo.”
Vozes das empresas
Eugênio Calil Pedro, executivo de Relações Trabalhistas e Sindicais da Empresa Brasileira de Aeronáutica (Embraer), saudou a relação com o SEESP para melhorar a vida do engenheiro e da companhia. “O seminário ajuda muito, conseguem-se melhores resultados”, comentou, fazendo questão de lembrar que participou de todas as edições. Conforme afirmou, “nada se compara a um bom acordo, e a empresa vai fazer de tudo para isso acontecer. Quando se tem a intenção do ganha-ganha, os resultados são melhores”.
Paula Francinete da Silva Meneses (Comgás, à esq.), Eugênio Calil Pedro (Embraer) e Cintia Lípolis Ribera (Fiesp). Advogada do Departamento Sindical da Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp), Cintia Lípolis Ribera também recordou a presença nos últimos anos. “Passamos por dificuldades, mas temos conseguido resultados satisfatórios”, acresentou. E pontuou: “Com um trabalho muito grande em busca de alternativas e novas possibilidades, conseguimos resolver conflitos que aparecem. A expectativa é trabalhar nessa mesma dinâmica para encerrar com a assinatura da Convenção Coletiva.”
“Ao SEESP, só elogios, este é um seminário rico que agrega. Temos um acordo bem robusto, muito bom, com impacto financeiro e segurança para o engenheiro, com certeza faremos a assinatura de mais um. Viabilizar o ganha-ganha é muito importante”, destacou, por sua vez, Paula Francinete da Silva Meneses, do Departamento de Pessoas e Cultura – Remuneração e Benefícios da Companhia de Gás de São Paulo (Comgás).
Outro que saudou a parceria com o SEESP foi Eduardo Gutierrez, da Companhia Paulista de Força e Luz (CPFL), colocando-se “inteiramente à disposição para que saiam boas negociações”, com resultados positivos “para ambas as partes”.
A partir da esq., Eduardo Gutierrez (CPFL), Bruno Pelochs Barbino (Autoridade Portuária de Santos) e Johnson Souza Nascimento (CET).Já Bruno Pelochs Barbino, gerente de Carreira e Capacitação da Autoridade Portuária de Santos (APS), trouxe como novidade favorável a autonomia da empresa pública federal em relação ao governo para negociar. Além disso, frisou a previsão de R$ 21 bilhões em investimentos em infraestrutura no próximo quadriênio pela companhia, a qual assumiu recentemente a gestão também do Porto de Itajaí (SC). Assim, vislumbra oportunidades aos engenheiros.
Tendo participado também de muitos seminários, Johnson Souza Nascimento, diretor de Representação da Companhia de Engenharia de Tráfego (CET) eleito pelos empregados, igualmente ressaltou a boa relação com o SEESP. “Recentemente implementamos o piso do engenheiro e temos esperança de que neste ano a negociação será bem melhor.”
Márcio Aparecido Afonso (Telefônica Brasil), Filipe Ferreira Domenes (SPTrans, ao centro) e Rita de Cássia Rievert Pereira Souza (Emae).“Sempre conseguimos acordos bons com o sindicato. Desde que iniciamos as negociações com o SEESP, temos uma relação bem madura”, elogiou Márcio Aparecido Afonso, gerente de Relações Trabalhistas e Sindicais da Telefônica Brasil S.A.. Também veterano nos seminários anuais, ele sublinhou, como reflexo dessa parceria bem-sucedida, a operacionalização pela companhia do recolhimento da Contribuição Assistencial como contrapartida à entidade, aprovada em assembleia da categoria.
Para Rita de Cássia Rievert Pereira Souza, gerente de Gestão de Pessoas da Empresa Metropolitana de Águas e Energia (Emae), ainda, as negociações com o SEESP são “sempre muito assertivas”. A vontade, como asseverou, é “trazer melhorias para o nosso time”.
Compartilhou sua vivência nas negociações com o SEESP, também, Filipe Ferreira Domenes, gerente de Desenvolvimento de Recursos Humanos da São Paulo Transporte (SPTrans). “É sempre importante olhar para trás e ver o histórico de conquistas, o quanto faz diferença na vida de cada um”, comemorou, lembrando que quando o empregado se sente valorizado a produtividade melhora.
“Essa sinergia é necessária, a conversa é sempre o melhor caminho”, observou Eric Tadao Pagani Fukai, Relações Trabalhistas e Sindicais da ISA Energia Brasil. Ele também valorizou a importância do sindicato para a melhoria das condições laborais e de vida dos trabalhadores. “Tem que aprimorar essa relação, estar aberto. Contem comigo para essa negociação”, afirmou.
Da esq. para a dir., André Fernando Simon Azevedo (Sabesp), Eric Tadao Pagani Fukai (ISA Energia Brasil), Marcio Pimentel da Silva (CDHU) e Odirlei Sertório (Enel Distribuição São Paulo).Participando pela primeira vez do seminário, Marcio Pimentel da Silva, representante do Departamento de Gestão de Pessoas da Companhia de Desenvolvimento Habitacional e Urbano (CDHU), lembrou que a empresa foi quase extinta no governo anterior, mas essa medida felizmente não foi à frente. “A CDHU ganhou agora grande visibilidade, e neste ano creio que teremos negociações bem felizes para todos”, prospecta.
Sua visão otimista se fundamenta em iniciativas em curso na companhia: “Estamos implantando neste momento, após muito tempo, o Plano de Empregos e Salários, com valorização da mão de obra. E posteriormente será publicado concurso público, a princípio para preenchimento de 396 novas funções, com 55 novos engenheiros para agregar e trazer mais conhecimento para a companhia”, informou, enfatizando que a CDHU, entre muitas empresas estatais, cumpre com o pagamento do piso da categoria.
Também pela primeira vez à mesa, Odirlei Sertório, do Departamento de Recursos Humanos da Enel Distribuição São Paulo, foi categórico: “Ganha-ganha é o que se busca.” Marcou presença no seminário, ainda, André Fernando Simon Azevedo, do Departamento de Relações do Trabalho da Companhia de Saneamento Básico do Estado de São Paulo (Sabesp).
Confira o XXIV Seminário sobre Campanhas Salariais na íntegra:
Imagem de capa - Fotos: Rita Casaro | Arte: Eliel Almeida