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31/05/2016

Caos na infraestrutura afeta diretamente qualidade da banda larga

É caótica a situação atual da infraestrutura da banda larga no Brasil. Não há planejamento integrado entre as diversas estruturas de redes de telecomunicações, obras são feitas aleatoriamente resultando em um subterrâneo totalmente congestionado, com cabeamentos fora dos padrões. De acordo com o consultor Marcius Vitale, esse é o retrato nas grandes cidades e que dificulta a implementação de mais cabos de fibra ótica para melhorar o sinal da internet. Além disso, o que já está vem sendo implantado está sendo feito de maneira errada, com curvaturas e emendas que afetam diretamente na qualidade da banda que passa pelos cabos.

Foto: Beatriz Arruda/Imprensa SEESP
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Além de ser um trabalho que requer alto investimento, demanda treinamento adequado e integração entre as redes, uma vez que não há mais espaço para remanejamento do aéreo para o subterrâneo.

“Fico apavorado como nada que está sendo feito, está sendo feito de maneira a melhorar o cenário. Aliás, esta piorando a olhos vistos. Sai governo, entra governo, e continua se deteriorando. Me preocupa é que se lança satélite, cabo ótico submarino, que é importante, sem dúvida, mas não está se dando atenção ao que chamo de câncer, que é a situação atual da estrutura de rede, que vem sendo mal implantada há anos”, afirmou Vitale, durante o debate “Banda Larga versus Infraestrutura Nacional Precária”, promovido pelo Conselho Assessor de Comunicação e Telecomunicação do Conselho Tecnológico do Sindicato dos Engenheiros no Estado de São Paulo (SEESP), na quarta-feira (25/5).

O engenheiro eletricista, especialista em telecomunicações, vem colecionando há anos fotos que faz de serviços mal feitos, verdadeiros flagrantes do descaso das concessionárias e empresas terceirizadas que atuam no setor. Ao som da música "Brasil", do cantor e compositor Cazuza, ele exibiu parte de sua coleção de registros que chamou de “circo dos horrores”.

Ainda de acordo com sua avaliação, todas as fases de um projeto de engenharia não estão sendo respeitadas: treinamento, planejamento, projeto, especificação de material, implantação, fiscalização e desempenho em campo para acompanhar a eficiência da rede.

“O que temos hoje é treinamento da mão de obra inexistente, planejamento falho, projetos ruins, especificação de materiais fraca, implantação deficiente ou péssima, fiscalização inexistente, manutenção sofrível, desempenho de produto inexistente, e segurança pífia, a norma NR 10 totalmente esquecida”, lamenta Vitale, lembrando que tudo isso afeta diretamente a qualidade dos serviços prestados pelas operadoras e provedores de internet. "Um provedor que tem direito a passar um cabo também não consegue fazer devido a essa balbúrdia", completou.

Ao ser questionado sobre qual a solução para a qualidade da banda larga, cujo consumo vem crescendo vertiginosamente nos últimos anos, Vitale enfatizou que a única solução é a instalação dos cabos de fibra ótica e que é preciso uma revisão sobre tudo o que vem sendo feito, além do compartilhamento da infraestrutura, já previsto em resoluções existentes como da Aneel. Ele lembrou que em países desenvolvidos as empresas e concessionárias dividem galerias subterrâneas e até mesmo dutos antigos, que não são mais usados, de empresas do setor elétrico, por exemplo, que podem ser cedidos para novos cabeamentos. E tudo feito de forma supervisionada.

“O que vai por cima, 2G, 3G, 4G, satélite, tem limitação. Isso se chama espectro de frequência, que tem um limite, com bandas separadas. Por mais que você queira digitalizar e criar novos espectros, é algo finito. A única formas de se fazer esse tráfego ser infinito ou que fique extraordinariamente grande é a fibra ótica. A transmissão de sinal de luz permite que, se for bem construído, permite a transmissão de grandes faixas, grandes bandas. É como ter uma Rodovia dos Bandeirantes no lugar de uma estrada de terra”, explicou.

Privatização
Ele também lembrou que apesar de muito dos problemas já estar no subsolo, em cidades menores (e também em grandes), a situação nos postes de energia não é diferente. Ele diz que depois do fim do sistema Telebrás, com a privatização na década de 1990, os processos de padronagem não continuaram sendo respeitados. “Anteriormente à privatização quando tinha a Telebras, tínhamos os padrões. Existiam problemas, mas havia um padrão técnico que era cumprido. Agora, além da poluição visual devido ao excesso de fios, falta segurança para os técnicos trabalharem”, lembrou.

A terceirização das empresas que realizam esses serviços também foi lembrada pelos presentes, lembrando que vem aumentando o número de acidentes e mortes no trabalho.

Marcelo Zuffo, professor do Departamento de Engenharia de Sistemas Eletrônicos da Escola Politécnica da USP, que coordenou a atividade, lembrou que o projeto da privatização era bom, dentro de uma lógica do capital, mas que o papel do estado, de regular os investimentos em infraestrutura, não foi cumprido. “Demos uma guinada muito liberal na época e criou-se essa situação de total desrespeito com relação à infraestrutura, e isso ocorre em todos os setores que foram privatizados. Todos estão ruins”, avaliou Zuffo.

Outro ponto colocado pelo professor da Poli é o papel que o engenheiro deve desempenhar na sociedade, de ver algo que não está bom e que ele comunique a alguma autoridade competente, como o Ministério Público. Como ferramenta, ele sugere que os profissionais utilizem Anotação de Responsabilidade Técnica (ARTs) – concedidas aos engenheiros e arquitetos por meio dos CREAs.

“Houve um ‘despoder’ dos engenheiros. E não só no setor público, mas profissionais de multinacionais também se queixam afirmando que empresas viraram financeiras, que um advogado ou contabilista tem maior importância do que um engenheiro”, observou Zuffo, que sugeriu, juntamente com todos presentes, a criação de um grupo e trabalho para preparar uma proposta de um projeto estruturante para o setor.

Em sua fala de abertura da atividade, Zuffo também fez duras críticas a junção do Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação (MCTI) com o Ministério das Comunicações (MC). Confira aqui.


Deborah Moreira
Imprensa SEESP





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