Soraya Misleh
Como parte dos eventos preparatórios à 5ª Conferência Nacional das Cidades, a se realizar em novembro próximo, em Brasília, ocorreu em 11 de junho, na sede do SEESP, na Capital paulista, o Seminário Internacional Brasil-Estados Unidos sobre Transporte Público nas Regiões Metropolitanas. Com o objetivo de promover a troca de experiências entre os dois países, a iniciativa foi organizada pelo PNUD (Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento), o Senado Federal, a CDU (Comissão de Desenvolvimento Urbano) da Câmara dos Deputados, os governos paulista e brasileiro, a Frente Nacional dos Prefeitos, a APA (American Planning Association), entre outros.
Membro da CDU, o deputado federal José de Filippi Jr. (PT-SP) afirmou: “Mobilidade urbana é um problema tão complexo que requer a cooperação de todos.” Assim, apontou a necessidade de as diversas instâncias governamentais dialogarem em busca de soluções, o que foi corroborado por Edson Aparecido, secretário estadual de Desenvolvimento Metropolitano de São Paulo. Colega seu na comissão da Câmara, o parlamentar William Dib (PSDB-SP) enfatizou: “Há muito nas regiões metropolitanas esse passou a ser o problema número um e será o grande tema da Conferência das Cidades deste ano.”
Como lembrou a senadora Marta Suplicy (PT-SP), nessas localidades (41 em todo o País), residem mais de 100 milhões de brasileiros. A de São Paulo, com seus 39 municípios, é a mais rica. A despeito disso, o Estado como um todo vem perdendo investimentos, dado o alto custo do transporte. “Temos que pensar em solução de massa, sistema inteligente de integração de diversos modais, planejamento metropolitano e desenvolvimento descentralizado. Cinco milhões de pessoas moram na zona leste, tem que garantir emprego lá.” Além disso, na sua opinião, é preciso promover campanha de uso racional do transporte individual. Presidente da ANTP (Associação Nacional de Transporte Público), Ailton Brasiliense foi categórico: “Temos os conceitos básicos para consertar o que erramos em 40, 50 anos. A solução tem que partir dos governos e da sociedade.” Para o presidente do SEESP, Murilo Pinheiro, um caminho é a integração metropolitana. Também participaram da abertura do seminário os diretores da APA, Jeff Soule, e do CAU-SP (Conselho de Arquitetura e Urbanismo), Claudio Mazzetti.
Los Angeles e Portland
As saídas buscadas para os problemas de mobilidade enfrentados nas duas cidades dos Estados Unidos foram apresentadas por Robin Blair, diretor executivo de ações estratégicas da Autoridade Metropolitana de Transportes de Los Angeles, Califórnia; Irving Taylor, vice-presidente da TranSystems Planejamento; e Gil Kelley, professor e pesquisador da Universidade Estadual de Portland, Oregon. O primeiro ponderou que sua região enfrenta os mesmos problemas que São Paulo. E na busca de soluções, criou-se a autoridade de transporte metropolitano. Para os investimentos que passaram a ser feitos em diversos modais, “o cidadão resolveu contribuir com impostos adicionais”. Uma das alternativas foi dotar Los Angeles de 3.400 ônibus expressos, seguindo modelo de Curitiba, Paraná. Além disso, ampliar a malha metroferroviária, ciclovias e faixas exclusivas para carros com número superior de pessoas, estimulando a carona solidária. Está ainda sendo instituído o pedágio urbano. “Vinte e dois milhões de pessoas vivem na Califórnia do Sul, sendo que cerca de 2 milhões utilizam o transporte público. Nosso objetivo é incluir mais 3 milhões no sistema, ao que precisamos de mais integração. Também temos que incrementar a infraestrutura local”, contou Blair.
Em matéria de mobilidade, alguns especialistas presentes ao seminário apontaram que Portland seria referência nos Estados Unidos, em que a prioridade é ao transporte individual. Conforme Kelley, a saída foi integrar os planos de uso da terra e transporte. A partir daí, foi dada ênfase a rotas de pedestres e ciclovias, bem como ao desenvolvimento de novas linhas metroferroviárias e a aproximar o emprego da moradia. Também com o transporte sob comando de uma autoridade metropolitana, segundo o professor, a cidade não constrói uma nova rodovia desde 1970.