Nestor Tupinambá
“Doutor de anedota e de champanhota, estou acontecendo num café soçaite.
Só digo enchanté, muito merci, all right...”
Trecho da música “Café Soçaite”, de Jorge Veiga
O cantor e compositor brasileiro Jorge Veiga (1910-1979) fez muito sucesso em 1957, no Rio de Janeiro, com a música “Café Soçaite”, satirizando as frivolidades do chamado "café soçaite".
Como Hugo Motta rima com champanhota, a antiga canção veio à tona. Mas não só pela rima. Também pela alta frequência dele, que é presidente da Câmara dos Deputados, em festas da alta sociedade. Seja em 2 de junho último, ao participar do Fórum Jurídico de Lisboa, em Portugal, viajando por jato da Força Aérea Brasileira (FAB), seja em jantares com empresários em Nova York e patrocinado pela Refit, empresa líder entre os devedores de Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Serviços (ICMS).
Em junho, ainda, o parlamentar participou da Festa de São João, na Paraíba, onde foi flagrado tomando um malte escocês pelo gargalo, mostrando que escassez não passa por ele.
Mais ao final do mesmo mês, esteve em São Paulo, onde a Lide, empresa do ex-governador de São Paulo João Dória, homenageou-o, em conjunto com o atual governador Tarcísio de Freitas. Foi, então, proclamado como o “Herói do Brasil” pelos empresários.
A lista de festas e custos dessas participações – todos altíssimos – é extensa. E enquanto usufrui das benesses como parlamentar, Motta lidera, no Congresso Nacional, o corte de programas sociais do Executivo.
Ao tempo que se reúne com empresários e se diverte junto à alta sociedade, nós, trabalhadores, sindicalistas, povo, somos barrados. Não somos convidados a qualquer encontro pelo presidente da Câmara. Isso apesar de representarmos, em número e em produção do PIB, a grande maioria da população – mais de 100 milhões.
Não merecemos participar de um encontro, ter espaço para apresentar nossas reinvindicações e desafios, enfim, ter algum diálogo e intercâmbio de conhecimentos? Será que o deputado Motta sabe de nossas agruras? Sindicatos asfixiados pelo financiamento vetado, projetos de lei que atentam contra nossas profissões, diminuindo possibilidades, segurança do trabalho em declínio pela terceirização sempre em alta, perda de antigos direitos trabalhistas, demissões crescendo pela automação?
Merecemos atenção e ter o direito de apresentar nossas demandas, que são, nada mais, nada menos, as necessidades do País. O Brasil só retomará o desenvolvimento com todas as partes sendo ouvidas. Com a discussão de nossas reinvindicações.
Nestor Tupinambá é diretor adjunto do SEESP
Imagem: Freepik/Arte - Fábio Souza / Foto Nestor Tupinambá: Acervo SEESP